MINHOTO ENSINA PORTUGUÊS A ALUNOS DE TODO O MUNDO EM LICEU DE NEW JERSEY
Por HENRIQUE MANO | Elizabeth, NJ
Quando, no Liceu “East Side” da cidade de Newark, como aluno, viu pela primeira vez uma professora nos Estados Unidos a dar aulas de português como língua estrangeira, Emanuel Araújo percebeu que tinha descoberto a sua verdadeira vocação… “Pensei: seria fantástico se eu pudesse fazer o mesmo”, conta Emanuel Araújo, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO. “Desde então, ensinar português fez sempre parte dos meus planos de profissão”.
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | O professor Emanuel Araújo lecciona português na Alexander Hamilton Preparatory Academy de Elizabeth, NJ
Hoje, aos 32 anos, Araújo faz o mesmo que a sua mentora do liceu, a professora Isabel Duarte (já falecida), na “Alexander Hamilton Preparatory Academy” da cidade de Elizabeth, em New Jersey, com cerca de 900 alunos – a provar que os educadores são, sim, também, influenciadores.
A “Alexander Hamilton”, once Araújo é o único professor de português, é um liceu do sistema público de ensino de Elizabeth (do 9.º ao 12.º anos), situado no 310 da Cherry Street, que a revista “U.S. News & World Report” coloca em 28.º lugar entre as melhores escolas do “Estado Jardim” e em posição 562 a nível nacional.
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | A Alexander Hamilton Preparatory Academy de Elizabeth, NJ
Emanuel Araújo nasceu na freguesia minhota de Parada, concelho de Paredes de Coura, em Viana do Castelo (Minho). Aos 12 anos, emigrou para os EUA, radicando-se no Ironbound; fez o ensino básico e secundário em Newark, na Wilson Avenue School e no “East Side”. Na Rutgers University, “uma das minhas licenciaturas acabou por ser em português e a outra em ciências política, já com a intenção de um dia dar aulas. Hoje sinto-me muito orgulhoso, sortudo e feliz por ter esta carreira”.
A seguir à universidade, Araújo ingressou de imediato na “Alexander Hamilton” como professor temporário (“substitute teacher”), a leccionar o 9.º ano – em 2013 – e a substituir um professor de português. Em Setembro do mesmo ano, passa a professor a tempo inteiro, onde ainda se mantém (mas desde 2019 com as turmas do 10.º ao 12.º ano).
Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | O professor Emanuel Araújo junto a um quadro com trabalhos dos seus alunos
“Este é um dos melhores liceus de Elizabeth e, por norma, os alunos que aqui estão, são bastante focados e com interesse em aprender, o que é muito importante, em termos gerais”, afirma o professor Emanuel Araújo. “Os meus alunos são de diversas etnias e descendências, com os luso-americanos, neste caso, em minoria (diria uns 8%); na minha sala de aulas há alunos latino-americanos, brasileiros, americanos e de diferentes países da Ásia… É uma mistura muito agradável porque espelha bem o que é a América, uma amálgama de culturas”.
Ensinar português como língua estrangeira a uma turma tão cultural e etnicamente diversa, como é? Araújo explica: “Nas minhas aulas, tento criar um espaço em que os alunos se interessem e se sintam cativados pela cultura portuguesa e da lusofonia. Que sintam prazer em aprender a língua, a história e a cultura portuguesas.”
Emanuel Araújo tem cerca de 110 alunos, que seguem o programa curricular dos níveis Português 1 e 2 em aulas diárias; currículo que, explica, “foi desenvolvido pelo Departamento de Línguas Estrangeiras da cidade de Elizabeth, numa adaptação do currículo do estado de New Jersey orientado para idiomas estrangeiros”.
Com alunos de nações tão díspares como Palestina, Nigéria, Paquistão, Haiti, Jamaica, Brasil, Portugal, México, Honduras, Peru, Colômbia e um largo etc., as salas de aulas do professor minhoto tornam-se numa mini-Nações Unidas… “Para além da gramática e conjugação de verbos, procuro introduzir elementos como aspectos geográficos, efemérides históricas e curiosidades histórico-culturais como forma de os cativar”, afirma.
Segundo revela, “o que mais surpreende os meus alunos, é a dimensão dos países onde Portugal tem presença linguística; pensam, a princípio, que o português é só falado em Portugal ou só no Brasil… Uma das primeiras coisas que eu quero que eles saibam, é que o português é falado em vários sítios e continentes, é um idioma global. Começo sempre por aí. Depois dessa supresa inicial, já não sentem uma distância tão grande da língua portuguesa”.
Explica-lhes que “essa abrangência mundial do português provêm do seu passado colonial, que não é por coincidência que o idioma se fala em tantos continentes. Nas aulas de nível mais avançado, e por volta do 25 de Abril, falo na data e nas consequências que teve para o país, procurando sempre contextualizar os acontecimentos”.
É a disciplina de português que realmente fascina (e motiva) Emanuel Araújo. “Se tivesse que dar outra cadeira qualquer, se calhar não era professor”, admite. “A minha motivação não é financeira, é poder ensinar e constatar como os meus alunos progridem na sua aprendizagem do português. De certo, creio, é necessária uma vocação para se ser professor nos dias de hoje – para além de também ter que se gostar profundamente daquilo que é o ensino”.
Casado e pai de 3 filhos, Emanuel Araújo diz mesmo “ter a sorte de ter descoberto a vocação de ensinar. Para mim, vir para o trabalho não me custa nada e eu prefiro dar aulas a trabalhar numa empresa privada a ganhar mais dinheiro mas não tendo prazer naquilo que faço”.
A terminar, faz questão de sublinhar ter contado sempre “com muito apoio tanto do Comité Escolar, como da administração do liceu, que compreendem a importância do ensino do português em Elizabeth”.