Plano controverso de Londres sobre Belfast
O Governo do Reino Unido desistiu do plano de arquivar todos os processos judiciais relacionados com o conflito da Irlanda do Norte. O primeiro-ministro Boris Johnson anunciou esta segunda-feira que poderá ser oferecida “imunidade” apenas àqueles que cooperarem.
Em Julho passado, Londres apresentou um plano controverso, denunciado pelas duas facções norte-irlandesas, como uma “amnistia”, que se aplicaria tanto às Forças Armadas britânicas quanto aos paramilitares unionistas e republicanos acusados de crimes cometidos antes do acordo de paz de 1998.
“Ouvimos muitas pessoas nos últimos meses e reflectimos sobre o que ouvimos”, explica o governante conservador, num texto de opinião publicado pelo jornal “Belfast Telegraph” no mesmo dia em que Johnson inicia uma visita à Irlanda do Norte.
O objectivo é desbloquear o impasse político criado pelo ‘Brexit’ (processo de saída do Reino Unido da União Europeia).
O acordo de paz concluído em 1998, também conhecido como Acordo de Sexta-Feira Santa, pôs fim ao conflicto entre unionistas, principalmente protestantes e partidários da manutenção da província sob a coroa britânica, e republicanos, sobretudo católicos e militantes pela reunificação da ilha. Essa guerra fez 3500 mortos no século XX.
A questão esteve no centro das comemorações do cinquentenário do Domingo Sangrento (Bloody Sunday), quando 13 manifestantes católicos foram mortos por soldados britânicos, em 30 de Janeiro de 1972.
Após diálogo com as famílias das vítimas, o primeiro-ministro irlandês, Michéal Martin, primeiro líder da República da Irlanda a assistir à cerimónia anual, defendeu a continuação dos processos nos tribunais.
A Irlanda do Norte viu ressurgir fantasmas identitários “na senda” da saída do Reino Unido da União Europeia. No referendo de 2016, 56% dos norte-irlandeses votaram pela permanência. Viram-se arrastados contra a própria vontade para o “Brexit” e sujeitos ao acordo que Johnson negociou com Bruxelas, ignorando as promessas que fizera ao território.
Irlanda do Norte defende a ideia do seu território pertencer ao Reino Unido apesar de geograficamente se situar na ilha da Irlanda.