O HOMEM QUE SALVOU O MUNDO

por Luis Pires

O Blasfémia continua a supreender-me pela orginalidade e algum sarcasmo. Esta semana foi demais.
“O Zé presenteou os familiares no Natal com compotas caseiras no quintal de cada um. Agora, lá vai o Zé tomar a vacina. Quando de lá sair, completamente revigorado, virá rapidamente para casa com a sua máscara colocada para respeitar o recolher obrigatório plenamente convencido de que está imune à doença desde que continue a rejeitar qualquer convívio com amigos e familiares e continue a lavar as mãos com after shave para não coçar o olho.
A vida do Zé não mudou absolutamente em nada. Continua “em teletrabalho” na Playstation. A mulher do Zé continua em teletrabalho no site onde mulheres se despem para outros tele-trabalhadores. Continuam sem sair de casa e as cidades continuam livres de turistas – graças a Deus, que há mileniais influencers do partido que precisam de casa acessível no centro. Os filhos do Zé continuam sem saber se vão ter escola no dia seguinte ou se o professor vai meter a terceira “quarentena preventiva” do ano. Ninguém sabe quando volta a entrar no país depois de passar uma fronteira, pelo que ninguém sai do país (e ainda bem: iam lá para fora contaminar inocentes?). Começa a construção do TGV para não ficarmos fora da linha transeuropeia de ferrovia. No entanto, o Zé está satisfeito. O Zé salvou o planeta do vírus porque tomou a vacina.
Lá para o fim do Inverno, o Zé dará um tiro nos cornos. Mais um que morrerá de covid sem tempo para ver o novo aeroporto de Lisboa.
A vida corre mais depressa que o Zé e as notícias espalham-se à velocidade da Luz. Se não fosse assim não havia pandemia.