Tiroteio numa escola primária na cidade de Uvalde, Texas, resulta em 21 pessoas mortas incluindo 19 crianças

O tiroteio em massa desta terça-feira numa escola primária do Texas foi pelo menos o 51º tiroteio letal só no contexto escolar nos EUA desde 2013

Salvador tinha apenas 18 anos quando decidiu entrar numa escola com uma pistola e uma arma semi-automática e tirou a vida a pelo menos 19 crianças e duas professoras, na escola primária Robb Elementary School, no Estado do Texas. Momentos antes, o jovem baleou a própria avó.

Quem era Salvador Ramos?

A identidade do jovem foi confirmada pelo governador do Estado do Texas, Greg Abbott, que classificou a acção de Salvador Ramos como “incompreensível”. “Ele [o atirador] disparou e matou, de forma horrível, incompreensível, 14 alunos e matou um professor”, disse o governador. Algumas horas mais tarde, foi confirmada a morte de outras quatro crianças.

Sabe-se que o jovem utilizou duas armas para levar a cabo o ataque na escola: uma pistola e uma arma semi-automática. O senador republicano do Texas Roland Gutierres disse também que o atirador comprou “armas de assalto” quando fez 18 anos. Segundo a CBS News, Salvador Ramos tinha um revólver, uma arma de assalto AR-15 e carregadores de alta capacidade no momento do ataque.

De acordo com Greg Abbott, Ramos acabou por ser morto durante uma troca de tiros com a polícia que foi chamada ao local. 

Salvador era “aluno da Escola Secundária de Uvalde e um cidadão americano”, esclareceu Abbot. 

Este foi o tiroteio mais mortal numa escola primária desde o de Sandy Hook, no Connecticut – em 2012 – que resultou em 28 mortos, 20 crianças e oito adultos, de acordo com a ONG Gun Safety.

Abbott revelou ainda que o jovem de 18 anos terá sido morto pelas forças policiais que responderam aos pedidos de socorro, mas o caso ainda está a ser investigado.

Sabe-se, no entanto, que o suspeito era residente em Uvalde, uma cidade que fica a cerca de 120 quilómetros da fronteira com o México e tem cerca de 16 mil habitantes. Porém, os motivos que levaram ao ataque ainda não são conhecidos. 

Alvo de bullying em criança

De acordo com o Washington Post, que cita um amigo de infância de Salvador Ramos, o jovem foi alvo de bullying quando era criança e isso tornou-o numa pessoa diferente.

“Perdi o meu amigo há vários anos. Ele era a pessoa mais querida, o miúdo mais tímido. Ele só precisava de sair da concha. Ele era uma pessoa como todos nós – era um bom amigo que sempre me fez feliz”, afirmou Stephen Garcia.

O jovem, que também cresceu em Uvalde, revela que os dois estudaram juntos, mas só se tornaram melhores amigos no oitavo ano. Segundo Garcia, a vida de Ramos na escola não foi fácil.

“Ele sofria de muito bullying, foi alvo de muitas pessoas. Nas redes sociais, nos jogos, em todo o lado”, revela, acrescentando que havia várias coisas que o tornavam um alvo, como uma foto de Ramos a usar um delineador preto, o que gerou uma série de comentários de que o jovem seria gay. 

Garcia conta ainda que começou a notar diferenças no amigo quando a família de Ramos mudou de cidade por causa do trabalho da mãe.

“Ele começou a ser uma pessoa diferente. Ele começou a ficar pior e pior e eu nem sei”, relembra, contando que o amigo deixou a escola, começou a vestir-se todo de preto, a usar botas militares, cabelo comprido, parecendo quase “um serial killer”.

Foi também nessa altura que Ramos cortou com Garcia, deixando de falar com o amigo. No entanto, há cerca de um ou dois meses, Garcia conseguiu ligar ao amigo, mas este despachou-o porque tinha de ir à caça com o tio.

