Venezuela acusa Reino Unido de provocação ao enviar navio de guerra para a Guiana
“Um navio de guerra em águas a delimitar? E o compromisso de boa vizinhança e de convivência pacífica? E o acordo de não ameaçar nem usar a força uns contra os outros em circunstância alguma?”, questionou no domingo o ministro da Defesa da Venezuela na sua conta da X [antigo Twitter].
Na mesma rede social, Vladimir Padrino López sublinhou que “continuamos atentos a estas pro- vocações que ameaçam a paz e a estabilidade das Caraíbas e da nossa América!”. A imprensa venezuelana divulgou, no sábado, uma notícia da BBC dando conta que o Reino Unido prepara o envio de um navio de guerra para a Guiana, num gesto de apoio à antiga colónia britânica. Segundo o diário venezuelano Últimas Notícias, o Ministério da Defesa do Reino Unido confirmou que o navio HMS Trent participará, depois do Natal, em exercícios militares conjuntos com a Guiana. “O HMS Trent visitará o nosso aliado regional e parceiro da Mancomunidade Guiana, no final deste mês, como parte de uma série de eventos na região durante o seu destacamento da Missão de Patrulha Atlântica”, explica o jornal citando declarações de um porta-voz do Ministério da Defesa do Reino Unido. O ministro de Relações Exteriores da Venezuela Yván Gil reagiu ao anúncio e acusou o Reino Unido de desestabilizar a região.
O anúncio tem lugar depois de a seguradora comercial Lloyd’s, de Londres, ter adicionado a Guiana à sua lista de zonas de navegação de risco. Em 14 de Dezembro a Guiana e a Venezuela chegaram a acordo para não usar a força para resolver o diferendo pelo Essequibo e usar o diálogo para reduzir as tensões bilaterais. O anúncio foi feito numa conferência de imprensa em que foi lido um comunicado sobre os acordos alcançados pelos Presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Irfaan Alí, durante um encontro em São Vicente e Granadinas. O acordo define que “a Guiana e a Venezuela, directa ou indirectamente, não se ameaçarão nem utilizarão a força, mutuamente, em nenhuma circunstância, incluindo as derivadas de qualquer diferendo entre ambos os Estados”, de acordo com o comunicado.
Os países “acordaram que qualquer litígio entre os dois Estados será resolvido em conformidade com o Direito Internacional, incluindo o Acordo de Genebra de 17 de Fevereiro de 1966”. A região de Essequibo, que aparece nos mapas venezuelanos como “zona em reclamação”, está sob mediação da ONU desde 1966, quando foi assinado o Acordo de Genebra. Com cerca de 160 mil quilómetros quadrados, Essequibo é rico em petróleo, representa mais de dois terços do território da Guiana e abriga cerca de um quinto de sua população, ou cerca de 125 mil pessoas. A reivindicação da Venezuela tornou-se mais premente desde que a ExxonMobil descobriu petróleo em Essequibo, em 2015, tendo a tensão aumentado desde então.
Para a Venezuela, o rio Essequibo devia ser a fronteira natural, como era em 1777, durante a época do império espanhol. A Guiana argumenta que a fronteira, que remonta à era colonial britânica, foi ratificada em 1899 por um tribunal arbitral em Paris.