Vítor das subidas

por Luis Pires

Conheci relativamente bem o Vítor Oliveira e convivi com ele inúmeras vezes. Era um homem de palavra fina na ponta da língua e educado.

O seu futebol era como ele. Honesto, sério, tal como as regras que quase ninguém cumpre. Falámos muitas vezes de coisas sérias e outras fúteis e adorava conversar sobre o que fosse com o Vítor. Ainda hoje não consigo imaginar como é que um homem tão calmo, sereno, bem com a vida, tombou sozinho por causa do coração. Não se enervava (aparentemente) e incutia em quem o ouvia a confiança dos campeões. A Paz estava sempre com ele e não há quem diga que alguma vez se excedeu, ofendeu ou tratou mal quem quer que fosse.

Mais ainda do que a morte de Maradona, que sempre foi exímio a rebentar com a sua saúde, ou de Reinaldo Teles, apanhado nas malhas impiedosas da Covid-19, encontrando-se em estado grave e ligado a um ventilador desde final de Outubro, choca-me a morte repentina do grande Vítor Oliveira, treinador que tanto deu ao futebol português, especialista na subida de equipas do segundo escalão para a Primeira Liga, e que passou por vários clubes. Há dias, foi fazer a sua caminhada matinal, sentiu-se mal e já nada houve a fazer. Tinha apenas 67 anos e deixa um vazio no futebol português que não mais será preenchido, pelas características únicas de um jogador-treinador que passou por duas dezenas de clubes e que ficará para a história como o Rei das Subidas. Respeito pelo percurso inigualável e paz à sua alma.

Foram alguns os nomes que perdemos nas últimas semanas ligadas ao futebol que este ano não é o mesmo de outros anos. Sem público, sem chama, sem clareza e sem alma. Tudo mudou e o Vítor rei das subidas, subiu ao céu e deixa saudades.