POLÍCIA DE CLARK, NJ ENTRA EM 2023 COM QUASE TODO O SEU COMANDO EM MÃOS DE PROFISSIONAIS LUSO-AMERICANOS
Por HENRIQUE MANO | News Editor | Clark, NJ
O Departamento de Polícia do município de Clark, no estado de New Jersey, entra em 2023 com a maior parte do seu alto comando em mãos de profissionais de origem portuguesa. Para além de ser luso-descendente o seu actual chefe (que, contudo, não se encontra em exercício de funções de momento), também o são um dos seus dois capitães (Miguel Acabou), os seus dois únicos tenentes (Sérgio Henriques e Ricardo Oliveira) e um dos sargentos, Pedro Oliveira.
De acordo com o American Community Survey, 6,2% da população de Clark (que ronda os 16 mil habitantes) é de origem portuguesa, ou seja, é o 6.º maior grupo étnico neste município do condado de Union.
Este ano, o município promoveu os luso-americanos Miguel Acabou a capitão (tal como o jornal LUSO-AMERICANO a seu tempo noticiou) e Sérgio Henriques e Ricardo Oliveira às patentes de tenente, cimentando desta forma a hegemonia portuguesa na liderança da Polícia local (cuja força soma mais de 40 agentes de autoridade).
O tenente Sérgio Henriques, de 46 anos, nasceu em Cacia-Aveiro e tinha meses quando os pais o levaram para os EUA; estaria em Newark, NJ até aos 6 anos de idade, altura em que regressa ao país de origem. Aos `12 anos retorna a New Jersey, “e fiz sempre parte da comunidade portuguesa do Ironbound, onde completei o Liceu East Side.”
Apesar de ter sonhado com a carreira de futebolista, Sérgio Henriques acabaria por fazer de tudo um pouco até à entrada para a polícia – de DJ a vendedor e gerente de restauração. Depois do teste de aptidão à carreira de manutenção da lei e ordem, passa pela então Academia de Polícia de Newark e em Setembro de 2009 veste a farda de agente da autoridade pela primeira vez no maior centro urbano de New Jersey.
Quando, 2 anos depois, é dispensado por uma reestruturação na cidade, transita para a Polícia de Clark, onde começa a fazer patrulha e vai escalando na hierarquia administrativa (sargento em 2019 e tenente em 2022).
“Como tenente, estou encarregue de supervisar o trabalho dos sargentos, que estão abaixo de mim, e, por conseguinte, dos agentes que aqui trabalham diariamente”, explica Sérgio Henriques, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO. “Certificamo-nos de que corre tudo bem no policiamento de proximidade e na resposta às ocorrências que nos chegam via linha 911 ou de outra forma.”
O tenente explica que grande parte do seu trabalho é, por natureza, burocrático: “temos de recolher números e apresentar estatísticas, garantir que está tudo com os pontos nos ‘is’ no que se refere também ao aspecto administrativo do nosso trabalho.”
Muito embora também seja filho de emigrantes de Ílhavo, o tenente Ricardo Oliveira, 37, já nasceu em New Jersey e também cresceu no mesmo Bairro Leste. À semelhança de Henriques, fez igualmente a escola secundária no “East Side”; começou por trabalhar como mecânico e também passou por uma unidade bancária portuguesa em Newark, “sempre com a ideia de um dia entrar para a polícia”, conta, falando ao jornal LUSO-AMERICANO no seu gabinete de trabalho na Polícia de Clark, que partilha com Henrique. “Afinal, tenho dois irmãos no mesmo ramo – um sargento em Newark e outro sargento aqui em Clark. Sobretudo o meu irmão mais velho foi sempre uma grande influência para mim, desde os 7 anos que seguia com interesse o que fazia.”
Curiosamente, aos 24 anos recebe treino policial na mesma academia e na mesma turma que o colega Sérgio Henriques, entrando para as fileiras da Polícia de Newark; quando passa pela mesma situação de dispensa, segue para a Polícia de Linden e só depois entra em Clark (em Setembro de 2012).
“Comecei como agente de patrulha, por baixo, e, anos depois, em 2017, cheguei a sargento e, em 2022, a tenente”, resume Oliveira.
À parte as tarefas administrativas que também lhe cabem como tenente que é, Ricardo Oliveira tem ainda a seu cargo a manutenção da frota de veículos policiais de Clark e é instrutor de armas de fogo (“temos a nossa própria carreira de tiro para treino dos nossos agentes”, pormenoriza). “Mas também tenho saudades do trabalho de proximidade com os moradores do município que protegemos.”
Tal como Henriques, que diz tentar ir a Portugal todos os anos e procurar não esquecer o português, o tenente Ricardo Oliveira reconhece que “saber falar português faz toda a diferença na nossa carreira. Em minha casa só se falava português e, de certa maneira, ainda hoje é assim.”
Oliveira diz ter contado com o apoio e compreensão dos pais ao escolher, tal como os dois irmãos, uma profissão de risco. “Somos uma família de polícias mas é claro que, quando estávamos os três irmãos em Newark, a minha mãe preocupava-se conosco”, nota.
Acima de Henriques e Oliveira, na Polícia de Clark, está o também luso-descendente Miguel Acabou, natural de Livingston, NJ, mas criado no Ironbound de Newark, e oficialmente promovido a Capitão há algumas semanas. É agora uma das duas mais altas entidades policiais neste município do condado de Union.
Filho dos emigrantes Manuel e Maria Acabou, naturais da Torreira-Murtosa (distrito de Aveiro), depois de ter frequentado o Liceu “East Side”, no Ironbound, optou por entrar na Academia de Polícia de Newark, sendo posteriormente colocado na 3.ª Esquadra – onde está como agente de patrulha de Setembro de 2006 a Dezembro de 2011.
Em 2012, começa novo e decisivo capítulo profissional, ao ser admitido na Polícia de Clark, NJ, onde vai subindo os degraus da hierarquia policial – passando de agente a sargento (em 2017), de sargento a tenente (2020) e agora Capitão.