Manuel Luciano da Silva morreu há 2 anos

MLS

Assinalamos o segundo aniversário da morte de Manuel Luciano da Silva médico, historiador, escritor e jornalista.

O médico que jurava que Cristóvão Colombo era português, e que inspirou Manoel de Oliveira a realizar um filme sobre essa tese e a sua própria faceta de incansável historiador, faleceu faz hoje dois anos. Foi sepultado em Bristol, nos Estados Unidos. Tinha 86 anos.

A partir do seu consultório em Bristol, sempre disponível, Luciano da Silva, uma espécie de “Dr. House” rural, falava das maleitas do corpo e da alma e de tudo o que lhe viesse à cabeça. Do outro lado do computador, mostrava desenhos, aproximava-se do ecrã para ver com detalhe borbulhas ou exames das gentes da sua aldeia. Ralhava quando necessário, aconselhava com humildade. A partir de certa altura, as consultas estenderam-se à Santa Casa da Misericórdia de Vale de Cambra e ao Museu Regional de Oliveira de Azeméis. Além disso, participava em programas nas rádios e televisões de língua portuguesa nos EUA. Estava reformado há 14 anos. Mas isso não se notava muito.

“Um médico não deve estar só no consultório a passar pílulas e cápsulas. Um médico é um indivíduo com muita responsabilidade, não só no consultório, mas também na comunidade”, dizia.

“Quem são os historiadores que usam microscópio? A História de Portugal devia ser revista por médicos”, dizia-nos Luciano da Silva, há pouco mais de um ano. A História sempre foi uma das suas maiores paixões. Garantia que Colombo tinha nascido em Cuba, no Alentejo, e que os portugueses foram os primeiros europeus a colonizar o continente americano – baseava-se nas inscrições da Pedra de Dighton que acreditava desvendar mistérios sobre as descobertas lusitanas nos sécs. XV e XVI. Escreveu livros sobre o assunto. Lutou para que a Pedra de Dighton fosse retirada da água e assim foi criado um museu em Massachusetts. “Olhe que ter uma pedra de 40 toneladas como amante não é brincadeira nenhuma”, brincava.

Aos 19 anos, partiu com a mãe para Brooklyn para se juntar ao pai, piloto da Marinha americana. Formou-se em Ciências Biológicas na Universidade de Nova Iorque. Regressou a Portugal com 26 anos e tirou o curso de Medicina em Coimbra em cinco anos e com distinção. Voltou aos EUA. Teve dois filhos. Durante 21 anos foi director da Rhode Island Veteran”s Home, em Bristol. Foi condecorado com o grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique em 1968 e com o Grau de Comendador da Ordem de Mérito em 2011.

A 21 de outubro de 2012, faleceu, vítima de um colapso cardíaco. Durante toda a sua vida entregou-se de paixão à Medicina e à História, tendo, até ao último dia, trabalhado em prol da educação do grande público sobre a História Luso-Americana.

A ligação do Dr. Manuel Luciano da Silva à Terceira remonta a várias décadas, desde que começou a sua aventura pela divulgação da Pedra de Dighton. E já existem várias réplicas espalhadas pelo país, até a Câmara Municipal da Lagoa cedeu a sua à Câmara Municipal da Ribeira Grande, através de um protocolo, para que esta ficasse no Museu da Emigração. Depois de anos de combate, a Terceira finalmente pediu para ter uma réplica, mas infelizmente o Dr. Manuel Luciano da Silva morreu sem ver o seu sonho cumprido. Em breve a réplica estará no Terceira Mar Hotel para ser visitada.

Manuel Luciano da Silva era colunista assíduo do Jornal Luso-Americano e participava em programas de rádio e televisão na Nova Inglaterra, sobretido no Canal 20 de New Bedford, MA, onde era comentador residente.

A sua acção educativa e filantrópica não podem passar em claro, dois anos após a sua morte. Fica um vazio enorme difícil de preencher de um homem que sempre acreditou que a América foi descoberta por sangue português.