SUPERLIGA EUROPEIA: Competição nasceu e morreu quase no mesmo dia
A polémica Superliga europeia desmoronou-se em apenas 48 horas, com os adeptos, sobretudo os ingleses, a recuperarem momentaneamente a voz no futebol e a impulsionarem uma debandada entre os clubes fundadores do projecto, numa lista que continua a crescer.
Dois dias bastaram para a ascensão e a queda da Superliga europeia, irremediavelmente condenada ao fracasso após o ‘Brexit’ dos clubes ingleses, consumado na noite de terça-feira, com comunicados a conta gotas de Manchester City, Liverpool, Arsenal, Manchester United, Tottenham e Chelsea, um exemplo seguido na manhã seguinte por Atlético de Madrid e Inter de Milão.
As 48 horas mais frenéticas do futebol começaram com a ‘bomba’, lançada na noite de domingo, na véspera da divulgação do novo modelo da Liga dos Campeões: após horas de insistentes rumores, reforçados por um comunicado no qual a UEFA ameaçava excluir das competições nacionais e internacionais os clubes que participassem numa liga privada, assim como os seus jogadores, um comunicado de três páginas anunciava a criação da Superliga.
Doze clubes entre os mais ricos tinham criado uma competição exclusiva e elitista, num modelo quase fechado, que reuniria 15 membros-fundadores e cinco convidados a cada temporada.
Eram eles AC Milan, Inter de Milão e Juventus, da Liga italiana, Real Madrid, Atlético de Madrid e FC Barcelona, da Liga espanhola, e os ‘Big 6’ ingleses.
As reacções não se fizeram esperar de todos os quadrantes, do desporto à política, com todos, à excepção dos envolvidos, a condenarem o ‘capricho’ destes 12 clubes, comandados pelo presidente do Real Madrid, Florentino Pérez.
“A UEFA e o futebol estão unidos contra a proposta que vimos de alguns clubes na Europa que são movidos pela ganância. Toda a sociedade e os governos estão unidos contra estes planos cínicos, que são contra o que o futebol deve ser”, defendeu o presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, equivalendo a Superliga a “cuspir na cara de todos os que gostam de futebol” e apelidando de “cobras” movidas por “ganância, egoísmo e narcisismo” as equipas dissidentes.
Num verdadeiro clima de ‘guerra civil’, com ameaças de parte a parte – a exclusão dos jogadores desses 12 clubes das seleções nacionais era uma das ‘armas’ esgrimidas por UEFA e FIFA -, promessas de longas batalhas judiciais, quedas em bolsa e retiradas de patrocinadores, foram os adeptos ingleses os rostos mais visíveis da queda em desgraça do projecto: verdadeiros amantes do desporto-futebol, protestaram diante dos seus estádios, com os do Chelsea a serem os mais sonoros na reprovação do projecto.
Cientes de que sem o apoio dos adeptos a Superliga europeia estaria condenada ao fracasso desde o primeiro momento, os clubes ingleses recuaram, num ‘Brexit’ com pedidos de desculpa, nomeadamente de Arsenal e Liverpool.
Sem os representantes da Premier League, o projecto estava condenado, uma realidade reconhecida pelo presidente da Juventus, o polémico Andrea Agnelli, ao mesmo tempo que Atlético de Madrid e Inter de Milão também anunciavam a saída.
Sem formalizar um adeus definitivo, o AC Milan diz ter aberto a porta a um possível abandono do projecto.