NASCEU EM BARCELOS E APOSTA NA COZINHA PORTUGUESA EM MANHATTAN

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Há 5 anos, o minhoto Nuno Sousa aterrou em Nova Iorque com muita vontade na bagagem de descobrir os sabores do mundo que fervilham nas cozinhas em cada um dos restaurantes da multicultural ‘Big Apple’. Acabaria, contudo, por redescobrir a gastronomia que melhor conhece – a do seu país – e por traçar uma missão: fazer da culinária portuguesa uma presença diária no prato dos nova-iorquinos.

A rotina deste ex-treinador de futebol natural de Barcelos que trocou os relvados pelos fogões é agora a cozinha de um restaurante em pleno bairro nova-iorquino de West Village, o ‘Upright Leitão’ (muito em breve Cervejaria Portuguesa ‘Leitão’). É nela que se entrega à confecção de alguns dos pratos mais tradicionais da gastronomia portuguesa, servidos todos os dias a uma clientela internacional: francesinha, sandes de polvo, leitão e pernil, hambúrguer com queijo da Serra, prego no pão, camarão ao alho, amêijoas em caldeirada, pastéis de bacalhau…

“Vou ainda lançar as sardinhas e a alheira de Mirandela, em Março”, revela o chefe Nuno Sousa, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO. “Também vou acrescentar o pudim Abade de Priscos às sobremesas.”

🌐DE BARCELOS PARA O MUNDO

O chefe Nuno Sousa à entrada do ‘Upright Leitão’, em Manhattan

E DO FUTEBOL À CULINÁRIA

O ‘Leitão’ é um oásis naquele que ainda constitui um deserto em Manhattan – os restaurantes inspirados na cozinha portuguesa (à parte o ‘Taberna 97’ e o ‘Joey Bats Café’, pouco mais se vislumbra num universo com milhares de espaços de restauração de todo o globo).

Nuno Sousa ganhava a vida a treinar equipas de futebol secundárias (passaram-lhe pelas mãos o S.C. Freamunde e o Santa Maria F.C., por exemplo). Há cerca de 9 anos, o entusiasmo pela cozinha substituiu-se aos golos… “Sempre gostei de receber amigos em casa para jantar e explorar as técnicas e tipos de culinária”, conta. “Comecei então a perceber que me regozijava em ver as pessoas saborearem aquilo que eu cozinhava.”

Autodidacta, chegou a Nova Iorque disposto a permitir que as oportunidades lhe fossem ditando o caminho. “Trabalhei 14 horas por dia na linha de preparação em cozinhas de restaurantes em Manhattan, fiz todas as etapas de um chefe até começar a desenhar e executar menus mais elaborados. Foi todo um processo que tive de completar.”

Estava há 6 meses em Nova Iorque quando descobriu o ‘Smorgasburg’, uma emblemática feira de comida em Brooklyn com uma centena de vendedores e milhares de visitantes – considerada o ‘Woodstock da Gastronomia’. “Fiquei fascinado com o conceito e interroguei-me logo porque não estava Portugal ali representado”, nota. “Assim que criei a ‘Leitão’, a minha empresa de culinária, coloquei como principal objectivo entrar para o ‘Smorgasburg’ – o que consegui. O ‘Leitão’ nasce assim do meu desejo muito forte de expor os nossos pratos aos nova-iorquinos. O meu primeiro ano foi fantástico e a ‘Leitão’ começa a crescer aí.”

🌐A COVID LEVA A MUDANÇA DE PLANOS…

O arroz de marisco com assinatura do chefe Nuno Sousa

Muito embora o conceito “nunca tivesse nascido para estar num espaço físico”, a COVID empurrou Sousa para a Hudson Street, uma das artérias mais movimentadas da Baixa de Manhattan. Com as feiras de comida encerradas pela pandemia, o chefe português, em sociedade com dois outros elementos, tomou conta do espaço ‘Upright’ – onde desde logo imaginou criar uma cervejaria à portuguesa, depois de abandonada a ideia inicial para um restaurante de tapas. E assim nasce o ‘Upright Leitão’, há alguns meses, e que dentro de semanas passará a ‘Cervejaria Portuguesa Leitão’.

“A nossa cozinha sempre singrou não pela complexidade, mas pela simplicidade e qualidade dos ingredientes”, opina.

O chefe minhoto também foi beber às raízes para criar alguns dos pratos que inclui no menu do restaurante nova-iorquino. “A sandes de polvo, por exemplo, era algo que eu comia antes de ir para os jogos de futebol em Portugal”, observa. “Cresci a comer sandes de polvo. A aceitação da comida portuguesa tem sido fantástica aqui – da francesinha à galinha piri-piri.”

Para além da carta de vinhos de mesa ser 100% portuguesa, Sousa também aposta em bebidas feitas à base de vinho do Porto e da Madeira, à parte estar a preparar uma ‘Port Cellar’ “para quem gosta de vinho do Porto e quiser apreciar uma boa marca.”

O chefe diz pretender “projectar uma imagem do melhor que Portugal tem para oferecer, não apenas através da cozinha, mas de outros elementos de qualidade.”