Papa Francisco realça não exister guerras justas

“Estamos acostumados a ouvir notícias de guerras, é certo, mas muito longe. Síria, Iémen… É habitual. Agora que a guerra está perto, ela está na nossa casa, practicamente, e isto faz-nos pensar no lado selvagem da natureza humana, aquilo de que somos capazes. Assassinos dos nossos irmãos”, lamentou, numa intervenção improvisada perante os membros da Fundação Pontifícia Gravissimum Educationis, reunidos numa missa em Roma para uma séria reflexão sobre educação e democracia.

Francisco convidou os presentes a pensar nos “tantos soldados que são enviados para a frente, muito jovens”, russos e ucranianos, e nos habitantes que sofrem com a guerra.

O Evangelho pede que não olhemos para o outro lado, que é precisamente a atitude mais pagã dos cristãos.

Quando um cristão se acostuma a olhar para o outro lado, ele lentamente se torna um pagão disfarçado de cristão.

O Papa recordou que o Hospital do Menino Jesus, da Santa Sé, recebeu em Roma crianças feridas pelos bombardeamentos e pediu que todos os cristãos se questionem sobre o que podem fazer.

“Levá-los para casa, devo? Faço jejum? Faço penitência? Ou vivo despreocupado, como normalmente vivemos em guerras distantes? Uma guerra, sempre, sempre, é a derrota da humanidade, sempre”, insistiu o Papa.

Francisco destacou que a oração pela paz deve ser acompanhada por um paciente empenho educativo, para que as crianças e os jovens desenvolvam uma forte consciência de que os conflitos não se resolvem com violência e opressão, mas sim com debate e diálogo.

A intervenção alertou para os perigos do totalitarismo, no qual o Estado exerce a opressão ideológica, e do secularismo radical, que deforma o espírito democrático ao eliminar a dimensão transcendente.

Na sua encíclica ‘Fratelli Tutti’ (2020), o Papa dedicou uma reflexão à injustiça da guerra, pedindo que, com o dinheiro usado em armas e noutras despesas militares, se constitua um fundo mundial, para acabar de vez com a fome e para o desenvolvimento dos países mais pobres.

O texto destaca também o perigo do desenvolvimento das armas nucleares, químicas e biológicas.

“Já não podemos pensar na guerra como solução, porque provavelmente os riscos sempre serão superiores à hipotética utilidade que se lhe atribua. Perante esta realidade, hoje é muito difícil sustentar os critérios racionais amadurecidos noutros séculos para falar duma possível “guerra justa”.