João Gomes Cravinho: Um pouco mais sobre a vida, o percurso e as experiências do actual Ministro dos Negócios Estrangeiros português

Por: ANGÉLICA PINTO | Nova Iorque

João Gomes Cravinho é actualmente o Ministro dos Negócios Estrangeiros português, sendo responsável por esta pasta desde 2022, mas nem sempre ocupou este cargo. No decorrer da sua mais recente visita aos EUA, o jornal LUSO-AMERICANO teve a oportunidade de conversar com o mesmo e saber um pouco mais do seu percurso e experiências.

Ser Ministro dos Negócios Estrangeiros é “ser confrontado com realidades completamente diversas”. “Durante um só dia podemos lidar com um variado leque de temas diferenciados, desde cultura, ambiente ou conflitos como os que acontecem actualmente na Ucrânia e Médio Oriente”, mas é exactamente isto que fascina João Gomes Cravinho.

O seu “dia-à-dia começa cedo e acaba tarde”, muitas vezes com fusos horários diferentes. Apesar de ser “fisicamente extenuante” é também “profundamente gratificante”, principalmente quando vê que Portugal é, no que toca á política externa, muito respeitado devido à sua forma de estar enquanto país.

“Nem todos concordam com o que dizemos mas temos uma posição que é prestigiada” criando facilmente alianças positivas nos mais variados temas.

Considera que “quando estamos confortáveis com o mundo que nos rodeia, os nossos interesses ou valores são protegidos e promovidos”.

Natural de Lisboa, Cravinho fez os seus estudos em Inglaterra, onde se formou em Relações Internacionais pela London School of Economics, e se doutorou em Ciência Política pela Universidade de Oxford. Desde criança que estas temáticas lhe interessavam e faziam parte das suas “preocupações centrais”, no entanto, confessou que a carreira política nunca lhe passou pela cabeça, assim como à grande parte dos Ministros que chegam a este cargo “quase como por acaso”.

“Eu estudei para ser professor universitário” confessa, tendo começado a sua carreira profissional exactamente por aí. Mas como uma forma “de exteriorizar algumas ideias”, começou a escrever alguns artigos para um jornal, levando-o a ser desafiado “na altura por Jaime Gama (Ministro) e por Luis Amado (Secretário de Estado), a trabalhar no Ministério dos Negócios Estrangeiros”.

Ocupou o cargo de Secretário de Estado durante seis anos (de 2005 a 2011), tendo sido posteriormente Embaixador da União Europeia em países como a Índia (2011- 2015) e o Brasil (2015-2018). Encontrava-se neste último país quando recebeu o convite do Primeiro-ministro António Costa para ser Ministro da Defesa, cargo que ocupou de 2018 até 2022.

“Tive um processo de aprendizagem e exercício das funções, muito gratificante, durante três anos e meio” que terminaram com a sua nomeação para Ministro dos Negócios Estrangeiros, graças à candidatura de Augusto Santos Silva à presidência da Assembleia da República.

“Há muitas casualidades que aparecem. Se há uma coisa que poderia aconselhar a alguém que tem a ambição de ser Ministro dos Negócios Estrangeiros é não se preocupar muito com o planeamento. Faça o seu trabalho, faça o melhor que sabe. Eu acho que o mundo nem sempre é justo a curto prazo mas tende a ser justo a longo prazo. O trabalho sério, empenhado e profundo ao longo de muitos anos, acaba por produzir resultados que queremos”, declarou.

O período em que viveu e trabalhou na Índia e no Brasil preparou-o para o cargo que hoje ocupa, pois, teve “uma experiência que as pessoas normalmente não têm”, incluindo até alguns dos seus colegas europeus.

“Foi um privilégio e que me permite, de algum modo, ter um olhar que não é exclusivamente apenas europeu. Nós portugueses temos essa facilidade (de adaptação), está um pouco no nosso ADN ”, explicou.

Entre os momentos mais marcantes do seu trabalho destacou a sua primeira visita à Ucrânia, quando esta já se encontrava em conflito com a Rússia. Não sentiu um povo com medo, como seria de se esperar dadas as circunstâncias do momento, mas sim “um povo com uma determinação profunda”. “Desde o presidente Zelensky, ao meu homólogo, outros membros do governo com quem estive, e sobretudo, o povo na rua. Isso marcou-me muito. Acho que isso ajudou-me a assumir uma posição clara sobre aquilo que deve ser a nossa postura (enquanto país)”, completou.