APESAR DE GRÁVIDA, ENFERMEIRA LUSO-AMERICAVA LEVA CUIDADOS DE SAÚDE AO DOMICÍLIO

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Após 19 anos ao serviço do Roger Williams Medical Center de Providence, estado de Rhode Island – afecta primeiro a  uma unidade de cuidados intensivos e no final à administração na área de enfermagem, a luso-descendente de primeira geração Suzette Vieira Sousa está agora ligada à ‘Revitalized Infusion Services’ [https://revitalizedllc.com].

A empresa, sediada em North Kingston, é uma espécie de cooperativa de profissionais de enfermagem que tem como missão inovar a terapia de infusão domiciliária, fornecendo serviços de alta qualidade e rentáveis através do recurso a enfermeiros qualificados.

“O nosso objectivo é dar independência aos pacientes, garantir um ambiente seguro, privado e confortável, e diminuir a necessidade de se deslocarem a um hospital ou a uma clínica para a sua terapia de infusão”, explica Suzette Vieira Sousa, em entrevista ao jornal LUSO-AMERICANO.

A enfermeira nasceu em Rhode Island, filha de imigrantes portugueses; o pai é natural de São Mateus da Calheta, ilha Terceira, e a mãe de Vila do Porto, Santa Maria (ambos açorianos). “Enquanto trabalharam em fábricas aqui nos Estados Unidos, conseguiram fazer com que tanto eu como a minha irmã – também enfermeira – frequentássemos escolas católicas”, conta. “Como em nossa casa só se falava português, eu via os programas da PBS para aprender inglês. Fui a primeira pessoas na nossa família imediata a ir para a universidade e desde sempre que me lembro de querer ser enfermeira (a minha avó comprava-me kits de brinquedos de enfermagem para eu me divertir”).

❝FUI A PRIMEIRA PESSOA DA MINHA FAMÍLIA IMEDIATA A IR PRA A UNIVERSIDDE E DESDE SEMPRE QUE ME LEMBRO DE QUERER SER ENFERMEIRA❞

➔Suzette Vieira Sousa, enfermeira

Depois de ter graduado como aluna de quadro de honra pelo Liceu de West Warwick, no ‘Estado Oceano’, ingressou na University of Rhode Island, onde obteve o bacharelato em enfermagem (também com distinção) – fazendo ainda um ‘minor’ em francês.

“Actualmente sou especialista em enfermagem de infusão doméstica e vou a casa de pessoas, insiro linhas intravenosas e administro diferentes terapias imuno-supressivas, incluindo transfusões IV de imunoglobulina”, descreve. “A experiência de levar os cuidados de saúde ao domicílio é uma abordagem inovadora e confortável, à semelhança dos velhos tempos em que os médicos iam a casa. Receber uma infusão em casa é uma grande vitória para os pacientes, uma vez que lhes poupa tempo e dinheiro e possibilita aos enfermeiros um meio de cuidar de clientes fora de um hospital tradicional ou clínica”.

A terapia de infusão domiciliária, para quem combate a COVID, “é uma bênção tremenda, especialmente para as pessoas com o sistema imunológico em baixo que correm o risco de ficar doentes à medida que entram num hospital ou clínica para receber uma medicação. Não temos mãos a medir, agora mais do que nunca… os médicos querem os seus doentes com problemas de imunidade em casa, os pacientes querem estar seguros e, bem, eu continuo a trabalhar!”.

❝A TERAPIA DE INFUSÃO DOMICILIÁRIA É UMA BÊNÇÃO TREMNENDA, ESPECIALMENTE PARA AS PESSOAS COM O SISTEMA IMUNOLÓGICO EM BAIXO❞

➔Suzette Vieira Sousa, enfermeira

Com uma gravidez que irá até meados de 2021, Suzette Vieira Sousa reconhece que a situação inspira cuidados. “Estou agora a tentar manter outra vida segura dentro de mim, plenamente confiante de que as precauções que tomo por mim e pelos meus pacientes vão traduzir-se numa gravidez estável. Com a ajuda do conhecimento que temos de modalidades de transmissão viral, sinto que tanto o bebé como os meus pacientes estão em boas mãos”.

Com a COVID a entrar num segundo pico, a enfermeira pede a todos que sigam as medidas de saúde pública emanadas das autoridades. “Levem a pandemia a sério e nunca é má ideia ser demasiado cauteloso”, afirma Sousa. “Pelo que sabemos, este vírus ataca as pessoas e manifesta-se de formas diferentes – eu própria pude constatar isso enquanto trabalhei no hospital. Vi unidades de cuidados intensivos repletas de doentes e sem espaço, familiares a despedirem-se no FaceTime pela última vez, lágrimas a serem derramadas tanto por pacientes, como por funcionários. Foi verdadeiramente cansativo ver tudo isto, do ponto de vista mental e físico, mas vale tudo a pena se conseguirmos salvar nem que seja uma vida”.

❝A MAIOR LIÇÃO QUE APRENDI COM O CORONAVÍRUS, FOI A TER HUMILDADE❞

➔Suzette Vieira Sousa, enfermeira

A enfermeira também apela ao uso da máscara, lembrando que não o fazemos apenas por nós, mas pelos outros. “Estamos todos juntos nisto e podemos fazer a diferença se tentarmos”, lembra. “A maior lição que aprendi com o coronavírus, foi a ter humildade… A humildade de saber que estar com os nossos é o que conta. Humildade de desfrutar das pequenas coisas da vida, que existiam já antes da COVID mas que o nosso ritmo acelerado nos impedia de ver”.