Luso-americana Isabelle Ferreira subiu a montanha mais alta de África
Nos primeiros dias deste mês, Julho, Isabelle Ferreira subiu ao topo do Monte Kilimanjaro. Dito parece fácil, fazê-lo é que foi difícil, foi o que nos transmitiu a professora ao falar em entrevista com o jornal LUSOAMERICANO:
O que ficou desta experiência?
“Esta experiência fez-me perceber várias coisas, a primeira foi sem duvida aprender a ter paciência. Foi a primeira lição que aprendemos”. Como referiu anteriormente, os locais utilizam muito o termo “pole, pole”. “Também aprendi que, ao contrário do que eu imaginava, o teu único foco quando estás a subir a montanha é mesmo subi-la, é uma experiência que exige todo o esforço da nossa parte, mental e fisicamente”, confessou que antes da subida considerou que teria tempo e disponibilidade mental para talvez ler um livro mas tal revelou-se impossível, o próprio acto de pensar em algo para além de como respirar, subir a montanha e manter-se focada parecia longínquo.Descreveu esta sensação com “um instinto de sobrevivência” que a fez ficar em modo piloto.
Como foram os dias antes do inicio da subida?
“Muitos nervos” revelou entre risos “Apesar de achar que estava super preparada por ter tido quase 10 meses de tempo para preparação e de ter treinado física e mentalmente estava com receio.” Para a luso-americana foi uma questão de “mind over matter”, ou seja, a mente iria controlar muito mais que o corpo e estava a preparar-se para essa realidade, mas como nos contou “a adaptação foi o que eu pensava que ia ser”. Em relação ao povo descreveu-os como muito educados, humildes, trabalhadores, acolhedores mas sem dúvida muito pobres, “É uma realidade diferente e percebes que é um pais sujo e com condições de vida difíceis”.
Como era o seu grupo?
“A subida foi feita com 7 pessoas no meu grupo mas um total de 34 pessoas para levar todas as nossas coisas, “os porters”. Há pessoal para cozinhar, um líder e dois chefes, pessoal para carregar a casa de banho, águas, tendas, cadeiras, mesas”. São necessárias pessoas a acompanhar para tornar a subida possível a pessoas que não estão habituadas a fazê-lo. Isabelle explicou que há ainda o costume de fazer uma pequena cerimónia para dar gorjetas a todos os trabalhadores que fazem o percurso com os grupos, “No nosso grupo sentimos que devíamos, devido ao trabalho árduo, igualar o salário de $10 por dia que os portadores recebem. São 9 dias cada viagem, ganharam $20 ao dia.”, um total de $180, um valor que acharam apropriado uma vez que o salário médio no país são $150.
“Das sete pessoas que foram, seis conseguiram sendo que uma senhora desistiu a quatro horas do fim devido ao cansaço extremo”, revelou Isabel, continuando “Eramos 3 homens e 4 mulheres, a mais jovem tinha 23 anos e a mais velha 63 anos. Dois da Inglaterra, três dos Estados Unidos e dois da Suiça. Um dos homens era médico, mas dois deles, tirando o mais novo, estiveram a beira de desistir. Eu passei mal no segundo dia mas a diferença entre a minha experiência e a dos senhores que também tiveram dificuldades foi o facto de eu ter tomado os comprimidos supostos antes do tempo e os dois senhores tomaram-nos apenas na subida, e outro facto engraçado foi a senhora que não conseguiu acabar a caminhada não tinha tomado os comprimidos.” Os comprimidos servem para “colocar as células vermelhas mais fortes” e ajudam na distribuição do oxigénio para os pulmões e para a cabeça.
Sobre a subida e como conseguiu lutar com a mente e o cansaço físico revelou “A maior mensagem passada pelos guias era que devagarinho se chegava lá. Um dos dias tive o oxigénio a 74 e tive de aguardar até subir para 82 para poder continuar, se em algum momento estivesse abaixo do 70 já não podia continuar.” Isabelle diz que sentiu bastante dificuldade na descida, referindo “o cérebro manda uma coisa e as pernas parece que não recebem o sinal e não fazem o que queres”. Todos falam da subida mas quando sobes tens de descer e é também um processo. Concluiu sobre o tema “Considero muito importante seguir as instruções dos guias que estão ali para nos ajudar a concretizarmos os nossos objectivos. Todos juntos conseguimos chegar ao topo, era essa mensagem que nos era transmitida”.
Quão difícil foi?
Com muita franqueza Isabelle disse, “estes 9 dias foram de longe a aventura mais difícil que já fiz até hoje, muito porque maior parte das coisas não estavam no meu controlo. Arrebentou-me as veias do nariz duas vezes, faltou o ar, dor de cabeça, nauseas, cansaço, o raciocínio ficou lento, mas no entanto estávamos todos na mesma situação e havia um sentimento de camaradagem”, que é sempre confortante e ajuda a ter perspectiva.
É bom relembrar que Isabelle partiu nesta aventura principalmente para contribuir para causas beneficentes que lhe são queridas e até ao final dos 9 dias tinham sido arrecadados $3,500 mas o objectivo ainda são os $5,00 e a professora acredita que ainda é possível atingir essa meta. Depois desta aventura, rumou a Portugal e no sábado passado participou numa concentração de mais de 30 mil motards no Algarve.
O que se segue a esta aventura transformadora?
“Ideias para planos futuros existem”, Isabelle ainda está a considerar qual será a próxima aventura, pode passar pela América do Sul ou Alasca. Terminou por afirmar “Amei a experiência como fui referindo nos videos (que foi possível seguir através da página do Facebook) mas não é para qualquer um, sem dúvida muito difícil e tem de ser uma ideia muito considerada”.
Assim, se o estiver a considerar aqui fica um testemunho muito honesto da experiência de uma luso-americana.