RESTAURANTE PORTUGUÊS MAIS ANTIGO DE LONG ISLAND RESISTE À PANDEMIA COM A AJUDA DA COMUNIDADE

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Na semana passada, a carrinha de entregas do restaurante ‘Lareira’ estacionou à entrada do NYU Langone Long Island (o antigo Winthrop), em Mineola, com refeições para alimentar duas dezenas de profissionais de saúde ligados à maternidade daquela unidade hospitalar. Foi o próprio Pedro Cardoso, o empresário de restauração co-proprietário do negócio de família, quem fez chegar o donativo – pago pela iniciativa @dine_li.

“Trata-se de um grupo nas redes sociais com mais de 25 mil membros de que nós fazemos parte que aceita donativos de gente anónima e que, de uma só vez, ajuda duas causas: os restaurantes e os profissionais de saúde”, explica Cardoso, 35, natural de Vila Nova de Famalicão. “O donativo serve para pagar as refeições e os restaurantes responsabilizam-se pela sua entrega aos respectivos beneficiários.”

Desde que a pandemia da COVID alterou as vidas de todos nós, o ‘Lareira’ também entregou refeições sociais à Ronald McDonald House em New Hyde Park, NY e ao St. Francis Hospital, em Roslyn; o restaurante, que aposta na culinária tradicional portuguesa, estendeu ainda a mão a várias causas comunitárias – sem alarido.

🌐O APOIO DA COMUNIDADE

“Tudo o que pudemos fazer nesse sentido só foi possível graças ao apoio da comunidade portuguesa, sem a qual certamente não estaríamos aqui hoje de portas abertas”, reconhece Pedro Cardoso, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO. “Foi graças a ela também que pudemos remunerar os nossos empregados, sabendo que cada um deles tem a seu cargo uma família. As pessoas ligavam-nos e diziam: têm aqui 200 dólares, façam alguma coisa para ajudar.”

Como muitos outros restaurantes, o ‘Lareira’ teve de encontrar o equilíbrio entre a sobrevivência e a solidariedade para enfrentar a COVID. Criado em 1982, é hoje o estabelecimento português do género há mais tempo em actividade contínua em Long Island (a nível do estado de Nova Iorque, só perde para o ‘Lavrador’, no vizinho bairro de Queens). Está presentemente nas mãos desta família famalicense (o Pedro e os pais, Camilo e Maria); “o meu pai trabalhou aqui como bartender desde 1996 e, por volta de 2011, teve a oportunidade de comprar parte da sociedade. Dois anos depois, entrei eu como sócio com vista a transformar o ‘Lareira’ no negócio de família que é agora.”

🌐A SEGUIR AS REGRAS COVID

A seguir as directrizes de Albany, está desde Julho de 2020 a 50% de capacidade; abre o bar às dez da manhã, só serve álcool às refeições e encerra às dez da noite. “Nós, que nunca tínhamos feito entregas ao domicílio, vimo-nos obrigados a aderir ao delivery e take-away e foi assim que fomos sobrevivendo. Acabámos por descobrir um nicho de mercado que hoje supera em mais de metade o nosso volume de negócio, uma vez que muita gente ainda tem receio de comer fora.”

O ‘Lareira’ encontrou outras formas de atrair clientela e ajudar a comunidade: instituiu descontos de 20% e refeições infantis grátis. “Ainda estão muitas pessoas sem emprego na comunidade portuguesa e a passar dificuldades e temos que pensar nelas.”

O jovem empresário de restauração acredita que poderia haver uma maior sensibilização por parte das autoridades: “Se nos deixassem vender bebidas alcoólicas sem comida e ter a cozinha aberta para além das dez da noite, seria uma grande ajuda para o sector.”

Antes de se juntar ao negócio de família, Pedro Cardoso fez carreira na banca e chegou mesmo a gerente de um balcão em Mineola.

🌐SOBREVIVÊNCIA E SOLIDARIEDADE

Sobre o apoio que tem recebido dos clientes portugueses, afirma: “Nunca disse obrigado tantas vezes na vida e volto aqui a dizê-lo. A comunidade deu-nos tanto apoio, entre Março e Julho do ano passado, sobretudo, quando isto começou, que nessa altura vendemos mais refeições do que nos dias de festa em tempos pré-COVID, com o movimento comparável à Páscoa, Dia da Mãe e Dia dos Namorados. Faziam encomendas como se fosse Natal todos os dias, tanto a comunidade lusa aqui de Mineola como os nossos clientes americanos dos arredores. Graças a isso pudemos estar sempre aqui de portas abertas e ainda ajudar as camadas mais vulneráveis da sociedade.”

A terminar, sublinha: “É em tempos de crise que a comunidade portuguesa mostra a sua coesão e os valores humanitários por que se rege. A COVID veio apenas demonstrar isso uma vez mais.”