Polícia Judiciária confia que Igreja não barre investigações

A Igreja não vai dificultar a investigação da Polícia Judiciária e do Ministério Público em relação aos alegados abusos de padres e acólitos sobre menores. É esta a convicção de fontes judiciais. “Creio que desta vez essa dificuldade poderá ser ultrapassada, não só pela criação de uma comissão para esse efeito como pelo mediatismo que esses membros possuem na sociedade civil.”

A mesma fonte revela que antes da criação da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja, coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, no final do ano passado, os inspectores e procuradores não partilhavam deste optimismo.

A experiência dos últimos anos de quem investiga estes casos tem mostrado que a Igreja “usa a técnica da avestruz”, “tenta amenizar os danos” e até “chega a travar as investigações” quando recai uma suspeição sobre um pároco. “Receiam sempre a entrada em campo das autoridades”, descreve a mesma fonte judicial.

Nos casos detectados agora pela Comissão há “indícios de ocultação” dos abusos.

Os padres suspeitos eram transferidos para outras paróquias, como se o local onde viviam tivesse alguma influência no abuso. Alguns dos bispos suspeitos destas prácticas e até padres apontados pelas vítimas continuam ao serviço da Igreja.

Em reação às queixas investigadas, o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, defendeu que um eventual afastamento preventivo de clérigos ainda em funções ligados a abusos sexuais na Igreja Católica deve ser analisado “caso a caso”. Mas não tomou ainda qualquer decisão.