Trump marca território no Partido Republicano

Silêncio do ex-presidente terminou com declaração de revolta contra liderança no Senado e aviso de que vai dar apoio à sua facção.

Segundos bastaram para três mil barras de dinamite demolirem o antigo hotel e casino Trump Plaza, em Atlantic City, na quarta-feira. Horas antes do fim de um edifício que personificou as bancarrotas do homem de negócios, Donald Trump dinamitou a ala conservadora do Partido Republicano, ao apelar para a deposição do líder no Senado, Mitch McConnell.

Ainda o julgamento político de Donald Trump estava a decorrer no Senado e já o ex-presidente e a sua equipa de conselheiros e assessores debatiam os próximos passos a dar. Pelo comunicado de terça-feira, vingou a ideia de declarar guerra a todos os republicanos que não mostraram suficiente lealdade.

“O Mitch é um golpista político austero, sombrio, e sem alegria, e se os senadores republicanos vão ficar com ele, não voltarão a ganhar”, prosseguiu, num texto que marca uma ruptura também na forma de comunicar, agora que está sem acesso às principais redes sociais.

Segundo o Politico, foi o assessor Jason Miller quem reescreveu, e limou os ataques pessoais, do texto ditado por Trump. Este responsabilizou McConnell pela perda do controlo do Senado e que foi graças à campanha de Trump que o representante pelo Kentucky foi eleito, como aliás outros sete senadores, além dos ganhos na Câmara dos Representantes.

A declaração de Trump, na sequência do voto que o ilibou, apesar de uma maioria de representantes e de senadores o ter condenado, é também uma prova de vida, ao estabelecer uma fronteira entre a facção trumpista e a ala conservadora. E não só: Trump declarou que vai prestar apoio a todos os candidatos às primárias de 2022 que estejam do seu lado.

Mitch McConnell, que não condenou o ex-presidente por incitamento à insurreição, censurou no entanto o seu comportamento, ao considerá-lo “responsável moral” pelos acontecimentos que desencadearam a invasão do Capitólio, e reafirmou o comportamento “inconsciente” de Trump num texto no Wall Street Journal, em que tenta explicar as razões do seu voto, mas não respondeu entretanto ao ataque. No entanto, em entrevista ao Politico, o senador de 78 anos antevia um conflito com Trump, ao dizer que se necessário iria envolver-se nas primárias em oposição a candidatos pró-Trump.

“Estão agora agarrados ao pescoço um do outro. Estou mais preocupado com 2022 do que alguma vez estive”, comentou o senador Lindsey Graham na Fox News.

Se Mitch McConnell não reagiu, o presidente nos Estados Unidos falou com enfado sobre o fim do silêncio do antecessor. “Estou farto de falar sobre Donald Trump, não quero falar mais sobre ele”, respondeu a uma questão num programa na CNN com perguntas dos telespectadores. “Durante quatro anos, tudo o que tem estado nas notícias é Trump. Nos próximos quatro anos quero ter a certeza de que todas as notícias são do povo norte-americano”, disse o presidente, que, noutro momento, se referiu ao ex-presidente como “o anterior indivíduo”.