TRAGÉDIA NOS EUA: AUTOMÓVEL DESPISTA-SE E MATA PORTUGUESA, O MARIDO E FILHO MENOR EM SÃO FRANCISCO, CA

Uma família portuguesa foi vítima de um trágico atropelamento na cidade de São Francisco, na Califórnia, no sábado passado. O acidente provocou a morte a Matilde Ramos Pinto, produtora executiva de cinema de 38 anos, ao marido, Diego Cardoso Oliveira, de 40, e ao filho de ambos, de ano e meio de idade, enquanto um bebé de três meses está em situação crítica no hospital.

A portuguesa Mafalda Ramos Pinto, 38, vivia nos EUA desde 2022; no acidente em São Francisco, morreu ainda o marido e um dos filhos menores (um bebé de meses mantém-se em estado crítico no hospital)

Os falecimentos de pai e filho foram declarados no local do acidente, na intersecção das ruas Ulloa e Lenox Way, na zona de Mission District, depois de ambos terem sido projectados devido ao violento embate. Matilde Ramos Pinto ainda foi transportada para um hospital, acabando por não conseguir resistir aos ferimentos.

Os moradores do bairro de São Francisco onde se deu o trágico acidente fizeram jeans uma vigília pela família

O atropelamento ocorreu cerca do meio-dia, quando um automóvel que circulava em contramão a uma velocidade situada entre 80 e 110 quilómetros por hora, segundo testemunhas afirmaram à CBS, galgou o passeio, atravessou a paragem de autocarro onde a família se encontrava e acabou por embater contra a esquina de um edifício próximo onde funciona uma biblioteca.

Matilde Ramos Pinto era portuguesa e produtora cinematográfica; o marido, Diego Cardoso Oliveira, brasileiro e funcionário da Apple

O veículo da classe SUV era conduzido por uma mulher de 78 anos, identificada como Mary Fong Lau, que foi conduzida para um hospital com ferimentos ligeiros e detida pelas autoridades no dia seguinte, alvo das acusações de homicídio por negligência em cúmulo com o crime de condução perigosa, por condução em contramão e condução em velocidade excessiva.

Matilde Ramos Pinto e Diego Cardoso Oliveira, que faziam anos de casados, iam celebrar a data com uma visita ao jardim zoológico da cidade norte-americana, e nada faria antever um acidente com consequências tão graves, já que as condições do piso e de visibilidade eram boas.

Matilde Ramos Pinto queria ter sido actriz mas, mais tarde, descobriu a área da produção

Não se conhece, ainda, o motivo para o despiste, mas, segundo a CBS News, quem assistiu acredita que o acidente terá sido causado por um “episódio médico”. As autoridades ainda não confirmaram a tese, nem se a condutora seguia sob o efeito de álcool ou de estupefacientes ou se terá havido uma falha mecânica.

Na segunda-feira, os serviços camarários já tinham removido o que restava da paragem de autocarro e a comunidade improvisou um memorial com flores, peluches, brinquedos, fotografias e objectos pessoais da família – e vigílias. Activistas de segurança rodoviária para peões deixaram no local um carrinho de bebé pintado de branco e ainda três pares de sapatos, um por cada vítima.

Matilde Ramos Pinto saiu de Portugal aos 18 anos para estudar teatro em Londres. Mas, em vez de uma carreira de atriz, vingou na área da produção

Matilde Ramos Pinto saiu de Portugal aos 18 anos para estudar teatro em Londres. Mas, em vez de uma carreira de atriz, vingou na área da produção. “Estava a estudar teatro, queria ser actriz, mas não sabia onde estudar, não conhecia nenhuma actriz em quem me apoiar e não tenho a nacionalidade inglesa. Não fazia sentido competir com actrizes inglesas para papéis ingleses. Um dia escrevi uma carta ao Jeremy Zimmerman [director de casting do filme Comboio Noturno para Lisboa] a pedir para ele me contratar, (como se funcionasse assim), e ele convidou-me para trabalhar no escritório dele”, contou, em 2016, em entrevista ao Sapo Mag, a pretexto da estreia em Portugal de um filme britânico que ajudou a produzir (“Jardins Selvagens”).

Aos 21 anos, Matilde era assistente em sessões de ‘casting’ e começou a perceber como funciona a indústria. “Todas as semanas entravam produtores, eu ouvia o que eles diziam e ia aprendendo. Nunca imaginei que fosse trabalhar como produtora, acho que encontrei o meu papel no mundo do cinema. É uma indústria com muitas pessoas de talento, nomeadamente em Portugal, com quem eu gostaria um dia de trabalhar”, referiu na mesma entrevista.

A mudança para os Estados Unidos foi oficializada em março de 2022, quando assumiu o cargo de produtora-executiva da RSA, companhia de filmes publicitários e comerciais fundada pelos realizadores Tony e Ridley Scott. Um comunicado de imprensa assinalou o momento: “Estamos encantados em dar as boas-vindas a Matilde Ramos Pinto enquanto Produtora Executiva na filial americana da RSA Films. Antes, Matilde passou cinco anos no Reino Unido, onde foi representante de realizadores para a RSA e a Black Dog. Matilde traz uma perspectiva global à filial americana da RSA. Tê-la de volta é fantástico”, afirmou na época Luke Ricci, presidente da empresa, no comunicado.

O casal que agora faleceu no trágico acidente conheceu-se em Londres, onde Diego Cardoso Oliveira trabalhava como director criativo antes de atravessar o Atlântico, o que aconteceu em Janeiro de 2019, segundo consta no seu perfil de Linkedin. “Dieguinho”, como era conhecido no meio publicitário, “teve uma carreira incrível fora do Brasil, tendo trabalhado em agências como a AMV BBDO, Mother e BBH, todas em Londres. No Brasil, trabalhou em agências como AlmapBBDO, Africa e AgênciaClick”, lê-se na nota de falecimento publicada no site brasileiro Clube de Criação.