Uma família portuguesa na ‘Exit 0’ da Garden State Parkway de New Jersey
Quando, em 1968, António Maria Eusébio Gomes e Olívia de Jesus Pereira Organista uniram as suas vidas, estavam longe, muito longe, de imaginar que, um dia, iriam viver na América. Conheceram-se em Vila do Conde, de onde António é natural (Olívia nasceu em Matosinhos); ele mestre de pesca que dedicou muitos anos de trabalho à SNAB (Sociedade Nacional de Armadores de Bacalhau), ela dona-de-casa.
“Aprendi o ofício muito jovem, aos 13 anos”, conta António Gomes ao jornal LUSO-AMERICANO. “Aos 14 já atava e arranjava redes.”
Foi, contudo, em 1977 que embarcou a sério na pesca do bacalhau. “Andei por todo o mundo, percorri a costa canadiana, fui à Noruega e também andei na África do Sul”, diz. Foi precisamente como mestre de pesca, a bordo de um navio bacalhoeiro, que o encontro com o destino se deu, ou seja, a vinda para os Estados Unidos. “Numa noite, um barco de pesca americano pediu nos ajuda porque tinham partido as redes”, relembra António Gomes. “Nós também estávamos no mar e eu resolvi-lhes o problema. Quando o capitão do barco americano viu o trabalho que eu tinha feito, convidou-me a vir para a América.”
Após muitas peripécias, cinco anos e meio depois, em Janeiro de 1989, António, Olívia e dois filhos chegavam a Cape May, New Jersey, onde sempre viveram. Mas nem tudo foram rosas… Afinal, a vida do mar não é fácil – como bem explica Olívia. “Quando ele andava na pesca do bacalhau, eu sentia mais. Às vezes chegava a estar 5 meses em alto mar, mas agora é diferente, está no máximo dez dias na pesca e sente-se menos.”
A adaptação à nova vida em Cape May também passou por altos e baixos… “Chorei muitas lágrimas quando vim para aqui”, nota Olívia Gomes. “Sentia-me triste, não queria comer, estava mesmo mal… Às vezes o meu marido chegava do mar e eu estava agarrada aos meus filhos aos gritos, não queria estar cá, queria voltar para Portugal.”
Quando, finalmente, as finanças permitem uma ida à terra de origem, “fiquei toda contente. Só que, quando lá cheguei, percebi que já não queria viver em Portugal. A partir daí, descobri que gostava mesmo era de estar em Cape May. Enfim, é a vida de emigrante.”
Já está na América, como mestre de pesca, quando o destino prega nova partida a António – esta de todo agradável: numa “manobra negligente” de aproximação ao cais, um cabo apanha-lhe a perna e vai de emergência, de helicóptero, para um hospital na Pensilvânia. “Fiquei com uma prótese, mas podia ter sido pior, podia ter mor- rido”, diz António Gomes.
Consegue reorganizar a sua vida e, em 1997, compra um barco de pesca comercial, começando a actividade pesqueira por conta própria. O ‘Vila do Conde’ dedica-se à pesca da solha, lula, vieiras, “tenho autorização de pesca para quase todas as espécies.”
Percorre a costa toda de New Jersey e vai até Virgínia, negociando a mercadoria directamente com a doca de Cape May, que a distribui a à restauração e outros.
Os filhos, que, desde cedo, foram para o mar, seguiram a trajectória do pai – muito embora hoje só um se dedique à pesca, como capitão do ‘Vila do Conde’.
Sobre os portugueses em Cape May, dizem ser poucos – “casais a viver permanentemente aqui talvez uns 6, mas também há gente com casa de segunda habitação”, diz Olívia. “E nós, apesar de longe dos grandes centros como Newark, tentamos manter as tradições portuguesas em casa. Eu, por exemplo, só cozinho à portuguesa.”
Falam com especial carinho dos filhos- netos. “O rapaz já quer ir para o mar, mas preferimos que ele termine os estudos (está no liceu). A rapariga é mais nova. Enfim”, conclui Olívia Gomes, “veremos o que o destino nos traz.”