França: Extrema-direita “às portas do poder” leva milhares de pessoas à rua em protesto
Após os resultados da primeira volta das eleições legislativas em França, em que o partido União Nacional (RN) liderou com cerca de 33% dos votos, na imprensa foram muitos artigos editoriais preocupados com “o fim de uma era” e com uma extrema-direita “às portas do poder”.
“A União Nacional (Rassemblement National, em francês) está às portas do poder”, lê-se no jornal Aujourd’hui en France, que, acompanhada por uma imagem da testa do líder do partido, Jordan Bardella, avisa que as projeções apontam que a Extrema-Direita deverá ficar “perto de atingir a maioria absoluta” na segunda volta.
Este jornal, qualifica a decisão do presidente francês, Emmanuel Macron, de dissolver a Assembleia Nacional como “um desastre autodestrutivo”.
“É o fim de uma era”, concorda o jornal económico Les Echos, que, na sua capa, fala numa União Nacional “em posição de força” porque os “eleitores ‘macronistas’ terão dificuldade em dar os seus votos à esquerda”.
Perante este cenário, são vários os jornais que pedem que a coligação presidencial faça um apelo, sem ambiguidades, a que os seus eleitores votem num candidato de esquerda na segunda volta para impedir a Extrema-Direita de aceder ao poder.
O Le Monde, num editorial com o título “a urgência de uma frente republicana”, lamenta que, na noite de domingo, vários responsáveis políticos da maioria presidencial tenham sido ambíguos nesse apelo, dando o exemplo do ex-primeiro-ministro Edouard Philippe, que defendeu que “nenhuma voz deve ir para os candidatos da União Nacional nem para a França Insubmissa”.
“Perante a gravidade da situação, este tipo de subtilezas são imperdoáveis: contribuem para banalizar o voto na Extrema-Direita, numa altura em que temos muito pouco tempo para tentar construir um último sobressalto, mobilizando todos os eleitores comprometidos com a República”, lê-se.
Também o jornal de esquerda Libération defende que “só uma frente republicana poderá impedir o pior”, puxando para a manchete o título “depois do choque, unir-se em bloco”, com uma imagem a preto e branco de Bardella.
“O chefe de Estado atirou a França para debaixo do camião, que está agora estacionado à frente da porta de Matignon [residência oficial do primeiro-ministro], à espera tranquilamente pela segunda volta. A única maneira de lhe fazer frente é criando uma frente republicana para a esquerda”, defende o partido.
Também o jornal comunista L’Humanité considera que é agora necessário “fazer frente”, acrescentando que só “um sobressalto republicano pode impedir a Extrema-Direita de aceder ao poder”.
O jornal católico La Croix salienta que, apesar de a primeira volta se ter traduzido numa “derrota pessoal” para Emmanuel Macron, ainda pode “surgir, de entre o meio da desordem actual, uma maioria que esteja à altura dos valores da República”.
Um dos problemas para convencer os eleitores ‘macronistas’ a participar nessa frente republicana é a personalidade do líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que, segundo o La Croix, “faz figura de espantalho” para vários eleitores.
No editorial, com o título “tragédia francesa”, o Le Figaro é muito crítico da decisão de dissolver a Assembleia Nacional, considerando que se traduziu num “desastre”.
A revolta deu ainda origem a manifestações por todo o país. Pelo menos 4.000 pessoas saíram às ruas de Paris, numa manifestação organizada pela Nova Frente Popular. Esta contou com intervenções de dirigentes de todos os partidos, entre os quais Jean-Luc Mélechon, e o secretário nacional do PS francês, Olivier Faure.
Foram também registadas manifestações nas cidades Lyon, Rennes e Estrasburgo.