MÉDICO PORTUGUÊS OFERECEU-SE COMO VOLUNTÁRIO EM ENFERMARIA COVID DE HOSPITAL EM NOVA IORQUE
HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO
Tem 53 anos, nasceu em Portugal e formou-se pela Escola de Medicina da conceituada Brown University, em Rhode Island, um dos melhores médicos gastroenterologistas a exercer na cidade de Nova Iorque. O profissional surge na mais recente lista dos melhores médicos de 2020 da Castle Connolly, uma autoridade no sector há mais de um quarto de século, e, em 2013, recebeu da mesma entidade o ‘Top 10 Doctor Award’, que o colocou (por votação de outros médicos) no grupo restrito dos melhores gastroenterologistas em Manhattan.
Pacheco é um do fundadores e co-proprietários do Manhattan Endoscopy Center, das maiores clínicas cirúrgicas na área da gastroenterologia em Nova Iorque, localizada no 535 da Quinta Avenida, possuindo ainda o Liberty Endoscopy Center, na Baixa de Manhattan, junto ao One World Trade Center – a funcionar desde 2016.
๏DA BROWN UNIVERSITY A NOVA IORQUE: UMA TRAJECTÓRIA BRILHNTE
Com trabalhos de investigação publicados, cargos de chefia nas melhores unidades hospitalares de Manhattan e responsabilidades na área da formação médica, Paulo Pacheco é possuidor de um currículo profissional invejável:
➝Passa pelo Boston College entre 1985 e 1989.
➝Forma-se depois pela Brown University School of Medicine (1989-1993), uma instituição superior de ensino Ivy League.
➝Muda-se para Nova Iorque para o estágio e treino médico na Weill Cornell Medical College (1993-1996). Mantém-se no hospital até 1999, completando a sua especialidade em Gastroenterologia e Hepatologia.
➝É convidado a ficar no Weill Cornell Medical College (NY Presbyterian Hospital) como professor auxiliar de Medicina a dirigir o programa de formação no hospital.
“Na altura cheguei a ser o mais novo director de um departamento de gastroenterologia no país”, afirma Paulo Pacheco, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO. “Mantive-me no Cornell até 2003, altura em que me afastei para abrir a minha clínica privada. No entanto, acabei por tornar-me professor na NYU Langone School of Medicine, onde ainda hoje lecciono.”
๏DOS AÇORES PARA A AMÉRICA
O médico nasceu em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira (Açores), e tinha 8 meses quando os pais emigraram para a América, a 23 de Abril de 1967, estabelecendo-se em Bristol, RI. “Apesar de nunca ter vivido em Portugal, já lá fui imensas vezes e tenho muita família chegada também em São Miguel”, diz.
O pai do médico, já falecido, foi uma conhecida figura da vida portuguesa em Bristol, onde ainda vive a mãe de Paulo, Deodete Pacheco e a irmã, Ângela Cabral.
“Curiosamente”, nota, “nasci no mesmo ano – 1967 – em que o Dr. Anthony Fauci fez o seu estágio e treino médico na Cornell University Medical School, por onde eu, 27 anos depois, também passaria”.
A pandemia afectou o profissional de saúde em várias frentes. A 13 de Março viu-se obrigado a passar as suas clínicas para o sistema não-presencial. “Só podia dar consultas em casos de emergência”, conta, “e mesmo assim expunha tanto a minha equipa como a mim ao perigo de contágio”.
Outra preocupação foi manter os funcionários das clínicas no activo, “sabendo que todos eles representam um núcleo familiar”.
๏RECUPERA DE CASO EXTREMO DE CORONAVÍRUS E OFERECE-SE COMO VOLUNTÁRIO EM ENFERMARIA COVID
No dia 1 de Abril de 2020, Paulo Pacheco testa positivo para a COVID-19. “Fiquei bastante doente e estive de cama até ao dia 18 com todos os clássicos sintomas do coronavírus: dificuldades de respiração, tosse constante, febres, calafrios, fortes dores no corpo e perdi os sentidos do sabor e do olfacto. Uma vez que estávamos todos a trabalhar à distância, não infectei ninguém da nossa equipa”.
Revela nunca se ter sentido tão mal na vida – apesar de ter apenas 53 anos de idade, ser saudável e frequentar regularmente o ginásio. “Nunca pensei que pudesse ficar tão doente”, diz. “Estive quase a ir para o hospital, mas depois acabei por recuperar. Tudo isto enquanto tive de continuar a dar assistência à distância aos nossos pacientes. mantendo as clínicas operacionais”.
Assim que testou negativo, o português ofereceu-se para trabalhar como voluntário na enfermaria COVID do NYU Langone Medical Center. “Todas as pessoas ali tinham COVID, eram idosas e com sérios problemas de saúde. Fazíamos turnos de 13, 14 horas por dia. Foi uma experiência de que nunca me vou esquecer e que repetirei se a pandemia continuar a piorar e o hospital voltar a necessitar de nós”.
O médico sabe o que é gerir crises médicas. Afinal, aquando dos ataques terroristas às Torres Gémeas em 2001, foi dos primeiros médicos a chegar ao ‘ground zero’ para se oferecer como voluntário no terreno (o que lhe valeu aparecer anónimo na capa do ‘New York Times’).
๏TOMA A VACINA E RECOMENDA TODOS A FAZEREM O MESMO
Apesar de ter já tido COVID e de transportar anti-corpos, o médico foi aconselhado a tomar a vacina da Pfizer – o que fez no dia 28 de Janeiro. “Foi sem dor e não tive sintomas”, relata, acrescentando: “Não poderia sublinhar mais o quão importante é para todos apanhar esta vacina. Não há razão para não o fazer. Pode salvar a nossa vida e a daqueles com quem estamos em contacto. A vacina é segura. De facto, os dados de segurança desta vacina são muito superiores à grande maioria das vacinas actualmente administradas. Não é uma vacina viral viva nem atenuada, por isso não se pode obter COVID19 através dela.”
O médico também considera importante que “os nossos funcionários de saúde pública facilitem e disponibilizem esta vacina o mais rapidamente possível para aqueles que correm maior risco para a COVID19, seguidos pela população em geral. É de importância vital que o maior número possível de pessoas seja vacinado para suprimir a propagação viral e permitir que a vida volte ao normal o mais rapidamente possível”.