NASCEU EM PORTUGAL E É ENFERMEIRO NO MAIOR HOSPITAL CATÓLICO DA NOVA INGLATERRA

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Colaboração: FERNANDO G. ROSA

“Não creio que tenha sido eu a escolher esta profissão, mas a carreira a escolher-me a mim”. É assim que o enfermeiro português Carlos André Paulo, de 38 anos de idade, explica o caminho que optou seguir ao tirar enfermagem. “Tinha cerca de 18, 19 anos”, conta o profissional de saúde, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO. “É algo que se traz dentro de nós, uma espécie de bichinho que nos morde, esta coisa de se gostar de ajudar os outros. Sempre tive essa vontade de ajudar o próximo, de ver bem as pessoas”.

Carlos viu a luz do sol pela primeira vez em Oliveira do Hospital, no distrito de Coimbra, mas assume-se “acima de tudo merugense” por ter crescido na freguesia de Meruge. Em Janeiro de 1987, os pais, Hermínio e Maria Adelaide Paulo, emigraram para Connecticut, trazendo consigo o filho Carlos, então com apenas 4 anos. Tinha 8 quando os Paulo, com a intenção de regressar a Portugal, o enviaram de volta a Meruge; acaba aos cuidados de uns tios e a fazer lá o 9.º ano de escolaridade.

No início da pandemia…

Na volta a Hartford, ingressa no programa de enfermagem do Goodwin College, em East Hartford, onde está quatro anos. Antes mesmo do final da sua formação académica, já tinha uma posição nas urgências do Saint Francis Hospital – “e assim que acabei o curso ofereceram-me emprego a tempo inteiro”.

Manteve-se no St. Francis até que em 2013 surgiu a oportunidade de se mudar para uma clínica de urgências ambulatórias em Hartford – regressando, contudo, à unidade hospitalar da Woodland Street – onde desde há 7 anos se mantém na área da radiologia de intervenção (onde se utilizam métodos de imagem para orientar procedimentos minimamente invasivos de diagnóstico e tratamento não-cirúrgico).

Como a grande maioria dos profissionais de saúde, quando o novo coronavírus transformou os hospitais da América em enfermarias COVID, adiando os procedimentos cirúrgicos considerados não-essenciais, “fomos encaminhados para as unidades de cuidado intensivos. Estive no 5.º piso a trabalhar directamente com doentes COVID”, narra. “Como profissionais que somos, fizemos o nosso trabalho, lutando contra uma doença desconhecida e seguindo directrizes médicas que mudavam quase todos os dias. O que mais me custou, contudo, foi ler nos olhos dos pacientes a sua aflição e perceber a nossa impotência em poder fazer algo para lhes salvar a vida”.

O enfermeiro Carlos André Paulo, que actua na área da radiologia de intervenção no St. Francis Hopital de Hartford, CT

O saber falar português é uma mais-valia, reconhece, “sobretudo aqui em Hartford, onde existe uma grande comunidade lusa. E, apesar de tratarmos todas as pessoas da mesma maneira, quando nos calha alguém português, é um afecto extra saberem que se podem comunicar na sua língua materna”.

Casado com a luso-americana Ana Marques Paulo, o enfermeiro tem dois filhos, um rapaz e uma rapariga; já tomou a vacina de prevenção à COVID e dia 8 deste mês é-lhe inoculada a segunda dose. “Recomendo a todas as pessoas”, diz Carlos André Paulo. “Senti apenas uma ligeira fraqueza e algumas dores no corpo, que passaram depois de uma sesta. Esta vacina vai salvar vidas e travar o avanço do vírus, fazendo com que as nossas vidas possam voltar à normalidade”.

O Saint Francis Hospital & Medical Center é um hospital de cuidados agudos com 617 camas e 65 berços, localizado na Woodland Street, em Hartford, Connecticut. É o maior hospital católico da Nova Inglaterra.