PROJECTO IBÉRIA. Conselho Municipal aprova nova lei que abre caminho à construção de ‘arranha-céus’ no Ironbound

Por ANGÉLICA PINTO | Newark, NJ

Uma nova lei local essencial para dar início ao projecto de reconstrução do antigo restaurante Ibéria, foi aprovada na mais recente reunião Conselho Municipal de Newark, que teve lugar na passada terça-feira, dia 5 de Setembro na Câmara Municipal – passa agora a ser quase o triplo o limite de altura estipulado para uma construção no Bairro Leste. 

Aprovada de forma unanime, a legislação permite que edifícios de 30 andares possam ser construídos em locais que anteriormente apenas permitiam construções de 12 pisos. Este é o caso especifico do Ibéria, que na sua área de 2.5 acres (equivalentes a 10.117m2) entre os números 31-39 da Jefferson St. e 450-466 da Market St., prevê a construção de duas torres de 26 andares e outras duas de 30. Estas incluirão 1.400 apartamentos, de diferentes tipologias e faixas de preço, assim como espaços para futuros locais de comércio.

Este continua a ser um assunto polémico, factos este comprovado nas reuniões comunitárias já realizadas, tendo a última ocorrido no passado dia 27 de Agosto, no salão nobre do Sport Club Português. Apesar dos envolvidos no projecto e de várias entidades – incluindo o vereador Michael Silva – tentarem mostrar o lado mais positivo de trazer um empreendimento de tal envergadura para o Ironbound, os residentes do bairro ainda se mostram pouco convencidos.

As supostas rendas acessíveis que poderiam nunca chegar a existir, os montantes pouco realistas para a maioria dos habitantes, ou até o facto de serem alterados para valores superiores já que o empreendimento irá demorar bastante tempo até ser concluído, foram várias vezes relembrados durante o decorrer do último encontro. No entanto, questões mais sérias foram também mencionada.

A sobrelotação do bairro foi uma delas. Este já enfrenta problemas com: as suas escolas, que ultrapassaram há muito o número limite de alunos por sala e até já utilizam salas de arrumos como espaços extra para serem leccionadas aulas; as dificuldade em responder a emergências devido ao número reduzido de bombeiros e polícias na zona; a falta de hospitais; e ainda os sérios problemas relacionados com o trânsito e estacionamento. 

Foram vários os residentes que frisaram o objectivo pouco realista de direccionar a compra destas unidades para pessoas que se encontram a residir em Nova Iorque, que utilizam diariamente transportes para se deslocarem para o seu trabalho, e que apenas possuem no máximo, um carro. A verdade é que muitos dos que saem da grande cidade procuram o estado de New Jersey, não só pela possibilidade de pagarem o mesmo valor e terem mais espaço, conforto e qualidade de vida , como também por terem a possibilidade de passarem a possuir um automóvel ou mais.

Os cerca de 450 lugares de estacionamento destinados a residentes do edifício, juntamente com os 150 gratuitos previstos para visitantes da zona comercial da Ferry Street, seriam facilmente ocupados pelos primeiros; ou, face à taxa alta que é por vezes anexada à renda para se ter direito ao lugar de estacionamento, muitos futuros compradores destes apartamentos poderiam recusar-se a paga-la e ocupar ainda mais as ruas do bairro, que já tem problemas crónicos de falta de lugares gratuitos para os seus actuais habitantes.

A possibilidade de incumprimento das promessas relacionadas com os postos de trabalho para trabalhadores locais, seja durante a construção do empreendimento, seja nas futuras lojas que este incluirá, levou à presença de lideres e membros sindicais assim como de organizações sem-fins lucrativos da comunidade. Ambos também se mostraram preocupados com a questão da segurança no local de trabalho. Foram questionados cenários de acidentes que poderiam levar ao interromper das obras, e ainda ao abandono de uma construção megalómana, destoada dos prédios que a rodeiam.

Questões mais ambientais também preocupam os residentes. Mais lixo produzido; linha de águas com décadas de existência que pode ser afectada com as construções; o que acontecerá em caso de inundações, que são cada vez mais comuns e severas na área; e o que será feito quanto ao cada vez mais recorrente desaparecimento dos locais às margens do rio, que estavam previstos albergar espaços abertos e verdes em vez de prédios.

Para além da mudança da legislação no que toca às propriedades do Ibéria, a portaria aprovada na passada terça-feira coloca as propriedades localizadas nos n.ºs 12-18 e 15-17 Jersey Street, para o uso comercial misto e revela que “serão adquiridas pela cidade como componente do Riverfront Park de Newark ” para uma promessa futura – já feita há décadas e novamente reassegura com o depoimento do vereador Michael Silva – de conclusão do mesmo.