SE A COVID PERMITIR, RANCHO FOLCLÓRICO MAIS ANTIGO DE NEW JERSEY EM ACTIVIDADE CONTÍNUA IRÁ COMEMORAR ESTE ANO 40.º ANIVERSÁRIO DE EXISTÊNCIA
🖋Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO
Quando António Cardoso emigrou aos 11 anos para os Estados Unidos, em 1971, já trazia no sangue a paixão pelo folclore. “Durante a minha infância em Arcos de Valdevez, onde nasci, era normal ir às festas com ranchos folclóricos”, conta o director do Rancho Folclórico ‘Sonhos de Portugal’, de Kearny, NJ, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO. “A minha terra é o coração do folclore e esse sentimento bate muito forte em mim, foi assim que fui criado.”
Hoje, aos 61 anos, quatro décadas da sua vida estão ligadas ao movimento folclórico e associativo no ‘Estado Jardim’, confundindo-se mesmo com o historial do ‘Sonhos de Portugal’, que dirige desde 1985 – quando o pai e fundador do mesmo, Agostinho Cardoso, lhe transmitiu essa responsabilidade.
🌐AS ORIGENS DO RANCHO
Agostinho da Rocha Cardoso emigrou de França para Harrison, NJ, em 1968, para trabalhar na área da panificação. Por volta de 1980, um grupo de pioneiros começa a ensaiar com o intuito de criar um grupo folclórico – o que se viria a materializar no ano seguinte, criando-se então o ‘Sonhos de Portugal’, agregado à Associação Cultural Portuguesa de Kearny (que entrava então no seu terceiro ano de actividade). O fundador viria a falecer em Agosto de 2019, deixando, contudo, este legado que teima em não esmorecer…
Se a situação de pandemia o permitir, o ‘Sonhos de Portugal’ irá comemorar a passagem de quatro década de actividade com uma festa a 6 de Novembro, no salão nobre do Sport Club Português, em Newark. “Trata-se na verdade de um marco na nossa história”, reconhece Cardoso. “Somos o rancho mais antigo em actividade contínua e ininterrupta em New Jersey; o rancho de Elizabeth é mais antigo, mas conheceu períodos de interregno.”
Foi por incentivo do pai que, em 1980, António Cardoso se juntou ao já extinto Rancho Folclórico ‘Lavradeiras do Minho’, como dançarino, onde só iria estar cerca de um ano, para depois aceitar integrar o grupo original do ‘Sonhos de Portugal’. Para além de si, no activo, desse grupo de pioneiros só resta Manuel Pereira, presidente do ‘Barcuense’.
Chegou a ter a mulher, Isabel, e os dois filhos no rancho; Cardoso dançou até aos 40 anos e daí em diante dedica-se unicamente ao cargo de director e a co-ensaiador da componente infantil do grupo.
🌐SAUDADES DO CONVÍVIO COMUNITÁRIO
Tal como todas outras formações do género, o ‘Sonhos de Portugal’ cessou as suas actuações no início de 2020. “A nossa última saída foi uma participação nas Rusgas do ‘Camponeses do Minho’, em Newark”, afirma António Cardoso. “É um interregno forçado para todos nós. Sentimos a falta não apenas de actuar e estar à frente do público, como do convívio e da proximidade da nossa cultura e tradições, dos nossos ensaios às sextas-feiras, das ‘Gaita Nights’…”.
Actualmente, o rancho de Kearny congrega cerca de 85 elementos, de infanto-juvenis a adultos, e tem o jovem luso-americano Anthony de Sousa como ensaiador principal.
🌐A IDA A PORTGAL: PONTO ALTO NO HISTORIAL DO RANCHO
A deslocação a Portugal, em 2016, com 9 actuações espalhadas pelo país, “é sem dúvida um dos nossos pontos altos – tal como as deslocações à Califórnia e Flórida.”
O rancho esteve em todos os estados norte-americanos onde existem comunidades lusas e já se exibiu ainda em Toronto e Montreal, no vizinho Canadá.
Vale também lembrar a actuação para o programa matinal ‘Good Day New York’, da Fox, há uns anos, em Manhattan, onde mostraram o folclore português perante 250 mil telespectadores.
António Cardoso diz acreditar na pujança da juventude luso-americana e no seu compromisso para com a continuidade das tradições lusas nos EUA. “Há cerca de dez anos, começou-se a notar um forte interesse da camada jovem pelo folclore. Foi realmente uma coisa fora de série, com dezenas senão centenas de miúdos a tocarem concertina, a organizarem noites de convívio entre membros de ranchos diferentes, todos com orgulho da cultura que transportam no sangue.”
Adianta Cardoso: “Temos de mostrar o que somos, mesmo quando estamos fora de Portugal, e creio que isso é transversal a todos os emigrantes.”