NASCEU EM NEW JERSEY FILHA DE EX-EMIGRANTES DE VISEU E FAZ CARREIRA MUSICAL EM PORTUGAL

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Quando, aos 6 anos, os pais resolveram regressar a Portugal, nada indicava que a luso-americana Lauren Ferreira Pinto fosse, um dia, pisar grandes palcos e passar por programas de TV como o icónico ‘Natal dos Hospitais’, na RTP. De nome artístico Lauren, a jovem intérprete começou por abraçar o fado (foi mesmo apadrinhada por João Braga), mas hoje envereda por outros caminhos musicais – apesar de continuar a fazê-lo sempre na língua de Camões.

“Nasci no Hospital St. James, em Newark, mas vivi até aos seis anos e meio em Kearny”, conta Lauren, 18, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO, “altura em que regressámos a São Pedro do Sul, no distrito de Viseu, com a minha irmã mais velha.”

A adaptação à terra dos pais, que passaria a ser sua também, “foi fácil porque eu, desde pequena, fui sempre muito extrovertida e tive facilidade em criar amizades e a adaptar-me a qualquer tipo de ambiente.”

Nos EUA, em casa falava português com os pais, “mas passava grande parte do tempo no infantário em Kearny e era inglês o que mais sabia. Em Portugal, entretanto, entro logo para o 1.º ano e foi só uma questão de tempo, aprendi logo português.”

Aos 15 descobre que a música é mesmo o caminho profissional a seguir, pega em si e vai viver sozinha para Aveiro; matricula-se no Conservatório, “o mais perto de Viseu que me proporcionava aquilo que eu precisava, o 12.º ano a estudar música a nível profissional.” Hoje vive em Lisboa, também por conta própria, a fazer o 1.º ano de Jazz e Música Moderna na Universidade ‘Lusíada’. “A música é o meu plano A, B, C, D… Estou a apostar tudo nesta carreira.”

Depois da licenciatura em Portugal, espera fazer o mestrado em Nova Iorque.

Aos 13 anos grava um disco de fado, ‘Palavras ao Vento’, com 11 faixas – “um original meu e os restantes temas conhecidos pela voz de Amália Rodrigues. Porquê fado? Como é natural, os meus pais ouviam muito e eu, nas viagens, acabava também por cantar.”

O álbum de estreia acaba por lhe mudar a vida, nota, “e passei de ‘teenager’ normal da escola a ter de conciliar as idas a Lisboa por causa dos concertos. Comecei a ter mais oportunidades de estar em participações com grandes fadistas, fui apadrinhada pelo João Braga e estive nos 50 anos de carreira dele, no São Luís, com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, a Cuca Roseta, Camané, Kátia Guerreiro, Maria da Fé…”.

Ao fado seguem-se outras sensibilidades musicais, sempre em português. Em dupla com o produtor Vagner Rolo, está a lançar ‘singles’ ao ritmo de um por mês, que, futuramente, servirão de conteúdo a um álbum.

“Com esta idade”, explica Lauren, “não tenho problema nenhum em arriscar e experimentar coisas diferentes, ser versátil. Considero-me acima de tudo cantora, não fadista.”

O mais recente ‘single’, ‘Imaginar’, que está a promover em vários programas na TV portuguesa e que integra a banda sonora da telenovela ‘Para Sempre’, “fala do nosso quotidiano, de querermos fugir dos dias tão iguais, de sonhar, um bocado de encontro à pandemia que estamos a passar, de estarmos fechados em casa.”

Da infância na América, reconhece ter lembranças vívidas, “e nem é dos vídeos que me mostram, lembro-me mesmo. O que mais me marcou foi o facto de termos ido à Disney, mas também me lembro do infantário em Kearny, das minhas educadoras e amizades; das brincadeiras com os meus pais e de, um dia, nos termos mudado para uma casa nova que o meu pai tinha construído. Quando o ‘ice-cream truck’ passava, assim que ouvia aquela musiquinha ia logo à cozinha pedir dinheiro à minha mãe para comprar gelados.”

A cantora recorda-se ainda de montar uma mesa à frente de casa em Kearny, com a irmã, no verão, para vender limonadas. “Quando viemos para Portugal, tentámos fazer o mesmo, mas um polícia disse-nos que não era permitido… ficámos tão tristes”, conta.

Nos EUA tem ainda família em New Jersey, Nova Iorque e Flórida. “Os meus familiares acompanham com entusiasmo as minhas idas à televisão, sobretudo na RTPi, e ligam-me para dizer que me viram… Ainda vivem isto mais do que eu.”

Através do LUSO-AMERICANO, Lauren envia “um beijinho para toda a gente, tenho um grande carinho pelas comunidades portuguesas e espero muito em breve poder estar com todos vocês e, quem sabe, dar concertos.”