LIVERPOOL: Solidão é a nova epidemia nos Estados Unidos
A solidão generalizada nos Estados Unidos representa riscos para a saúde tão mortais como fumar uma dúzia de cigarros por dia e é a mais recente epidemia de saúde pública.
O alerta foi feito pelo cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek Murthy, a principal autoridade em saúde pública, que, ao declarar a solidão como a mais recente epidemia de saúde pública, referiu que ela custa ao sector da saúde milhares de milhões de dólares por ano.
Cerca de metade dos adultos norte-americanos dizem já ter sentido solidão, afirmou Vivek Murthy, num relatório de 81 páginas do seu gabinete.
“Sabemos agora que a solidão é um sentimento comum que muitas pessoas experimentam. É como a fome ou a sede. É um sentimento que o corpo nos envia quando algo que precisamos para sobreviver está a faltar”, disse Vivek Murthy numa entrevista à agência de notícias “Associated Press”.
E acrescentou: “Milhões de pessoas na América estão a lutar na sombra, e isso não está certo. Foi por isso que emiti este aviso, para tirar a cortina de uma luta que demasiadas pessoas estão a viver”.
A declaração destina-se a aumentar a consciencialização sobre a solidão, mas não desbloqueia o financiamento federal ou a programação dedicada a combater o problema.
A investigação mostra que os americanos, que nas últimas décadas têm vindo a envolver-se menos com os locais de culto, organizações comunitárias e até com os seus próprios familiares, têm vindo a registar um au-mento constante de sentimentos de solidão.
O número de agregados familiares solteiros também duplicou nos últimos 60 anos.
Mas a crise agravou-se profundamente quando a epidemia de covid-19 se espalhou, levando escolas e locais de trabalho a fechar as portas e fazendo com que milhões de americanos se isolassem em casa, longe de familiares ou amigos.
As pessoas reduziram os seus grupos de amigos durante a pandemia do coronavírus e diminuíram o tempo passado com esses amigos, segundo o relatório do cirurgião-geral.
Em 2020, os americanos passavam cerca de 20 minutos por dia, pessoalmente, com amigos, quando era cerca de uma hora duas décadas antes.
A epidemia de solidão está a atingir especialmente os jovens, com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos.
O grupo etário registou uma quebra de 70% no tempo passado com os amigos durante o mesmo período.
A solidão aumenta o risco de morte prematura em cerca de 30%, tendo o relatório revelado que as pessoas com fracas relações sociais apresentam também um maior risco de acidente vascular cerebral e de doença cardíaca.
O isolamento também aumenta a probabilidade de uma pessoa sofrer de depressão, ansiedade e demência, de acordo com a investigação.
Vivek Murthy não forneceu dados que ilustrem o número de pessoas que morrem directamente de-vido à solidão ou ao isolamento.
O cirurgião-geral está a apelar aos locais de trabalho, às escolas, às empresas de tecnologia, às organizações comunitárias, aos pais e a outras pessoas para que façam mudanças que aumentem a conectividade do país.
Aconselha as pessoas a juntarem-se a grupos comunitários e a largarem os telemóveis quando estão a falar com os amigos; os empregadores a pensarem cuidadosamente nas suas políticas de trabalho à distância; e os sistemas de saúde a darem formação aos médicos para que reconheçam os riscos da solidão para a saúde.