PORTUGUESA É A PRIMEIRA FUNCIONÁRIA DE HOSPITAL NOVA-IORQUINO A TOMAR VACINA CONTRA A COVID-19

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Na terça-feira, 15, a portuguesa Fernanda Novo Anes, de 55 anos, tornou-se na primeira funcionaria do NYU Langone Hospital Long Island (ex-Winthrop) a quem foi administrada uma primeira dose da vacina contra a COVID-19 saída dos laboratórios da norte-americana Pfizer. A técnica de higienização, afecta precisamente à enfermaria COVID daquela unidade hospitalar nova-iorquina, disse ao jornal LUSO-AMERICANO que, até sexta-feira seguinte, não tinha registado nenhum sintoma adverso à vacina.

Antes de, às 2:40 da tarde, se ter dirigido para a sala onde um enfermeiro conduziu o procedimento, Fernanda enviou uma mensagem de texto ao marido e aos dois filhos. “Foi tudo muito rápido e eu achei por bem dizer-lhes”, conta a imigrante transmontana. “Quando me perguntavam se ia apanhar a vacina, dizia sempre que esperava para ver. Uma semana antes, a médica que dava assistência aos doentes COVID no andar onde eu trabalhava – e que é uma inspiração para mim, disse-me que ia tomar a vacina, apesar de nunca ter sido infectada. Isso deu-me força e coragem para também o fazer”.

Fernanda Anes em frente ao NYU Langone Hospital Long Island

Anes, contudo, nunca imaginou que lhe caberia o primeiro lugar na lista de funcionários do hospital, “até que o meu chefe me informa que seríamos os primeiros por estarmos no andar da enfermaria COVID. Sempre imaginei que à nossa frente fosse o pessoal médico… Quando cheguei ao local, já lá estava uma colega minha, que, aparentemente, seria a primeira. Depois, por uma questão burocrática qualquer, acabei por avançar eu”.

A técnica de higienização garante que “doeu menos do que quando apanho a vacina da gripe. Duas colegas minhas chegaram a ter uma dor no braço, eu nem isso”, relata. “Não tive reacção absolutamente nenhuma”.

Se tudo correr conforme o planeado, a portuguesa toma, daqui a três semanas, a segunda e última dose da vacina, esperando-se que logo depois venha a desenvolver anti-corpos contra o coronavírus.

“Desde Fevereiro que nunca faltei ao trabalho”, diz. “Estive todos estes meses a limpar os quartos de doentes COVID sem nunca ter tido o vírus. Só de pensar que agora me coube a mim apanhar a vacina primeiro,  que tudo foi tão simples, às vezes nem acredito”.

Da Suíça e de França, onde tem irmãs emigradas que inclusive tiveram COVID, “não param de chegar mensagens de congratulações”, revela.

Já de manga arregaçada à espera de tomar a primeira dose da vacina contra a COVID-19, na passada terça-feira

Fernanda Novo Anes é natural de Frades do Rio-Montalegre, distrito de Vila Real, e emigrou em 1989 para Mineola, na região nova-iorquina de Long Island, onde vive desde então. O marido, António, é igualmente de Trás-os-Montes; o casal tem dois filhos.

Há 8 anos que Fernanda é técnica de higienização no antigo Winthrop, no piso GP2 do hospital. “No início da pandemia, eu já estava afecta a essa zona quando decidiram transformar o andar em enfermaria COVID”, explica. “Nessa altura cheguei a trabalhar 12 dias seguidos; depois ouvia os colegas falarem em muitos mortos e sacos de cadáveres, o que me deixou mentalmente exausta. Agora os casos estão de novo em alta e o meu piso está outra vez a receber doentes COVID – são pelo menos 15 quartos. O paciente sai e entramos nós para a limpeza e desinfecção – há que limpar a cama, lavar o chão e parede e desinfectar a casa de banho para o próximo paciente. É um ciclo”.

Acrescenta Fernanda: “Às vezes pergunto a mim própria como é que ‘isto’ se apanha e de onde vem, porque eu tenho amigas que têm todo o cuidado e ainda assim tiveram COVID. Eu, que estou exposta a portadores da doença e tenho um filho também numa profissão de risco, graças a Deus nunca apanhei”.

Fernanda Anes é técnica de higienização numa enfermaria COVID

Fernanda crê que “Deus dá inteligência aos médicos para que em momentos como este tenham criado esta vacina, por isso estou disposta a apanhá-la e a encorajar outros a fazerem o mesmo para que esta situação chegue ao fim. Isto é um tormento, termos de viver e trabalhar de máscara todos os dias é horrível!”

De acordo com a U.S. News & World Report, o NYU Langone Hospital Long Island está entre os 10 de topo na região metropolitana de Nova Iorque; estabelecido em 1896, congrega hoje 591 camas e é ainda hospital universitário.