NASCEU EM CHAVES, É ENFERMEIRA EM CONNECTICUT E ACTUA NA ÁREA DA GERIATRIA
Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO
À entrada do centro de reabilitação onde a enfermeira portuguesa Martha Moreiras trabalha há já cerca de quatro anos, em Shelton, estado de Connecticut, um pequeno memorial às vítimas que a COVID ali ceifou é o rosto do horror desta pandemia.
“Registámos o nosso primeiro doente COVID a 23 de Março de 2020”, diz Moreiras, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO. “Foi realmente assustador, ninguém sabia como proceder. Os médicos que aqui tínhamos, também eles com uma certa idade, deixaram de trabalhar presencialmente com receio de serem infectados e acabei mesmo, a certa altura, por ser a única provedora de saúde no centro a dar assistência os nossos doentes.”
🌐EM TRÊS SEMANAS, O NÚMERO DE MORTES DE UM ANO…
Em três semanas, relata a enfermeira de 38 anos, “perdemos cerca de 29 pessoas, número que geralmente equivaleria às mortes de um ano. Os pacientes iam morrendo e a única coisa que se podia fazer era dar-lhes Tylenol, oxigénio ou enviar-lhes de ambulância para o hospital.”
Embora a sua qualidade de vida “já não fosse das melhores, ainda tinham uns anos de vida que a COVID acabou por tirar. Para nós também não foi fácil, um vez que são pessoas com quem estamos durante longos períodos de tempo e por quem ganhamos afecto. São quase como que família.”
Localizado em oito hectares de terreno arborizado, o ‘Apple Rehab Shelton Lakes’ é o principal fornecedor de reabilitação a curto prazo na região – misturando programas e serviços superiores com ambientes de cura contemporâneos.
🌐DE CHAVES PARA NEW HAVEN
Martha tinha 5 anos quando os pais, Américo e Maria da Graça Ferreira, emigraram para os Estados Unidos, estabelecendo-se na cidade de New Haven, CT. “Desde cedo desenvolvi uma certa paixão pela área da saúde e ainda mesmo no liceu tirei um curso de auxiliar de enfermagem”, diz. “Mais tarde, com um bolsa por inteiro da Portuguese Civic League de Bridgeport, entrei para a Southern Connecticut State University, onde me formei como enfermeira, aos 22 anos.”
Seguiu-se uma década de trabalho no Yale New Haven Hospital, a maior unidade do género em Connecticut, onde Martha Moreiras iria passar pelos mais diversos departamentos, do bloco operatório às urgências.
Em 2010 resolve continuar carreira académica e obtém um mestrado em Enfermagem pela Quinnipiac University, que termina aos 6 meses de gravidez do filho; emprega-se depois num centro de saúde comunitário em Torrington, onde lida com pacientes de todas as idades. Há 8 anos que trabalha em lares de assistência a idosos, estando há três em Shelton. “Na escola, não era campo em que pensasse, mas agora estou muito entusiasmada com o sector geriátrico, é mesmo o que gosto de fazer.”
Apesar da COVID, que afecta de forma desproporcionada os mais idosos, Martha diz que não se imagina a fazer nada mais. “Acho que me vou reformar aqui”, nota.
A potenciais futuros enfermeiros, deixa como conselho: “Se a vossa vocação é ajudar os outros e fazer a diferença na vida de quem precisa, esta é uma profissão a considerar. Para além disso, a enfermagem tem toda uma variedade de caminhos a escolher – desde o trabalho em hospitais, lares e centros médicos, até à possibilidade de ir ao domicílio e viajar com pacientes.”