PARA PORTUGUÊS DIRECTOR DE HOTEL DE LUXO NA WALL STREET, RECUPERAÇÃO DO SECTOR VAI SER “LENTA E NÃO ANTES DE JUNHO”
Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO
Em 2011, o presidente do Fundo Monetário Internacional e candidato a presidente de França, o poderoso Dominique Strauss-Kahn, é preso no aeroporto JFK, em Nova Iorque, acusado de assédio sexual a uma funcionária de limpeza no Hotel Sofitel, em Manhattan. O escândalo dominou as páginas dos jornais de todo o mundo durante semanas, Strauss-Kahn caiu em desgraça e desistiu do Palácio de Versalhes.
O incidente provocou um pesadelo de relações públicas para o Hotel Sofitel, na altura de um grupo de hotelaria francês, e deixou o seu director, o algarvio Jorge Tito, a ‘apagar fogos’ constantes…
“Para além da situação no Sofitel, também estava na Argentina quando se deu a grave crise económica de 2008, com a queda da Lehman Brothers, mas o que é diferente agora é que esta tem uma expressão global com um impacto muito mais forte ao restringir toda a vida social”, afirma Jorge Tito, na entrevista que concedeu ao jornal LUSO-AMERICANO. “Por outro lado provocou uma quebra tremenda na aviação internacional, o que tem um efeito devastador para a hotelaria. Esta crise parou o mundo, é uma guerra sem armas com mortes à mesma e um inimigo invisível.”
❝O QUE É DIFERENTE AGORA É QUE ESTA CRISE TEM UMA EXPRESSÃO GLOBAL COM UM IMPACTO MUITO MAIS FORTE AO RESTRINGIR TODA A VIDA SOCIAL❞
➔Jorge Tito, director de hotelaria
Com carreira internacional há mais de duas década, Jorge Tito está hoje à frente de uma unidade hoteleira de lifestyle em pleno coração do distrito financeiro de Nova Iorque, a Wall Street. O ‘Andaz’, do grupo Hyatt, onde se tornou director-geral em 2018, tem 253 quartos (a diária pode chegar a $3000…) e uma equipa de 125 profissionais.
A pandemia da COVID-19 obrigou o hotel a suspender operações. “Não compensava estar aberto, as pessoas não estão simplesmente a viajar”, explica Tito.
Natural de Lagoa, Algarve, a carreira de Jorge Tito levanta voo em 1992 depois de ter obtido o canudo na Escola de Hotelaria e Turismo do Porto. Após estágio no Hotel Penina, em Alvor, em 1998 acontece o primeiro posto no
estrangeiro: no Brasil, como director de operações do Le Meredien, em Salvador da Bahia. Em 2003 regressa a Portugal para assumir como Director-Geral o Hotel Quinta do Lago; no ano seguinte, muda-se para a VILALARA, na época parte do grupo Accor e com a bandeira Sofitel. Em 2007 aceita novo desafio, na altura para gerir o Sofitel Buenos Aires, e anos depois recebe proposta para assumir a direção do Sofitel New York. Transita de seguida para a mesma cadeia em Copacabana, no Rio de Janeiro. Em 2010 chega a Nova Iorque para gerir o Sofitel e posteriormente o ‘W’ em Times Square. Regressa ao Brasil como director de operações do Grupo Pestana e em 2015 é nomeado director-geral do Pestana South Beach, em Miami, onde permanece até à sua vinda para o ‘Andaz’.
❝[NA HOTELARIA] VENDEMOS UM CONCEITO DE CONFIANÇA E PRIVACIDADE ENTRE QUATRO PAREDES❞
➔Jorge Tito, director de hotelaria
Para Tito Jorge, a gravidade da crise actual passa ainda pelo “acesso cada vez maior que hoje se tem à informação, de uma forma muito rápida e em constante mutação. O mesmo problema, certamente, teria um impacto diferente se tivesse ocorrido há 30 anos, era sentido de outra maneira.”
O tsunami de informação, lembra o director de hotelaria, “é em velocidade e quantidade, incluindo as chamadas ‘fake news’. As pessoas deixam de ter confiança em tudo o que as rodeia, o que é preocupante.”
Na hotelaria, lembra, “vendemos um conceito de confiança e privacidade entre quatro paredes. Um hóspede entrega o seu bem-estar à responsabilidade do hotel. No tocante à higienização, por exemplo, que sempre esteve na primeira linha de preocupação dos hoteleiros, a diferença é que daqui para a frente esse esforço vai estar muito mais visível, com uma comunicação explícita e transparente de que aquele quarto foi inspeccionado antes de ter sido ocupado.”
❝VAI SER UMA RECUPERAÇÃO MUITO LENTA E CREIO QUE, EM NOVA IORQUE, NÃO HAVERÁ POSSIBILIDADES ANTES DE JUNHO DE SE REABRIR O SECTOR❞
➔Jorge Tito, director de hotelaria
Jorge Tito antevê este cenário: vai haver o período pós-COVID-19 antes da vacina e o depois da vacina “como ponto de transição e mudança. Vai ser uma recuperação muito lenta e creio que, em Nova Iorque, não haverá possibilidades antes de Junho de se reabrir o sector. E tudo dependerá da recuperação da confiança por parte das empresas para começarem a enviar funcionários para a rua de forma a que possam ocupar os hotéis.”
Por outro lado, refere, a terminar, “tem de haver um grande sentimento de responsabilidade de que as vidas das pessoas tem de estar primeiro.”