Marina Ovsyannikova e o grito de revolta “anti-guerra” dos jornalistas russos

“Não acredite na propaganda, eles estão a mentir. Russos contra a guerra”.

Foram estas as palavras, escritas num cartaz, que fizeram Marina Ovsyannikova se tornar  rapidamente notícia em todo o mundo, quando a productora russa invadiu, em directo, o estúdio onde estava a ser transmitido o noticiário do canal estatal “Channel One Vremya”.

Marina foi detida, interrogada durante horas e acabou por ser multada. Esse foi o preço a pagar pela liberdade de expressão.

O silenciamento de Marina Ovsyannikova acabou por gerar um grito de revolta e vários jornalistas russos demitiram-se em protesto. A primeira a demitir-se foi Zhanna Agalakova, colega de Marina, que trabalhava como correspondente na Europa.

Seguiram-se outras duas renúncias no canal russo NTV: a pivô, desde 2006, Lilia Gildeyeva e o jornalista Vadim Glusker que trabalhava na estação televisiva há quase 30 anos. Também a jornalista Maria Baronova apresentou demissão do cargo de editora-chefe da “Russia Today”.

A jornalista já tinha dito, em declarações à BBC, que Putin “destruiu a reputação da Rússia” e que a economia do país estava “morta”. “Os nossos avôs não lutaram para isto”, atirou Baronova, questionada sobre o motivo da demissão, disse conhecer “estas pessoas muito bem”, referindo-se ao Kremlin.

 “Eles não fazem ameaças, eles simplesmente matam, e havia um silêncio perturbador à minha volta”. A jornalista alertou ainda que o mundo está “à beira de uma guerra nuclear neste exacto momento”.

Vários outros jornalistas também se despediram: Shadia Edwards-Dashti, ex-correspondente em Londres,  o jornalista Frédéric Taddei, voz da RT em França, e também Jonny Tickle, correspondente em Moscovo.

A União Europeia bloqueou todas as plataformas dos meios de comunicação estatais russos, concretamente o canal de notícias RT e a agência Sputnik na Europa.

“Não há lugar no nosso espaço digital para a propaganda de guerra da Rússia”, afirmou o comissário europeu Thierry Breton, reconhecendo que esta é uma sanção inédita à Rússia em resposta à invasão da Ucrânia. Em causa estão todas as plataformas de comunicação, incluindo satélite e internet.