Turismo em Portugal com falta de 45 mil trabalhadores em possível ano recorde

O turismo não dá sinais de fraqueza desde que a actividade desengatou no ano passado. Pelo contrário, nos primeiros cinco meses de 2023, o número de pessoas que visitaram o país cresceu, tanto em termos homólogos, como em relação a 2019 – até agora, o melhor ano de sempre ao nível da procura. Inclusive, os agentes turísticos mostram-se confiantes quanto a um novo recorde, ainda que o crescimento seja feito a braços com a escassez de mão-de-obra, que não só persiste, como tende a agudizar-se, estimando a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) que, ao momento, faltem 45 mil trabalhadores ao sector.

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), de Janeiro a Maio, os alojamentos turísticos em Portugal registaram 26,6 milhões de dormidas e 10,7 milhões de hóspedes. Feitas as contas, trata-se de uma subida respetiva de 24% e 26%, face ao ano passado, e de uma melhoria mútua de 15%, comparativamente com os primeiros cinco meses de 2019. Cristina Siza Vieira, presidente da AHP, recorda que, em 2022, o sector “já esteve completa- mente à pele” com a falta de trabalhadores, por os níveis se encontrarem tão próximos de 2019. “Este ano, que estamos a crescer mais, temos ainda mais dificuldade em responder a estas solicitações. Estamos com os quadros de pessoal muitíssimo esticados”, afirma.

Estatísticas daquele gabinete fazem saber também que as atividades da restauração e similares e do alojamento somavam quase 287 mil trabalhadores em 2022. Apesar de refletir um aumento de 17% face a 2021, quando comparado com 2019, ano em que se registou a maior empregabilidade, estamos perante uma perda de 34 mil postos (- 10,6%), dos quais 31 mil na restauração e similares e quase três mil no alojamento.

“A falta de trabalhadores assume-se como um dos problemas centrais para as nossas empresas, apesar de não ser o único. É uma realidade transversal a várias actividades económicas, mas tem uma especial incidência na atividade turística”, comenta a responsável. Os perfis mais difíceis de contratar continuam a ser empregados de mesa, cozinha, limpeza, receção e manutenção, revela Cristina Siza Vieira.

A sul, a Associação de Hotéis e Empreendimento Turísticos do Algarve não vislumbra “grande falta de recursos humanos” e Hélder Martins, presidente da entidade que representa o setor na região, diz mesmo que a situação “não é tão gritante”, tendo, inclusive, melhorando muito em relação ao ano passado. Ainda assim, aponta para alguma carência nas equipas de housekeeping, restauração e manutenção.