NOVA IORQUE: PORTUGUÊS LUÍS CARRILHO CESSA FUNÇÕES DE CHEFE DE DIVISÃO DE POLÍCIA DAS NAÇÕES UNIDAS

Por HENRIQUE MANO | News Editor | Nova Iorque

O português Luís Carrilho cessou funções a semana passada de Conselheiro de Polícia e Director da Divisão de Polícia das Nações Unidas. O alto funcionário, natural de Vila do Porto, Santa Maria (Açores), exercia o cargo na sede da ONU em Nova Iorque desde 2018.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Luís Carrilho fotografado em Setembro deste ano com o edifício-sede da ONU em Nova Iorque por trás

Por proposta do Director Nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP), e concordância do Presidente da República portuguesa, Luís Carrilho assume agora o cargo de Chefe dos Serviços de Segurança junto do Palácio de Belém. “Sou o oficial de Segurança do Senhor Presidente da República desde 2.ª feira (26 de Setembro)”, afirma o profissional de polícia, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO. “É uma função de grande honra e responsabilidade, e um grande privilégio.”

Foto: ONU | Luís Carrilho na apresentação de despedidas ao secretário-geral da ONU António Guterre

Em jeito de balanço, “falando sempre em causa própria, com a devida distância, acho que é altamente positivo”, considera Luís Carrilho. “Em primeiro lugar, um grande privilégio ter servido nas Nações Unidas (N.U.), ter a possibilidade de poder contribuir para uma causa maior, seja ao nível, no meu caso, da paz e segurança, seja ao nível da Polícia, mas também ao nível do desenvolvimento e humanitário, pois estes três pilares estão sempre interligados.”

A coincidência de ter cumprido o cargo com António Guterres na cadeira de Secretário-Geral, não lhe passa ao lado… “Um privilégio ainda maior, sendo o Secretário-Geral das N.U. português. A responsabilidade é mais acrescida, mas também um grande orgulho ter servido sob a direcção, comando e a liderança do nosso Secretário-Geral num mundo que é um mundo complicado, um mundo complexo, como pudemos ver nestes últimos quatro anos.”

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Luís Carrilho fotografado em frente à ONU em Manhattan na sua última semana como Director de Polícia do organismo

Carrilho troca os corredores da ONU na 1.ª Avenida de Manhattan pelos do Palácio de Belém, em Lisboa, com a firme convicção de que “o multilateralismo é, de facto, o grande fórum onde todos os países e outras entidades da sociedade civil podem falar e chegar a pontos de entendimento.”

O português crê ainda, com o mesmo vigor, que a ONU “deve estar alinhada para que as populações em todo o mundo, nos diferentes países, possam ter boa qualidade de vida, seja ao nível de segurança ou de outras áreas de desenvolvimento urbano, educação, saúde e uma perspectiva sempre de poder viver em paz.”

Foto: ONU | Na sede da ONU em Nova Iorque com António Guterres e outras figuras

Defensor acérrimo do papel da Polícia para o bem-estar das sociedades, Luís Carrilho nota: “A polícia, em todos os países do mundo, é uma das faces mais visíveis do estado ou do aparelho que pode ter alguma responsabilidade relativamente à segurança das populações. E, sendo isto verdade em todos os países do mundo, quando chegamos à Polícia das N.U., é a única polícia do mundo que, com o mandato legítimo do Conselho de Segurança, pode ser projectada para missões de paz, para missões políticas especiais em qualquer parte do globo para poder contribuir, seja ao nível operacional ou de capacitação, para que as populações possam ter um mínimo padrão de segurança.”

Carrilho vai mais longe para lembrar que “a Polícia das N.U. tem este papel único, mas, por si própria, não existe; a Polícia das N.U. é a polícia dos estados membros. Nós recrutamos de Portugal, de Angola, de São Tomé e Príncipe, de Timor-Leste, da França, dos EUA, do Brasil… Temos neste momento mais de 90 países contribuintes de polícias, com uma grande percentagem de mulheres polícias na nossa organização.”

A Polícia das N.U., que descreve como “um instrumento apolítico”, tem um contingente de mais de 10 mil agentes “em cerca de 16 missões de manutenção de paz e em toda uma panóplia de missões no terreno.”

Apesar de ter os Açores na certidão de nascimento, Luís Carrilho é um português do mundo; filho de pai polícia, aos 5 anos troca Santa Maria pela cidade da Praia, em Cabo Verde, onde viveu 2 anos. Em Lisboa fez os estudos secundários e a Escola Superior de Polícia (que prevaleceu em relação ao Instituto Superior Técnico). “Acho que foi a escolha certa”, afirma. “Hoje em dia, olhando para trás, de facto, ser polícia deu-me a oportunidade de viver experiências fabulosas mas de poder contribuir – porque ser polícia é isso – para a melhor qualidade de vida dos outros, poder servir as populações na área da segurança. E este é um sentimento muito gratificante.”

Luís Carrilho diz dever um agradecimento pela oportunidade da passagem pela ONU em Nova Iorque “a Portugal, ao Ministério da Administração Interna, ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, ao Senhor Primeiro-Ministro e à Presidência da República, por terem acreditado que eu teria as condições para poder ser o Conselheiro de Polícia das Nações Unidas.”