O 2.º CHEFE DE ORIGEM PORTUGUESA NOS MAIS DE 100 ANOS DE HISTÓRIA DA POLÍCIA EM LUDLOW
Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO
Aos 53 anos de idade, o luso-americano David Valadas é o segundo chefe da Polícia de origem portuguesa em Ludlow, um município a nordeste do estado de Massachusetts que chegou a ser considerado ‘a localidade mais portuguesa da América’. Valadas, nomeado a 29 de Maio de 2020 pelo Conselho Municipal, assumiu o cargo a 3 de Junho do mesmo ano – três décadas depois de ter começado carreira como ‘agente auxiliar’.
É apenas a segunda vez que a Polícia de Ludlow, em cerca de 110 anos de historial, tem um luso-descendente na sua posição máxima de chefia. John Ribeiro Jorge, que viveu de 1928 a 2011, fica com os louros de ter sido o primeiro – com a honraria de dar nome à esquadra onde funcionam os serviços daquela força de segurança, na Chapin Street. Jorge, que já nasceu em Ludlow filho dos emigrantes Luciana e José Ribeiro Jorge, tornou-se agente em 1953, logo após ter terminado o liceu. Chega a chefe em 1968, permanecendo no cargo 35 anos.
🌐CHEGA A CHEFE EM PLENA PANDEMIA
Valadas, por seu lado, chega também a chefe depois de ter escalado todos os degraus da hierarquia policial em Ludlow, assumindo o cargo em plena pandemia COVID. “Como seria expectável, nenhum de nós faltou ao trabalho ou às suas responsabilidades”, afirma o chefe, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO. “Nunca cessámos as nossas operações, apesar de termos enfrentado todos um coronavírus de que pouco ou nada se sabia – e ainda assim tivemos 16 casos positivos na nossa força policial, com dois agentes que continuam de quarentena.”
Conhecido pela sua humildade e acessibilidade, o chefe Valadas confessa que, se há dez anos lhe tivessem dito que iria comandar a Polícia de Ludlow, “não acreditaria. Sempre senti que estavam pessoas à minha frente. Quando saímos da Academia de treino e começamos carreira, a preocupação maior é executarmos as nossas funções da melhor maneira e servirmos o público. A última coisa que nos vem à mente é chegarmos a chefe.”
🌐MAIS DE 45% DA FORÇA POLICIAL É DE ORIGEM PORTUGUESA
A Polícia de Ludlow, com orçamento de 4 milhões de dólares, congrega hoje 75 profissionais, dos quais “pelo menos 45% tem sangue português”, sublinha Valadas.
Na óptica do chefe, “as qualidades de liderança podem ser uma questão de personalidade, mas também passam pela formação e experiência. No meu caso, por exemplo, eu sou acima de tudo um agente da polícia e é nessa qualidade que geralmente lido com os meus subalternos. É importante que eles percebam que me preocupo com eles, que reconheço os seus anseios e aspirações e que, mesmo sem poder resolver todos os problemas que possam ter, dou-lhes sempre ouvidos.”
🌐UMA CARREIRA MUITO HONRADA
Valadas, que chega a ser chamado às 3:00 da manhã e mesmo no dia de Natal para se dirigir ao trabalho, diz que a decisão mais difícil que teve de tomar foi a demissão de um dos seus agentes. E tem ainda uma palavra de afecto para com a mulher, que é enfermeira: “Não é para toda a gente estar casado ou casada com um chefe de polícia. A minha esposa é uma mulher especial – e eu nem sempre chego a casa, depois do serviço, com as melhores das disposições…”.
Deixa um conselho: para se ser polícia, é necessário muita discrição, compaixão (“mesmo quando se lida com um elemento perigoso, o que não é fácil”) e agir com rapidez. “Não há, na minha opinião, muitas pessoas talhadas para este trabalho, mas teremos de as encontrar”, afirma, “porque estamos a falar de uma profissão muito honrada.”
🌐DADOS BIOGRÁFICOS
➝ O pai de Daniel José Valadas deixou Caldas da Rainha (“onde ainda tem família”) em 1963 rumo à América. A mãe já nasceu em Elizabeth, NJ, com origens em Alcobaça e Peniche, mas a família mudar-se-ia para Ludlow, onde conheceu o marido num baile e constituiu lar.
➝ Daniel Valadas nasceu em Springfield; estava indeciso quanto à carreira profissional a seguir, quando, em contacto com outros polícias, decidiu seguir criminologia.
➝ Passou pelo American International College e pela Western New England University; opta por também se alistar no serviço militar, recebendo treino em Alabama e fazendo uma missão de paz na Guatemala e duas de treino no âmbito da NATO, na Islândia e no Canadá. Em 1986 entra para a reserva e quatro anos depois torna-se polícia auxiliar em Ludlow.
➝ Entretanto, entra para guarda prisional no departamento de xerife em Hampden, MA e só em 1993 se junta a tempo inteiro à Polícia de Ludlow.
➝ Paralelamente, dá aulas como professor convidado na sua alma mater – a Western New England University, onde ensina cadeiras como Contra-Terrorismo, Consumo de Estupefacientes na Sociedade e História Global da Criminologia.