IRONBOUND: Liceu “East Side” arranca ano lectivo com novo director e mais de 2 300 alunos matriculados

POr HENRIQUE MANO | News Editor

Esta semana, mais de 2 300 alunos começaram a ocupar as salas de aulas do Liceu “East Side”, no coração do bairro mais português de Newark. O ano lectivo 2022/23 arranca, no maior liceu da maior cidade do estado de New Jersey, quase como sempre sucede desde 1914 – altura da sua criação. Com um pequeno-grande detalhe: no gabinete de director (“principal”), senta-se agora o espanhol-americano Carlos Rodriguez, de 41 anos, que, ao substituir o português Mário Santos, se tornou no 18.º director na história do “East Side”.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Fachada do Liceu “East Side” virada para a Pulaski Street

A subida a “principal” de Rodriguez, que nasceu em Newark filho de emigrantes galegos da região de Coruña, Espanha, marca o início de uma nova era no Liceu “East Side”, que estava sob comando de Santos desde 2015. Numa entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO, o novo “principal” garante que vai dar continuidade a grande parte dos programas que herdou da anterior administração, incluindo o clube de lusófonia “Os Académicos” e o ensino de português a contar para o currículo académico. Vai tentar, contudo, imprimir a sua marca às decisões tomadas doravante.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | O novo “principal”, Carlos Rodriguez, sucede ao português Mário Santos; é filho de emigrantes de Espanha

Apesar de ter crescido e vivido em Newark do Norte até aos 27 anos (“altura em que casei e nos mudámos para o Ironbound”), Carlos Rodriguez considera-se um produto do Bairro Leste. Fluente em espanhol, galego e português, fez o ensino secundário na St. Benedicts Preparatory High School, formando-se posteriormente em gestão de empresas pela Kean University.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Carrinha de transporte de alunos dop Comité Escolar de Newark estacionada junto ao liceu

Apesar de, à altura, ainda ter pensado numa carreira na área financeira, Carlos Rodriguez acabaria mesmo por se tornar professor temporário (“substitute teacher”) na Weequahic H.S., no Bairro Sul da cidade, onde esteve uma década. “Uma vice-directora na altura convenceu-me a seguir na profissão, pela forma como interagia com os alunos, e resolvi então continuar na carreira”, conta Rodriguez.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | O nova director, Carlos Rodriguez, no interior do liceu

A convite do ex-“principal” Mário Santos, em 2014 entra para os quadros do “High School”, afecto à área de tecnologia. “Com o passar dos tempos, fui acumulando mais responsabilidades, passando por diferentes áreas escolares, incluindo na implementação de medidas disciplinares”, diz. “De 2014 a 2018, conseguimos operar mudanças dramáticas no liceu, que passou de escola a absorver alunos meramente porque viviam no Bairro Leste a escola de opção.”

Na mesma janela de tempo, o “East Side” passaria de 1 600 para os mais de 2 300 alunos que hoje tem matriculados.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | O “East Side” tem mais de 2 300 alunos matriculados para este ano lectivo

“Nunca me passou pela cabeça chegar um dia a director”, garante Carlos Rodriguez, que tem sob sua alçada 5 vice-directores, incluindo o luso-descendente Anthony Tavares. “Sempre gostei de dar aulas e de estar com os alunos. Apesar do factor sorte também contribuir, creio ter chegado aqui graças à minha ética de trabalho e ao meu profundo envolvimento comunitário.”

Para aprimorar o currículo e poder ascender na carreira, voltou para a universidade e obteve certificação para chegar a vice-director.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Carlos Rodriguez passou de vice-director a “principal”

Para gerir o “East Side”, Rodriguez conta com um orçamento de 20 mil milhões de dólares, que ajudam a remunerar os seus 156 educadores, num total de 250 funcionários. Como termo de comparação, o director lembra que o estado de New Jersey investe em média 21 mil dólares em cada aluno que forma a nível liceal no sistema público; no “East Side”, esse número baixa para os 9 mil.

Nota Rodriguez: “O “East Side” é muito mais que um simples espaço físico onde os seus alunos aprendem a matéria e voltam para casa. Há que entender que esta escola representa muito mais, é um ponto de encontro comunitário onde os alunos – muitos provenientes de lares com poucos recursos – têm acesso gratuito a programas de desporto, linguísticos, artes, etc. Queremos abrir as nossas portas a toda a gente e temos muito orgulho da nossa natureza multicultural.”

Sobre o português Mário Santos, diz ser – mais que um amigo, “um mentor. Sempre me disse que iria ter de, como “principal”, tomar decisões difíceis, mas que, se fossem as mais certas para os alunos, então à noite dormiria com a minha consciência tranquila. Aconselhou-me a ser eu próprio, a assumir a liderança e a preparar os vice-principais para virem um dia a ser também directores. O Mário, para mim, está sempre à distância de uma chamada.”

🌐QUE PRIORIDADES PARA O “EAST SIDE”?

Perguntámos a Carlos Rodriguez quais seriam as necessidades mais prementes que enfrenta o liceu, neste momento. A resposta não se fez esperar: “Novas instalações com melhores infra-estruturas. Atendendo ao número de alunos que temos e às actividades extra-curriculares, seria mesmo isso. Este edifício já tem muita idade e a nossa equipa de basquete, por exemplo, que já conquistou muitos campeonatos, dispõe de um ginásio que não acomoda sequer o número de espectadores que seria desejável.”

O director está ciente que “seria pedir muito, seria algo que, a curto prazo, não se poderia fazer. Mas já se fala numa nova casa para o “East Side” há vários anos e sou mesmo de opinião de que a ideia deveria ir para a frente.”

Rodriguez lembra ainda que os alunos precisam igualmente de infra-estruturas comunitárias cobertas no Bairro Leste que os acomode em actividades extra-curriculares positivas, nomeadamente o desporto, durante o inverno. “O ex-vereador Augusto Amador chegou a trabalhar num projecto nesse sentido”, afirma. “É que Newark é a minha vida.”