ABANDONADOS

🖋 Por LUIS PIRES

Acreditem porque é verdade.
Há doentes em Portugal que, uma vez tratados
nos hospitais já não precisam de ali estar e é processada a alta. Ainda assim, permanecem dias, semanas e até meses numa cama de hospital, porque a família não os recebe e porque não há uma solução social para os acolher. São sobretudo idosos os doentes nestas condições.

Só o Hospital Fernando da Fonseca (Amadora- Sintra) há actualmente “36 utentes, sobretudo idosos, com alta clínica, que aguardam maioritariamen- te resposta da Segurança Social, para integração em lares”.

O hospital encontrou uma solução alternativa: prefere suportar os custos de camas de retaguarda em lares que possam receber estes utentes a mantê- los a ocupar camas hospitalares e sujeitos a todos os inconvenientes de um internamento hospitalar. Assim, dos 36 doentes com alta social, 26 estão nestas camas de retaguarda e 10 permanecem no hospital.

Situações de abandono, na verdadeira acessão da palavra, “são apenas uma pequena fatia do bolo”. A maioria diz mesmo respeito a casos em que os familiares não têm uma solução para dar continuidade aos cuidados de saúde que o idoso necessita, não têm condições para os receber e nem conseguem uma solução de recurso junto de lares ou outras instituições. Outros, são médicos, advogados, gestores que deixaram de querer saber dos pais. Têm vergonha da velhice e dos cuidados que lhes têm de dar. Já não servem para nada. O amor de pai ou de mãe deixou de existir quando estes labregos começaram a ser alguém na vida. Tudo à conta das famílias que agora os desprezam. Um dia a história irá repetir-se.