Se Cristóvão Colombo não era judeu havia pelo menos um na sua tripulação
No dia 3 de Agosto de 1492, apenas três dias após o prazo dado à comunidade judaica grande e vibrante da Espanha para se converter ao cristianismo ou sair do país para sempre, três navios – o Niña, Pinta e Santa Maria – zarpou do porto de Palos de la Frontera.
Dirigiam-se para os ricos mercados de especiarias na Ásia. Todos nós sabemos onde acabaram.
Muito tem sido escrito sobre a suposta identidade judaica “oculta” de Cristovão Colombo, líder da viagem. Mas, enquanto a teoria é plausível, não pode ser provada, e baseia-se apenas em evidências circunstanciais bastante tensas.
Contudo, uma ou mais pessoas da sua tripulação eram judeus que se converteram ao cristianismo pouco tempo antes do embarque.
Luis de Torres nasceu Yosef ben HaLevi HaIvri. Era intérprete da viagem e foi contratado pelo próprio Colombo. Torres falava Português, hebraico, árabe e aramaico, importante para estabelecer conversação com os judeus que iriam encontrar na corte do imperador chinês e com os comerciantes nos mercados do Oriente.
Depois de uma breve paragem nas Ilhas Canárias, prosseguiu a viagem para oeste. Chegaram finalmente uma pequena ilha no que é conhecido hoje como as Bahamas (ou as ilhas Turks e Caicos), apesar de que a ilha propriemente dito, permanece disputada. Navegaram junto à costa no dia 12 de Outubro e Colombo reivindicou a ilha para a Espanha, chamando~lhe San Salvador.
Pouco tempo depois, a viagem continuou em busca do continente, que acabaram por não encontrar. Em vez disso, desembarcaram na costa de Cuba no dia 28 de Outubro.
Poucos dias depois, a 2 de Novembro, Colombo enviou uma expedição de dois homens para o interior com o objectivo de explorar a ilha e fazer contacto com os habitantes nativos. Os dois homens eram o judeu Torres e o marinheiro Rodrigo de Jerez.
Acabaram por encontrar uma vila de nativos americanos, que os receberam de forma amigável e com grandes honras. Quando regressaram, quatro dias depois relataram ter fumado tabaco, tornando-se, assim, os primeiros ocidentais a participar neste vício.
O magnata da indústria automóvel Henry Ford disse muitas vezes que “Luis de Torres foi o primeiro homem a descobrir o uso de tabaco; estabeleceu-se em Cuba e pode ser considerado o pai do controle judaico do negócio do tabaco como existe ainda hoje. ”
A frota de Colombo regressou a Espanha mas Torres e outros 38 marinheiros ficaram em Cuba, num acordo que Colombo chamou de La Navidad. De Torres seria, porém, um maganata do tabaco.
Quando Colombo regressou em 27 de Novembro de 1493, encontrou a aldeia destruída e os seus habitantes mortos, incluindo Torres. A viúva de Torres ‘Catalina Sánchez recebeu uma quantia assinalável para a compensar pela sua perda mais de uma década mais tarde. A única sinagoga das Bahamas, com sede em Freeport, em 1972, foi chamada Torres, o primeiro judeu no Novo Mundo.
Assim, a vida do primeiro “judeu americano” foi curta e terminou de forma abrupta e violenta, mas ao longo das décadas seguintes, muitos judeus seguiriam os passos de Torres. Os primeiros foram Espanhóis e Portugueses “marranos”, recém-convertidos, que ajudaram a colonizar a América como uma oportunidade para escapar da perseguição da Inquisição espanhola – embora os tribunais da Inquisição tivessem sido abolidos no Novo Mundo na década de 1570.
Um grupo de judeus marranos fugindo da perseguição no Brasil em 1654 instalaram-se na colónia holandesa de Nova Amsterdão que mais tarde se chamou New York. Estes foram os primeiros judeus na América do Norte. Naquele mesmo ano, fundaram Congregação Shearith Israel, actualmente no Upper West Side.
Alguns anos mais tarde, em 1658, um grupo de judeus sefarditas estabeleceu-se em Newport, Rhode Island, e fundaram a congregação Jeshuat Israel. Em 1763 esta congregação inaugurou a Sinagoga Touro, a sinagoga mais antiga ainda de pé nos Estados Unidos. Em 1700, os judeus viviam em muitas das colónias da América do Norte, e sinagogas foram apareceram em todas as grandes cidades. Mas a comunidade judaica permaneceu pequena até a segunda metade do século 19, quando uma migração em massa do Império Russo levou centenas de milhares de judeus para a costa da América.