Negociações diplomáticas em Istambul: Oportunidade para Putin ganhar tempo
Russos e ucranianos deram uma hipótese à diplomacia e reuniram-se, frente a frente, em Istambul. A Ucrânia disse estar disposta a aceitar um estatuto de neutralidade, pediu que a porta da adesão à União Europeia ficasse aberta e aceita remeter para negociações futuras o estatuto da Crimeia e do Donbas.
Os representantes russos disseram que vão entregar as propostas a Putin. Os especialistas admitem um passo em frente, o da via diplomática que finalmente se abre. Mas alertam que é cedo para respirar de alívio.
Na cidade turca de Istambul, foi acolhida uma ronda de negociações entre russos e ucranianos, facto que indicia uma evolução no processo de conversações que as partes vinham mantendo quase desde o início da invasão.
Frente a frente, as duas delegações ouviram o Presidente da Turquia dizer, presencialmente, que “um cessar-fogo é benéfico para todos” e apelar à “obtenção de resultados concretos”.
São vários os indícios de que a Rússia está cada vez mais longe dos objectivos a que se propôs inicialmente. A operação especial militar na Ucrânia, previsivelmente rápida, já dura há mais de um mês. A “desnazificação” da Ucrânia, que passava pela entrada das tropas russas em Kiev e pela substituição do actual Governo por um Executivo pró-Kremlin, falhou. Mariupol, cuja conquista permitiria à Rússia o controlo sobre uma faixa terrestre entre a Rússia Continental e a península da Crimeia, anexada em 2014, continua a resistir.
Mas de Istambul saíram indícios de que a posição negocial da Ucrânia está a ir ao encontro das pretensões russas. Segundo o negociador-chefe ucraniano, David Arakhamia, o seu país concordará com um estatuto de neutralidade se houver um “acordo internacional” que garanta a sua segurança.
Esse compromisso seria assinado por vários países, ao estilo de uma espécie de fiadores, que Arakhamia enumerou: Estados Unidos da América, China, França, Reino Unido (membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU) e também Turquia, Alemanha, Polónia e Israel.
Paralelamente, a Ucrânia exige que a Rússia deixe aberta a porta da adesão à U.E e está disposta a excluir temporariamente de um acordo com a Rússia na península da Crimeia (anexada a Moscovo em 2014) e os territórios do Donbas (sob controlo de forças separatistas).
O estatuto da Crimeia, em específico, seria resolvido ao longo de conversações bilaterais que decorreriam por um período de 15 anos.
Em Istambul, pela voz do chefe da delegação e conselheiro presidencial, Vladimir Medinsky, a Rússia reconheceu ter havido “discussões substanciais” e que Kiev apresentou propostas “claras”, que serão “estudadas muito em breve e submetidas ao Presidente” Vladimir Putin.
Ainda que a Rússia pareça ter passado de uma estratégia de imposição, da situação no terreno, para uma de aceitação da negociação, há sempre outras leituras possíveis.