RECORDAR É VIVER: Memórias do emigrante lisboeta Amador Reis

Há muito que tínhamos programado trazer às páginas do Luso-Americano as memórias de Amador Reis, que acedeu ao nosso pedido

Amador Almeida Reis, de seu nome completo, nasceu no dia 30 de Março de 1932 no Bairro da Liberdade, Campolide, Lisboa.

Filho de João dos Santos Reis e de Cristina Almeida Rosa, ambos naturais de Porto de Mós. 

A avó paterna Maria (Loira) Reis era natural da Serra de Santo António (Alcanena), e os outros avós eram originários de Porto de Mós.

Ainda de tenra idade, Amador foi morar para a vila da Amadora, onde se criou e frequentou a escola primária, fazendo o exame da quarta classe com doze anos de idade. 

Começou a trabalhar em 1942 apenas com dez anos de idade numa oficina de carpinteiro, a fazer meio dia de trabalho, ganhava dez tostões (um escudo, correspondente a quatro centavos americanos).

Depois da escola, começou a endireitar pregos. Naquele tempo, se um prego caía no chão apanhava-se, e se ficassem tortos endireitavam-se e eram usados de novo. A juntar a esta tarefa fazia limpeza da oficina e arrumava as ferramentas.

Em 1945, com treze anos, foi trabalhar para uma fábrica a Sotranco a fazer ampolas. De início ganhava seis escudos por dia e era membro do Sindicato Nacional do Pessoal da Indústria Vidreira. Aos 16 anos foi trabalhar com máquinas numa fábrica a Armalux que produzia malhas para fazer camisolas e outras peças de vestuário, ganhando 16 escudos por dia. Lá se manteve até aos 20 anos, quando recebia 20 escudos diários.

Em 1952 tornou-se funcionário numa fábrica de fazer cabos telefónicos, a C.A.T., onde se manteve até aos 26 anos. Recebia nesse tempo 55 escudos diários, o que era um bom salário. De notar que o doirar valia à volta de 23 escudos naquele tempo, e o escudo valia à volta de quatro centavos americanos.

Amador era membro da Sociedade Filarmónica Recreios Artísticos da Amadora, que tinha um grupo cénico de que fez parte. Realizava peças de teatro com exibições em diversas localidades da região, tendo actuado em duas sessões no Teatro Variedades, uma casa de espectáculos muito popular de Lisboa.

Em 1952, com a irmã Maria da Luz, foram padrinhos do baptismo da sobrinha Maria Cristina Ferreira Reis, filha do irmão Manuel.

Como todos os rapazes, gostava de jogar à bola. Fez parte da equipa de juniores do Club Futebol Benfica (Fofo), onde envergou a camisola número 3, como defesa esquerdo. Recebia como prémio 10 escudos por cada jogo. Teve a oportunidade de jogar contra o Sporting e o Benfica, nos próprios campo destes clubes.

Grande adepto do Benfica desde pequeno, viu o seu primeiro jogo um Benfica/Olhanense em 1943, tinha então 11 anos. Assistiu à inauguração do Estádio Nacional em 1944, com um jogo entre o Sporting e o Benfica (vitória da turma leonina por 3-2), tendo Peyroteo metido o primeiro golo. Viu jogar a inesquecível linha avançada do Sporting, os “cinco violinos”. Presenciou cinco finais da Taça de Portugal, com cinco vitórias do Benfica, sendo a vitória do Benfica sobre o Sporting, por 5-4, o melhor jogo que viu na sua vida, dado que os golos foram marcados com muita categoria. Viu a estreia de José Águas na equipa Nacional B. Portugal venceu a França por 3-0. Águas meteu os três golos de cabeça, Viu também a selecção Nacional empatar 1-1 com a Bélgica, ainda muitos mais jogos.

Decorria o ano de 1956 quando conheceu Maria Florinda Joaquim, quando ela estava de férias, vinda dos Estados Unidos. Florinda era natural de Sazes da Beira, Seia (Beira-Alta). Segundo ela dizia, tinha muito orgulho em ser da Serra da Estrela. Após dois anos de correspondência resolveram casar em Fátima, tendo como padrinhos o cunhado Luís Fernando Martins Coelho e a irmã Primavera Almeida (Reis) Coelho.

Numa sexta-feira, 19 de Dezembro de 1958, Amador, com 26 anos, deixa a sua família na Amadora, e imigra para os Estados Unidos para se juntar à sua esposa em Hartford, Connecticut. Embarcou em Lisboa pelas 9 horas da noite, num avião quadrimotor (Clipper) da Pan Ame-rican Airways com destino a Boston, via Santa Maria (Açores).

Amador e Florinda estiveram casados por 62 anos e tiveram três filhos (Paul Manuel Reis, Christine Marie (Reis) Pereira e Frederico Joaquim Reis) e dois netos (Justin Arthur Reis Santos e Danica Elisabeth Reis).

Viajaram até Portugal diversas vezes, percorreram os 50 estados da União Americana, passaram por cinco continentes e visitaram 25 países diferentes.

Assim terminamos esta biografia abreviada, onde Amador, com certa nostalgia, diz que a sua esposa Florinda faleceu no dia 4 de Junho de 2021 no Hartford Hospital. Tinha 85 anos, foi sepultada no Rose Hill Memorial Park, Rock Hill, CT.

Amador conta na presente data 89 anos de idade e mora em Rock Hill.

JORGE MONTEIRO

EAST HARTFORD

(Colaboração)