JÚBILO E NUNO AFONSO: UMA HISTÓRIA DE SUCESSO EM NEW JERSEY QUE REMONTA A TRÁS-OS-MONTES

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

No início da década de 70, o emigrante Luís Afonso trocou a freguesia de Santo Estêvão, concelho de Chaves, pela aventura da emigração – rumo aos Estados Unidos. A mulher, Maria Lopes Afonso, juntar-se-lhe-ia tempos depois; os Afonso, casados em Trás-os-Montes, viveram a primeira parte da sua epopeia americana no estado de New Hampshire, mas seria na cidade de Elizabeth, em New Jersey, que teriam os dois filhos – Nuno e Júbilo – e ganhariam raízes. O nome de família é hoje uma referência não apenas no meio português, como na sociedade em geral; um dos filhos, Júbilo, não apenas se tornou no segundo juiz municipal de origem lusa na história da cidade de Elizabeth (e actualmente em funções), como a firma de advocacia de ambos os filhos conquistou nome e prestígio, agora com 15 anos de presença na Elizabeth Avenue a servir a comunidade.

Os irmãos Nuno, 43 (dir.) e Júbilo, 37, nasceram e cresceram em Elizabeth, onde também fizeram os estudos secundários

A PRIMEIRA GERAÇÃO QUE CHEGA À UNIVERSIDADE

Os irmãos Nuno, 43, e Júbilo, 37, nasceram e cresceram em Elizabeth, onde também fizeram os estudos secundários. Foi no último ano da Pace University, em White Plains, NY, que Nuno Afonso optou por seguir Direito. “Cheguei à conclusão que era uma actividade em que poderia ajudar as pessoas”, diz, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO.

Já o irmão Júbilo, influenciado não apenas por Nuno “mas igualmente por outras figuras que, para mim, eram exemplos a seguir na comunidade – Tony Monteiro, Manny Grova, Alcides Andril, entre outros, e também fascinado pela complexidade do sistema judicial”, cedo descobriu que os meandros da lei eram para si. “Olhava para aquelas figuras pioneiras e percebia como, com o seu trabalho, iam marcando a diferença na comunidade”, nota Júbilo Afonso. “Quando as pessoas tinham um problema, procuravam um destes advogados. Gostava disso e sabia que também queria fazer o mesmo.”

Forma-se pela Faculdade de Direito da Seton Hall University, em Newark, e não tardaria muito entraria – à semelhança de Nuno – para a Ordem de Advogados de New Jersey. “Fomos os primeiros membros da nossa família imediata a obterem formação superior”, nota.

A AFONSO & AFONSO ATTORNEYS AT LAW

Criada em 2016, a sociedade entre irmãos prosperou, conquistou experiência e hoje concentra a sua actividade basicamente na área da compensação laboral e acidentes de trabalho. “Descobrimos o nicho em que somos mais competentes e de que gostamos e resolvemos concentrar-nos nele”, explica Nuno Afonso. “Muito embora a grande maioria dos nossos casos chegue a uma solução prévia, também vamos a tribunal quando necessário.”

O envolvimento de Júbilo Afonso com a vida portuguesa acontece ainda no Liceu de Elizabeth, onde se junta a um grupo de alunos de origem lusa. “Depois comecei a frequentar o PISC com o meu pai até que um dia lhe pedi emprestado o cartão de sócio de acesso à sede e comecei a ir sozinho”, conta. “Nunca mais deixei o clube.”

O rapaz que frequentava o PISC para estar próximo das raízes chegaria a presidente da colectividade (no biénio 2008/9) e ocuparia ainda vários outros cargos directivos; hoje é presidente da Mesa da Assembleia Geral e esta no comité organizador dos festejos do centenário do PISC.

A AFIRMAÇÃO DA IDENTIDADE LUSA

“Estou a tentar passar o mesmo aos meus filhos, levo-os ao clube e noto que gostam de lá estar e de conviver com outras crianças”, diz o advogado. “O PISC foi sempre um ponto de encontro familiar; estávamos em processo de pô-los no rancho quando a pandemia surgiu.”

A chegada dos 100 anos do clube “faz-me lembrar todos os sacrifícios por que passaram os pioneiros que fundaram o PISC e aqueles que lhes deram continuidade, ao longo destas décadas”, continua Júbilo Afonso. “Juntaram-se em nome da afirmação de uma identidade cultural, de valores comuns – o mesmo propósito, afinal, que também nos norteia a nós. Um sentido de orgulho muito acentuado, através do qual vamos mantendo as nossas tradições.”

Os Afonso têm a convicção de que “os muitos sacrifícios” feitos pelos pais ao emigrarem e mesmo já na América não foram em vão. “Acreditamos que revejam em nós e naquilo em que nos tornámos a realização do seu sonho americano”, concorda Nuno Júbilo. “Não apenas pela nossa trajectória profissional, mas pelo conceito de família que abraçámos.”

O pai, 78, trabalhou num armazém para sustentar a família; a mãe, 73, foi dona-de-casa e cuidou dos filhos. “Conviviam no meio português e não aperfeiçoaram o seu inglês”, acrescenta Júbilo Afonso. “Ainda hoje são um pilar nas nossas vidas, a razão por que posso trabalhar, criar os meus filhos e ainda estar envolvido na comunidade.”

JÚBILO AFONSO AO LA:

“Como juiz, podem esperar de mim que seja justo e imparcial”

A nomeação de Júbilo Afonso para juiz municipal, em Outubro de 2019, pelo presidente da câmara de Elizabeth, Chris Bollwage, faz do advogado o segundo luso-americano na historia da cidade a ascender àquela posição de prestígio – seguindo as pegadas de Tony Monteiro.

“Fui renomeado em 2020, em pleno pandemia, e espero voltar a sê-lo ainda este ano”, afirma o juiz, lembrando que as nomeações carecem também da aprovação do Conselho Municipal.

Como juiz, “as pessoas podem esperar de mim que seja justo e imparcial”, garante, “para além de tratar todas as pessoas em pé de igualdade. Recuso-me também a julgar casos que envolvam pessoas com quem tenha relações de amizade, para que não restem nenhumas dúvidas da minha imparcialidade nem se pense que poderia atribuir a alguém um tratamento preferencial. É sumamente importante que as pessoas tenham o máximo de confiança no nosso sistema judicial.”