LABORERS LOCAL 472: HÁ 90 ANOS EM DEFESA DOS TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM 12 CONDADOS DE NEW JERSEY

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Da janela do seu gabinete, na Raymond Boulevard, Tony Oliveira, 65, vê passar as águas do Passaic, a linha de arranha-céus da baixa de Newark e, na outra margem do rio, o estádio de futebol dos New York Red Bulls. Mas, mais que a paisagem, é nas paredes do seu escritório que está espelhada a trajectória de 45 anos deste emigrante de Veiros, Estarreja, que, em 2010, se tornou no primeiro português presidente (‘business manager’) do conselho de administração do Heavy and General Construction Laborers Union, ou Local 472.

“Hoje temos cinco portugueses no ‘board’, uma representatividade que a nossa comunidade conquistou ao longo de décadas de muito trabalho e dedicação a este sindicato”, afirma, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Tony Oliveira no seu gabinete de trabalho

A sua contribuição para a modernização do sindicato, que este ano assinala o seu 90.º aniversário de existência, é meritória de registo. E, na tal parede do seu gabinete, estão as décadas de entrega ao lóbi pelos direitos dos trabalhadores da construção civil afiliados ao Local 472 – fotografias com todos os governadores de New Jersey (entre outras figuras políticas) dos últimos 40 anos. “Nesta posição, o envolvimento político é necessário, tal como o lóbi em Trenton para garantirmos os direitos dos nossos membros.”

O local 472, um dos braços do poderoso LIUNA (Laborers’ International Union of North America), foi e continua a ser uma força dominante “na evolução da comunidade portuguesa e do próprio Ironbound, um alicerce que ajudou a consolidar a classe média local”, afirma. “Ao chegarmos agora aos 90 anos, lembro-me da meia dúzia de pioneiros que, em 1922, fundaram o sindicato, erguendo-se pelos direitos laborais.”

🌐COMEÇOU DE PÁ E PICARETA NAS MÃOS…

Oliveira chegou à América em 1967, a bordo “de um avião da Alitália alugado pela TAP, via JFK”, conta. O Ironbound foi a sua primeira casa, “à beira do Parque dos Mosquitos. Trazia a 4.ª classe feita e fui directamente para a 6.ª, na Escola Oliver Street, sem falar uma palavra de inglês. Não foi nada fácil, a princípio…” Acaba o Liceu East Side em 1974 e arranja emprego numa fábrica de alarmes, enquanto frequentava o Essex County College com o curso de engenharia electrónica na mira. Em 1976 casa-se com a sua primeira esposa (falecida num acidente de viação), de quem tem 2 filhos, e é um cunhado, então delegado, no ano seguinte, quem lhe abre as portas ao Local 472. “Comecei como toda a gente, de pá e picareta nas mãos. Fui andando, estudando, aproveitando todas as oportunidades de formação que o sindicato me deu. O nosso lema é: quanto mais se sabe, mais se ganha.”

Em 1994, chega a delegado, o primeiro cargo dentro da estrutura sindical. Depois auditor, membro do ‘board’, vice-presidente, presidente e, finalmente, ‘business manager’.

Com o governador do estado de New Jersey, Phil Murphy

🌐O PESO DOS PORTUGUESES NO LOCAL 472

A influência lusa no Local 472 continua forte, com 5 portugueses no ‘board’ e “perto de 50% dos membros”, refere Oliveira. “Com cerca de 7 mil membros, dos quais 15% a 20% são mulheres, somos um dos maiores sindicatos de construção da América do Norte.”

Negoceiam contratos de trabalho de 3 em 3 anos com perto de 600 empreiteiros do sector, em 12 condados de New Jersey, garantindo ordenados, regalias, seguros de saúde, etc..

Com fundo de pensões na ordem dos 1,4 mil milhões de dólares, tem igualmente encargos de 12 milhões ao mês com seguros de saúde para membros e familiares. “Grande parte do meu trabalho é a lidar com advogados, contabilistas e gestores financeiros”, diz Tony Oliveira.

Com 45 anos de vida sindical, o dirigente diz que espera, um dia, poder passar dois meses por ano – quando reformado – na terra de origem, na casa que foi dos pais. Para já, planeia atravessar o Atlântico em Julho, de férias, com a esposa Adelaide e o resto da familia. É que, afinal, da janela do seu gabinete na Raymond Boulevard, nunca se deixou de ver, lá longe, no horizonte, a Estarreja que o viu nascer.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Tony Oliveira nas instalações do Laborers Local 472

🌐‘MAYOR’ ALBERTO SANTOS, DE KEARNY:

“O Tony Oliveira tem feito um trabalho exemplar à frente do Local 472”

A missão em prol da defesa e dos direitos dos operários da construção levada a cabo pelo Local 472, não passa despercebida ao ‘mayor’ da vizinha municipalidade de Kearny, o também português Alberto Santos. “Para muitos emigrantes portugueses que se estabeleceram em Newark, como o meu pai e os meus tios, foi a ligação ao local 472 que garantiu um salário e direitos dignos, com os quais sustentaram as suas famílias”, diz o presidente da câmara, falando a este jornal. “O Tony Oliveira tem feito um trabalho exemplar à frente do Local 472; mesmo em períodos difíceis, como o da recessão de 2008 e com a actual pandemia, sempre lutou para que não faltasse trabalho aos seus membros sindicalizados e o bem-estar às suas famílias.”

O ‘mayor’ Santos nota já conhecer o ‘business manager’ “há muitos anos, aliás, os nossos pais trabalharam juntos para o Local 472, nas décadas de 1970/80. O Tony é residente de longa data em Kearny e um elemento incrivelmente dedicado tanto à família como à comunidade. Agradeço pessoalmente ao Tony Oliveira pela sua liderança.”