Trump foi mais combativo e Biden mais assertivo

Com um formato diferente, desenhado para impedir o caos que aconteceu no primeiro debate presidencial, o último encontro entre o candidato democrata Joe Biden e o presidente incumbente Donald Trump teve um tom mais sóbrio e tradicional, embora a substância tenha sido a mesma. Nas questões de saúde, economia, racismo e imigração, as respostas foram similares ao que se ouviu no passado, algumas vezes palavra por palavra.

Mas a discussão moderada pela jornalista da NBC News, Kristen Welker, também passou por alguns dos temas mais explosivos que estão a consumir o ciclo noticioso nos Estados Unidos. Foi aqui que os candidatos exacerbaram as suas características pessoais: Joe Biden procurou ser assertivo e Donald Trump arremessou os podres que o seu campo acredita ter descoberto sobre o oponente.

Embora tivesse sido expectável que o presidente insistisse mais nesta teoria, Trump procurou capitalizar nas alegações de corrupção envolvendo Joe Biden e o seu filho Hunter, que está no centro de uma série de notícias recentes sobre um alegado esquema ilícito para lucrar com a posição do pai quando foi vice-presidente.

No entanto, foi Biden quem iniciou a troca de galhardetes, quando mencionou que o advogado de Trump, Rudy Giuliani, estava a ser usado pela Rússia para espalhar desinformação. Giuliani foi a origem das histórias que alegadamente usam emails retirados do portátil de Hunter Biden e mostram indícios de corrupção.

“Nada foi antiético”, garantiu Biden, sobre os negócios do filho. “Não há nenhuma base” para as alegações, apontou.

A discussão iniciou-se porque Kristen Welker perguntou aos candidatos o que farão aos países que estão a interferir nas eleições, depois de um relatório do Director de Inteligência Nacional ter revelado que tanto Rússia como Irão estão a agir nesse sentido.

“Qualquer país que interfira vai pagar o preço se eu for eleito”, garantiu Joe Biden, questionando porque é que Trump não interpelou Vladimir Putin pelas acções da Rússia. O presidente contra-atacou dizendo que Joe Biden, ou a sua família, recebeu 3,5 milhões de dólares da Rússia e que “ninguém foi tão duro” com o país de Putin como ele.

“Nunca recebi um centavo de nenhuma fonte estrangeira em qualquer altura da minha vida”, contrariou Biden, aproveitando para se lançar ao ataque e mencionado a conta bancária secreta que o The New York Times diz que Donald Trump tem na China.

O presidente desvalorizou o assunto, atribuindo a conta aos seus interesses anteriores como homem de negócios, e mais uma vez prometeu que vai divulgar as suas declarações de impostos. Aqui, explicou que pagou “dezenas de milhões” de dólares mas que o fez em pré-pagamento, dando a entender que isso é que causou a impressão de que pagava pouco ou nada.

“Se estas coisas são verdade sobre a Rússia, Ucrânia, China e outros países, então ele é um político corrupto”, acusou Trump, no final do debate.

Apesar da seriedade das acusações, foi no histórico de Joe Biden que Donald Trump conseguiu os ataques mais bem sucedidos. O presidente lembrou que Biden, então senador, foi um dos responsáveis pela legislação que levou muitos jovens negros para a prisão nos anos noventa.

“Ele causou tanto mal à comunidade negra”, apontou Trump, frisando a diferença entre ambos. “Ninguém fez mais pela comunidade negra, com a possível excepção de Abraham Lincoln, do que eu.”

Biden pediu desculpa pelo papel que teve na legislação criminal. “Nos anos oitenta aprovámos uma lei sobre drogas, com o apoio de todos os senadores, que foi um erro”, disse o candidato. “Tenho tentado mudá-la desde então”, disse, afirmando que ninguém deve ser preso “por ter um problema de drogas ou álcool”, precisando ao invés disso de tratamento.

A interação foi importante porque uma das maiores bases de apoio de Joe Biden é a comunidade afro-americana, mas uma sondagem recente da UCLA Nationscape mostra que o apoio de jovens negros a Trump saltou de 10% para 21% nos últimos quatro anos.