LUSO-AMERICANA É DIRECTORA DO PROGRAMA DE CULINÁRIA DE ESCOLA PÚBLICA ‘CHARTER’ DA CIDADE DE NEWARK, NJ
Por HENRIQUE MANO | Newark, NJ
No passado dia 12 deste mês, a luso-americana Anabela Bernardino embarcou para Itália com um grupo de alunos do liceu Marion P. Thomas Charter High School, de Newark. Na bagagem, o grupo não leva apenas o sonho de conhecer um país novo e uma cultura distinta; afinal, os dez alunos (a englobar ainda estudantes do Newark Vocational High School) vão à Europa no âmbito de um acordo de cooperação entre Newark e Spilinga, onde participam até dia 29 num seminário de gastronomia na Accademia Internazionale Cucina Mediterranea.
O grupo de alunos com Anabela Bernardino (direita, de camisa azul) e a vice-‘mayor’ Lígia de Freitas
“Estes dezoito dias vão constituir uma experiência fantástica para todos nós”, reconhece Anabela Bernardino, a directora do programa de culinária do liceu Marion P. Thomas Charter High School, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO. “Uma das alunas que integra o grupo é luso-americana”.
A chefe e professora teve um papel preponderante para que a viagem acontecesse. “Tivemos que dar todo o apoio aos nossos alunos, desde tirar passaportes (alguns nunca tinham saído do estado), comprar malas, etc.”, conta. “Não há nada que eu não faça pelos meus alunos”.
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | A directora do programa de culinária na cozinha do Marion P. Thomas Charter High School
Anabela nasceu em Belleville, NJ, filha de emigrantes de Veiros-Estarreja e Salreu (distrito de Aveiro); após ter feito o liceu East Side High School, no Ironbound, decidiu-se pela carreira de chefe de cozinha e pastelaria, ingressando na prestigiada Johnson & Wales University, em Rhode Island.
“Graças a isso, consegui um estágio de quatro meses em Portugal no Hilton de Vilamoura”, conta a mãe de gémeos (casada com um alentejano), que, em criança, passava todos os verões com os avós em Portugal.
O seu primeiro emprego como chefe leva-a à cozinha do ‘Alfama’, em Nova Iorque, onde faz dupla com o chefe Francisco Rosa, transitando daí para a secção de serviço de cozinha da United Airlines.
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Fachada do liceu Marion P. Thomas Charter High School, mantido pelo estado de New Jersey
Em 2016, junta-se aos quadros do liceu Marion P. Thomas Charter High School, como professora de culinária do 12.º ano, “pelo que tive de voltar à escola para um curso ligado ao ensino”, diz. E desde o ano passado que assumiu o programa de culinária da escola, que tem cerca de 550 alunos.
Para Anabela Bernardino, ser professora vai muito mais além do que dar aulas. “Digo sempre aos meus alunos que os considero meus filhos, porque, uma vez que são meus alunos, sê-lo-ão para sempre”, explica. “Serão sempre um reflexo dos ensinamentos que lhes transmiti”.
A educadora sabe que, no 12.º ano, “estamos naquele período da vida em que muitas vezes não sabemos que carreira seguir. Eu própria pensava ser professora de inglês, mas depois segui gastronomia; faço ver aos meus alunos que, nos dias que correm, a culinária pode ser muito útil. Por exemplo, se souberem cozinhar uma galinha inteira, isso dá para várias refeições e torna-se muito económico. Quem é que pode comer fora todos os dias?”
Foto: JORNAL LUSO-AMERICABIO: A chefe/professora Anabela Bernardino
Anabela Bernardino não planeia regressar à azáfama da restauração, até porque “os alunos mantêm-me jovem. Estão sempre a ensinar-me coisas novas – e eu a eles”.
Quem segue esta carreira, nota, “não o faz pelo salário, mas porque quer mesmo fazer a diferença na vida dos alunos”.
Orgulhosa das suas origens, foi introduzindo sabores de Portugal no programa de culinária do liceu – do café ao pão. “Se não fosse pela minha cultura portuguesa”, afirma, “não era quem sou hoje. Agradeço muito aos meus pais por me terem sempre incentivado a falar português em casa”.