LUSO-AMERICANA OCUPA ALTO CARGO DE CHEFIA NA REVISTA “ROLLING STONE”
Por HENRIQUE MANO | News Editor | Nova Iorque
A jornalista Maria Fontoura, filha de emigrantes portugueses de Trás-os-Montes em New Jersey, foi nomeada por altura da pandemia de COVID-19 vice-chefe de redacção (“Deputy Editor”) da revista de música mais conhecida do mundo – a “Rolling Stone”. Fontoura juntou-se à icónica publicação, que está sediada em Manhattan e tem tiragem superior a 415 mil exemplares, em 2018, subindo depressa ao 2.º lugar cimeiro na redacção.
Formada pela Johns Hopkins University, onde obteve o canudo em 1998, Maria Fontoura é peça fundamental na gestão diária da redacção e dos cerca de 80 funcionários da revista (dos quais 50 são jornalistas e repórteres), tendo uma palavra a dar nos temas e figuras que preenchem, mensalmente, a capa da “Rolling Stone”.
Depois de dois anos a leccionar no estado de Maryland, a luso-descendente abraça em 2005 a carreira de jornalista em Nova Iorque, tendo já passado por publicações como “Maxim” (onde, aliás, chegou a redactora sénior), “ESPN”, “OK!”, “Us Weekly” e “Men’s Journal”. É nesta última, que pertenceu ao mesmo grupo que deteve a “Rolling Stone” (Wenner Media), que se abre o caminho para que chegue à posição actual.
“É realmente uma revista lendária”, reconhece Maria Fontoura, em entrevista exclusiva concedida ao jornal LUSO-AMERICANO, “pelo que foi para mim uma grande honra ter sido convidada a juntar-me à sua equipa.”
Apesar de ter começado na “Rolling Stone” como editora de entretenimento, virada para a cobertura de temas ligados à TV e cinema, Fontoura depressa se afirmou na redacção da 5.ª Avenida onde a revista funciona, ascendendo então a “deputy editor” em pleno período pandémico.
❝É REALMEMTE UMA REVISTA LENDÁRIA PELO QUE FOI PARA MIM UMA GRANDE HONRA TER SIDO CONVIDADA A JUNTAR-ME À SUA EQUIPA❞
⤻Maria Fontoura, “Deputy Editor” – revista “Rolling Stone”
Maria Fontoura nasceu no St. Barnabas Hospital, em Livingston, NJ, e cresceu em Fairfield. O pai, ele próprio uma figura emblemática da vida portuguesa no ‘Estado Jardim’, o xerife Armando Fontoura, é transmontano de Vilar de Perdizes; a mãe, Maria Fontoura, falecida este ano, oriunda de Boticas.
“Em nossa casa falava-se português quando os meus pais não queriam que nós percebêssemos o que estavam a dizer ou quando os nossos avós nos visitavam”, conta a jornalista. “O meu pai trazia com frequência pão português e pastéis de nata para casa e levava-nos a restaurantes no Ironbound como o Portuguese Pavilion e o Mediterranean Manor. Também me lembro de irmos ao Dia de Portugal e de visitar o meu avô paterno.”
A “deputy editor” da “Rolling Stone” recorda-se com afeição dos pratos portugueses que a mãe confeccionava em datas especiais e “da feijoada transmontana da minha tia Irene, que seria assim o que gostaria de comer na minha última refeição em vida.”
Já na escola primária Maria Fontoura sonhava em ser “escritora ou poetisa, porque ler e escrever era o meu forte. Quando acabei o West Essex High School e fui para a universidade, ia com a certeza de que tiraria Letras. Mais tarde ainda pensei em ser advogada, mas depois desisti…”.
Como universitária, faria um estágio de jornalismo no “Star-Ledger” de Newark, onde teve a sua primeira experiência como repórter.
❝OS NOSSOS ARTIGOS ONLINE QUE PROVOCAM INTERESSE ACABAM POR IR PARAR À CAPA DA REVISTA❞
⤻Maria Fontoura, “Deputy Editor” revista “Rolling Stone”
Na “Rolling Stone”, o quotidiano de Maria Fontoura começa geralmente com reuniões diárias de alinhamento para a pauta jornalística dos dois produtos que a publicação produz – a edição impressa e o portal online – “que não têm necessariamente os mesmos leitores. Ainda assim, os nossos artigos online que provocam mais interesse acabam por ser os que vão parar à capa da revista, onde a actualidade não ocupa muito espaço”, diz.
Apesar de a música continuar a ser o que domina nas páginas da revista, agora detida pelo grupo Penske Media Corporation, os temas que aborda “tocam também nas questões da justiça social, política, casos de crime, o sub-mundo das drogas e dos cultos, que interessa muito aos leitores.”
O rol de figuras que Maria Fontoura entrevistou ao longo da sua carreira inclui os actores Michael Caine, Paul Rudd e Virginia Kling e o basquetebolista Lebron James.
“Creio que continuamos a produzir uma revista com um rigor de texto, imagem e paginação já difícil de se encontrar numa indústria em contracção como é a nossa – o que envolve um aproveitamento muito grande dos nossos recursos humanos”, avalia.
❝QUANDO FUI À TERRA DOS MEUS PAIS PERCEBI QUE ERAM VERDADE AS HISTÓRIAS QUE ME CONTAVAM DE UMA INFÂNCIA POBRE E DE DIFICULDADES❞
⤻Maria Fontoura, “Deputy Editor”
Revista “Rolling Stone”
O pai da jornalista é uma espécie de elefante na sala na sua vida. “Não há como não falar nele”, diz, referindo-se ao xerife Armando Fontoura. “Os meus colegas e amigos sabem quem ele é até dão mais importância a isso que eu… Lembro-me que, quando, recentemente, alguns colegas meus foram ao funeral da minha mãe, ao entrarem na catedral de Newark e depararem-se com tantos polícias, pensarem estar no sítio errado… Depois lembraram-se que o meu pai é xerife.”
Foi com o pai, aliás, que foi a Portugal pela primeira vez, tinha cerca de 15 anos. “Fomos a Vilar de Perdizes e a Boticas, à terra dos meus pais. Aí caiu-me a ficha e percebi que eram verdade as histórias que ele me contava de uma infância pobre e de dificuldades. Na altura pensei que era ele a exagerar, mas não, vi com os meus próprios olhos…”.
A jornalista está agora “obcecada” com a ideia de voltar a Portugal. Com o pai. “Noutro dia desafiei-o e disse: porque não voltamos lá juntos? E ele achou boa ideia. Penso que, decididamente, ele quer lá ir. E, se formos juntos, será uma viagem muito especial de regresso às origens.”