Porto: Criada rede para combater a violência doméstica

Mais de duas dezenas de entidades de áreas como a justiça, saúde, emprego, protecção social, forças de segurança, organizações não-governamentais e a câmara municipal, formalizaram a criação da Rede de Referenciação e Intervenção na Violência Doméstica e em Contexto Familiar do Porto.

“Este não pode continuar a ser um crime escondido”, afirmou o presidente da Câmara Rui Moreira, alertando que o trabalho tem de ser desenvolvido noutros municípios.

“Este não pode ser o esforço de um município isolado. Se conseguimos construir aqui uma rede é absolutamente fundamental, uma exigência, que outros municípios façam a mesma coisa. Infelizmente, o que vemos é que isso não é prioridade de outros municípios, nem da Área Metropolitana do Porto”, vincou o autarca.

“Bem sei que pode ser mais interessante colocar uma estátua numa rotunda. É fundamental, quando se avizinham eleições autárquicas, que estas matérias [da violência doméstica] sejam colocadas em primeiro lugar”, acrescentou, deixando elogios para o Ministério Público e as forças de segurança pelo trabalho desenvolvido nesta área.

O problema, considera Moreira, tem vindo a agravar-se: “Sabemos que alguns instrumentos, por exemplo as redes sociais na internet, fomentam este tipo de comportamentos. Este é um trabalho geracional. Pela nossa parte estamos muito empenhados e agradecidos porque é em trabalho de rede que podemos fazer a diferença”.

“Os números da violência doméstica em Portugal são um murro no estômago para qualquer pessoa com o mínimo de empatia, compaixão e sentido de justiça”, continuou, aludindo às mais de 30 mil denúncias registadas em 2023.

“Dezassete mulheres acabariam por morrer, num total de 22 homicídios em contexto de violência doméstica. Seis desses homicídios tiveram lugar no Porto”, pormenoriza a Câmara Municipal através de um comunicado.

“Intervenção e prevenção devem andar juntas no combate à violência doméstica. É indispensável ter meios e técnicos no terreno para apoiar, eficazmente, as vítimas e evitar os crimes, da mesma forma que é preciso investir numa mudança transgeracional de mentalidades a partir da escola”, continuou Rui Moreira, citado no mesmo documento. “Temos plena consciência de que a concentração de esforços a nível local é a via mais eficaz de prevenção e com- bate a este fenómeno social”, concluiu.

Também o vereador da Coesão Social, Fernando Paulo, frisou a importância do trabalho em conjunto: “É imperativo que nos sensibilizemos para esta realidade inadmissível, unindo forças para combater e erradicar qualquer forma de violência. É preciso garantir a segurança, dignidade de todas as pessoas, independentemente do seu género, idade e condição social”.

Para Fernando Paulo, a nova rede “será o caminho para chegar a formas de cooperação mais eficazes para responder às múltiplas questões e desafios da violência de género e doméstica”.

“Este foi um processo longo no Município. A rede visa empoderar, capacitar as vítimas, evitar a dupla e tripla vitimização. Não somos nós os especialistas na área da violência são elas [as vítimas]”, disse, por sua vez, Manuel Albano, vice-presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.