MINEOLA PORTUGUESE CENTER FAZ FRENTE À PANDEMIA COM A GESTÃO DE RECURSOS E ESPÍRITO EMPRESARIAL

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Quando a pandemia da COVID-19 paralisou a América e o mundo, em Março de 2020, o Mineola Portuguese Center – uma das três associações lusas nesta vila nova-iorquina em Long Island – ia de vento em popa. À semelhança de outras colectividades lusas nos EUA, o Centro da Jericho Turnpike viu-se obrigado a encerrar portas durante três semanas e, após isso, reinventar-se para sobreviver aos desafios que viriam por aí…

“O que nos valeu foi estarmos em boa situação económica e dispormos de uma almofada financeira para operar”, afirma o emigrante transmontano Fernando Frade, há quatro anos ao leme da presidência, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO.

O Centro continua hoje a funcionar a 25% de capacidade, tal como exigem as regras de segurança impostas pelo estado, depois de ter passado por um período em que teve o seu restaurante a operar apenas em sistema take-away. Uma das soluções para continuar a servir os seus sócios e clientes em geral, passou por servir almoços e jantares no seu pátio – com sessões de karaoke de quando em vez. “Passámos assim o verão e tudo correu pelo melhor”, nota Frade.

Com a chegada do frio, as refeições passaram a ser servidas no interior da sede, com a realização de jantares esporádicos no salão nobre, com capacidade para 200 pessoas e, portanto, perfeito para albergar o número de convivas permitido com o devido distanciamento.

“Tivemos que tomar decisões por forma a  manter a nossa equipa intacta e ninguém ficou sem trabalho”, observa Fernando Frade. “Até porque toda a gente precisa de dinheiro para viver. É certo que reduzimos o número de horas, mas não despedimos ninguém.”

Ainda assim, a cúpula do M.P.C. lida com o receio que os seus associados enfrentam de regressar à vida associativa – e tanto assim é, que ainda não conseguiu convocar uma Assembleia Geral desde Janeiro do ano passado.

Frade faz as contas e conclui que “estes clubes não vão poder viver só do movimento gerado pelos seus membros. No nosso caso, por exemplo, as cotas anuais mantém-se a $50; dos nossos cerca de 400 sócios, mais de metade são reformados e não as pagam, restando-nos cerca de 150 pagantes. Que condições é que teríamos de manter o Centro funcional assim?”

As despesas mensais da casa rondam os 35 mil dólares, garante o presidente, pelo que a gestão dos recursos (incluindo as rendas das propriedades em redor, que fazem parte do espólio do Centro – e que foram actualizadas depois da tomada de posse deste núcleo directivo) e a exploração do serviço de restaurante têm sido a resposta. “A nossa principal fonte de rendimento, neste momento, é o restaurante, que funciona de segunda a domingo para almoços e jantares”, afirma. “Aliás, creio que nenhuma associação portuguesa nestes tempos sobreviverá se não tiver um restaurante.”

Fernando Frade sublinha ser importante também investir no melhoramento das sedes sociais. “Durante o nosso mandato já gastámos perto de 150 mil dólares em material de informática, encomendámos cadeiras novas para o salão nobre, comprámos frigoríficos e modernizámos o sistema de bebidas não-alcoólicas no bar. E está tudo a funcionar a 100%.”

O líder comunitário adverte que os clubes portugueses terão de fazer profundas mudanças para enfrentar não apenas a COVID, mas os novos tempos – sair das caves para atrair mais juventude, por exemplo. “Só assim iremos continuar a poder  atrair escolas, ranchos e promover o que é português.”

Frade sabe que o Centro é um organismo sem fins lucrativos, mas as inúmeras despesas levam a que tenha de adoptar uma gestão semi-empresarial. “De outra forma, isto acabará tudo”, avisa.

O Centro viu-se também privado de fontes de rendimento importantes como os festejos do Dia de Portugal, que se prolongavam por três dias, e a realização de inúmeras festas comunitárias durante o ano. “Isso acabou tudo, de momento. O que são festas comunitárias, foi por água abaixo… E nós tivemos de nos reinventar para manter o Centro aberto e funcional.”

O M.P.C. também enfrentou auditorias por parte das autoridades fiscais e de saúde, durante a pandemia, “que encontraram tudo em ordem”, diz Frade.

Trata-se da segunda vez que este português de Santiago do Monte, concelho de Chaves, assume a presidência do Centro, fundado em 1936; em 1998 também fez obras, esteve como presidente quatro mandatos “e deixámos a casa sem dívidas”.

Fernando Frade emigrou em 1969 com uma prole de 9 irmãos para Jamaica, NY, vivendo há já décadas em Long Island, sendo casado com Fernanda Frade e pai de 3 filhos.