❝A TENDÊNCIA, AGORA, DE QUEM COMPRA CASA EM PALM COAST, É FICAR E NÃO USAR COMO SEGUNDA HABITAÇÃO❞

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Em 1983, depois de muitos anos de vivência em New Jersey, o emigrante ovarense António Amaral mudou-se de malas e bagagens para uma região da Flórida então pouco habitada. Hoje, década depois, Palm Coast é uma municipalidade em franco crescimento que o português conhece como as palmas das suas mãos e a quem muito deve o surgimento da mais próspera comunidade lusa no ‘Sunshine State’.

“Um ano depois de cá estar, em 1984, comecei a construir casas, já com a minha empresa criada – a Amaral Custom Homes”, conta António Amaral, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO. “Nos anos de 2002, 2003 e 2005, vivemos um período de grande crescimento e chegámos a fazer cerca de 200 casas por ano. Feitas as contas, até 2015, pusemos de pé 2562 moradias em Palm Coast e vendemos milhares de terrenos.”

Paulatinamente, o construtor começou a chegar às comunidades portuguesas do norte, através de agressivas campanhas de publicidade na imprensa portuguesa; não tardaria muito e os clientes lusos de New Jersey, Nova Iorque, Connecticut, Massachusetts, Rhode Island, Pensilvânia e até Califórnia eram uma realidade… “Há pessoas que me compraram terrenos há 30 anos e agora estão a fazer casa neles para se mudarem para a Flórida”, diz Amaral. “O fluxo de portugueses do norte a escolherem Palm Coast para viver é uma loucura! Ainda recentemente fui ao clube português jantar e nessa noite tinham sido servidas 141 refeições. Diria que 80% das pessoas que lá estavam eram recém-chegadas, eu nem as conhecia. Há pessoas constantemente a chegar dos estados nortenhos.”

🌐UMA CIDADE PORTUGUESA, COM CERTEZA

António Amaral vai mesmo mais longe e declara: “Isto é uma cidade portuguesa na Flórida. Entre emigrantes e descendentes, devemos constituir cerca de 12 mil moradores, ou pouco mais de 10% do total da população de Palm Coast.”

O emigrante de Válega, Ovar, continua ligado ao sector da construção, tanto por via dos investimentos que mantém no sector, como pela proximidade do filho, António Amaral Jr., ele próprio dono de uma empresa do ramo. “Um casa, hoje, em Palm Coast, em boas condições, pode custa de 250 mil dólares para cima; já na construção de um novo imóvel, poderemos estar a falar de 300 a 400 mil, muito embora tudo dependa do tamanho e de vários outras factores. Haverá casas antigas a custarem menos, mas provavelmente a necessitarem também de arranjos.”

O ritmo de construção na cidade também é frenético, nota Amaral. “Chegam-se a fazer 500 casas num mês, e isso está bem patente no número de alvarás (‘permits’) emitidos pela câmara. A tendência, agora, de quem compra casa aqui, é ficar e não usar como segunda habitação – como sucedia há anos. Vêm para ficar – vendem a casa no norte por 500 mil dólares, diríamos, compram aqui uma por 300 mil e ainda poupam dinheiro para os anos da velhice. É uma boa quantia de dinheiro extra a juntar à pensão e à reforma.”

🌐O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA

O ‘boom’ imobiliário é uma tendência nacional, sublinha. “Há muita gente também a vir da Califórnia, onde o nível de vida é muito elevado, para além dos problemas dos incêndios.”

Na sua óptica, são urgentes soluções federais para a falta da mão-de-obra. “O problema aqui é muito complicado: queremos pessoas para trabalhar e não conseguimos. A emigração estagnou e este país funciona com o fluxo de emigrantes; hoje, se quisesse fazer 200 casas por ano, como cheguei a fazer há décadas, certamente que não o conseguiria por falta de mão-de-obra. É uma questão que afecta desde o empreiteiro ao proprietário de um Burger King.”

António Amaral conta que, “já quando o meu pai veio para a América, em 1961, eram os emigrantes que trabalhavam em todos os ramos da construção, da carpintaria ao cimento e à colocação de telhas. Este país tem, primeiro, que legalizar os emigrantes que já cá estão, depois, arranjar mecanismos legais para manter o fluxo de mão-de-obra. É fundamental, porque a construção, sendo o grande motor da economia americana, acaba por afectar o crescimento do país.”

🌐PALM COAST CRESCE AO RITMO DO ESTADO

Voltando a Palm Coast, António Amaral lembra que, “quando me mudei para a Flórida, em 1983, o estado tinha próximo de 9 milhões de habitantes. Hoje tem cerca de 22. É claro que Palm Coast anda à mesma velocidade: em 2025 deveremos ter mais 150 mil pessoas a viver aqui.”

O empresário acredita que, “entre pequenas e grandes empresas, na área da construção civil, deverão existir de 30 a 40 negócios em mãos de portugueses. Há muita gente a trabalhar por conta própria.”