PORTUGUÊS COM PIZZARIAS EM NOVA IORQUE NUNCA ABANDONOU O ‘BARCO’, MAS A TEMPESTADE É PARA DURAR – AVISA

Por HENRIQUE MANO

Há mais de três décadas a operar no ramo alimentar em Nova Iorque, Amadeus Manata já viveu outras crises – o 11 de Setembro, a queda da Bolsa de Valores, a tempestade Sandy. “Nunca, mas nunca vi nada assim”, reconhece o proprietário das conhecidas pizzarias ‘Famous Amadeus’, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO. “Nem nos meus piores pesadelos eu poderia imaginar Nova Iorque da maneira como está. Não consigo expressar o que me vai pela alma, ao ver esta cidade assim; tudo o que Nova Iorque me deu, está a tirar agora.”

❝NEM NOS MEUS PIORES PESADELOS EU PODERIA IMAGINAR NOVA IORQUE DA MANEIRA COMO ESTÁ❞

➔Amadeus Manata, proprietário de duas

pizzarias em Manhattan

Manata, que emigrou de Cantanhede para a América em 1977, mantém abertas as suas duas pizzarias em Nova Iorque – ambas na (outrora) movimentada Oitava Avenida, em pontos emblemáticos da ‘Big Apple’: uma entre a 50.ª e a 51.ª, no histórico edifício do Gershwin Theatre (onde estava em cena o musical ‘Wicked’ quando a pandemia explodiu) e outra junto ao Madison Square Garden.

“Abri a minha primeira pizzaria em Nova Iorque há 24 anos, depois de também ter tido uma mercearia em Soho”, conta Amadeus Manata, que, à chegada aos Estados Unidos, se fixou em New Jersey. “Cheguei a ter cinco pizzarias.”

Apanhado de surpresa pelo novo coronavírus, como o resto do mundo, aliás, Manata conseguiu manter abertas as duas pizzarias – não obstante a debandada de muitos dos seus empregados. “Mantive as portas abertas com aqueles que quiseram continuar a trabalhar, mas não foi fácil: ainda hoje tenho empregados com receio de voltar ao trabalho”, garante.

❝AINDA HOJE TENHO EMPREGADOS COM RECEIO DE VOLTAR AO TRABALHO❞

➔Amadeus Manata, proprietário de duas

pizzarias em Manhattan

O português montou uma barreira de protecção junto á área de atendimento e onde tem as pizzas em exposição, juntando a ela todas as mesas que tinha no restaurante onde agora ninguém se senta – “para manter a distância entre os meus empregados e os clientes.”

Amadeus Manata contava com os turistas, os musicais da Broadway e os funcionários dos escritórios à volta para funcionar. “Agora as luzes da Broadway apagaram-se, os turistas não chegam e a maior parte das pessoas está em teletrabalho”, resume. “Apesar de estar aberto das 11:00 da manhã às duas da madrugada, o meu volume de negócios caiu 75%.”

O ‘take-away’ e o ‘delivery’ têm sido a salvação. “Ajuda a equilibrar as despesas mas não é suficiente nem para pagar aos empregados, quanto mais para a renda”, diz.

As ajudas governamentais não cobrem “nem 20% daquilo que eu necessito para sobreviver em Nova Iorque neste clima”, nota.

Manata planeia manter abertos os dois estabelecimentos “até ao fim do ano, mas se nada mudar, não vejo a luz ao fim do túnel e muito provavelmente terei mesmo de encerrar uma ou as duas pizzarias”, calcula.

De momento conta mesmo com os chamados trabalhadores essenciais para sobreviver – “os polícias, porteiros, carteiros e outros que ainda vão ao serviço. Quando a campanha do Mike Bloomberg [à presidência] estava a decorrer, chegava a entregar uma média de 100 pizzas por dia para a sua sede, que era aqui perto.”

❝OS SUBSÍDIOS DO GOVERNO NÃO COBREM NEM 20% DAQUILO QUE EU NECESSITO PARA SOBREVIVER EM NOVA IORQUE NESTE CLIMA ❞

➔Amadeus Manata, proprietário de duas

pizzarias em Manhattan

O empresário português também está habituado a lidar com celebridades e nomes do universo do entretenimento. Sobretudo pela localização da sua pizzaria no prédio do Gershwin Theatre, já lhe entraram pela porta famosos como John Travolta, Keanu Reeves, Mariah Carey e actores da Broadway. Em 2015, o seu estabelecimento acabou nas páginas dos jornais depois de a extravagante cantora Lady Gaga lhe ter aparecido com os seios à mostra para comprar pizza.

A cantora Lady Gaga em 2015 a sair da pizzaria do português Amadeus Manata, em Nova Iorque

“Chegaram-me a oferecer 20 mil dólares pelas imagens das câmaras de segurança que tenho instaladas, mas claro que não aceitei, os meus clientes estão primeiro”, revela.

Amadeus Manata, que chegou a fazer pizzas com bacalhau e agora ainda utiliza o chouriço português como um dos ingredientes à escolha, está pouco optimista no que toca à retoma económica de Nova Iorque. Vai tentar aguentar o barco até ao início de 2021, mas acha que a tempestade é para durar…