Quando soube que o amigo era o autor do tiroteio, Garcia diz que ficou em choque porque “nunca” achou que ele “magoasse” alguém. 

Comportamento deteriorou-se nos últimos anos

Também Santos Valdez Jr. corrobora a tese de que Salvador Ramos foi alvo de “muito bullying no secundário” por parte dos outros estudantes e que, por causa disso, chegou a envolver-se em lutas com os colegas. 

Valdez, que era amigo de Ramos desde a escola primária, diz que o comportamento do jovem com quem costumava jogar “Fortnite” e “Call of Duty” se começou a deteriorar nos últimos anos, recordando o dia em que o amigo apareceu junto dele com cortes na cara dizendo que um gato o tinha arranhado.

“Depois disse-me a verdade, que tinha cortado a cara com facas uma e outra vez. Disse-lhe: ‘Tu és maluco, mano. Porque fizeste uma coisa dessas’?”, afirma, acrescentando que Ramos disse que o tinha feito por diversão. 

Santos Valdez Jr. contou ainda que, há cerca de um ano, Ramos publicou nas redes sociais várias fotos de armas automáticas que tinha “na sua lista de desejos”. Há quatro dias, voltou a publicar fotos de duas espingardas, desta vez com a legenda “as minhas armas”.

Segundo a investigação, as armas foram compradas em Março, pouco depois do 18.º aniversário. 

Salvador Ramos enviou fotografias da arma e de munições a um antigo colega de escola. “Mano, porque é que tens isto?”, perguntou-lhe o amigo. “Não te preocupes”, foi a resposta

Um antigo colega de turma de Salvador Ramos, o jovem que ontem abriu fogo numa escola primária do Texas, revelou que trocou mensagens com o atirador há quatro dias. O diálogo começou quando Ramos lhe enviou uma mensagem com fotografias de uma arma de fogo e de uma mochila com munições.

O amigo de Ramos, que pediu para não ser identificado, disse que os dois comunicavam cada vez menos, mas que continuavam de alguma forma “próximos”, e o antigo colega lhe enviava mensagens “aqui e ali”, e que por vezes jogavam Xbox.

A última troca de mensagens terá sido na sexta-feira passada. “Há quatro dias, ele envia-me uma fotografia da [arma automática] AR que usava … e uma mochila cheia de munições 5,56, provavelmente uns sete carregadores”.

“Eu estava tipo, ‘mano, porque é que tens isto?’ e ele estava tipo, ‘Não te preocupes com isso'”, contou o amigo, citado pela CNN Internacional.

O jovem atirador terá publicado na sua conta de Instagram uma fotografia de duas espingardas automáticas AR15. A conta, do utilizador “salv8dor_”, seria mesmo de Salvador Ramos, segundo vários antigos colegas de escola. 

Três dias antes do massacre desta terça-feira, a imagem das duas armas foi publicada nas “stories” deste utilizador da rede social. 

“Estou muito diferente agora”

Na mesma conversa por mensagens, Salvador Ramos contou ao amigo, que não o via há algum tempo: “Estou muito diferente agora. Não me reconhecerias”.

Segundo o antigo colega de liceu, o jovem que protagonizou o massacre na escola primária de Uvalde era vítima de bullying na escola secundária que frequentava, na mesma localidade. Salvador, de 18 anos, era “brutalmente intimidado” por colegas de escola e “bastante gozado”, fosse por causa da situação financeira débil da sua família, ou por causa do tipo de roupa que usava. “E por aí adiante…”

Segundo este amigo, Salvador já quase não ia à escola, e acabou por desistir das aulas por causa da intimidação sistemática de que era vítima.

O jovem trabalhava no restaurante de Uvalde da cadeia de fast-food Wendy’s. “Ele era do tipo calado, não falava muito. Realmente, não socializava com os outros empregados”, segundo o responsável pelo estabelecimento.