Bruno Baltazar dá cartas no futebol dos EUA
Natural de Lisboa, o treinador de 44 anos, filho e neto de jogadores profissionais de futebol, Bruno Baltazar cresceu com uma bola nos pés e sonhos no coração.
O actual treinador principal dos Rochester New York FC (equipa que compete na MLS Next Pro) teve uma carreira como jogador profissional, passando por clubes como o Sintrense, Real de Massamá, Fátima, entre outros. A sua paixão pelo desporto não esmoreceu com o tempo e, após o seu último ano como jogador, decidiu enveredar por uma carreira de treinador. Hoje em dia, reconhece que as suas vivências enquanto jogador lhe dão mais sabedoria para lidar com os jogadores, nomeadamente a nível emocional e na gestão de expectativas.
O seu percurso como treinador, iniciado em 2011, conta já com muitas experiências, algumas delas internacionais. Além de ter assumido os comandos da equipa principal do Sintrense, Casa Pia e Estoril, onde teve resultados muito positivos passou também pelo Chipre, onde orientou o AEL Limassol e o Apoel FC, equipa pela qual se sagrou campeão, entrando assim num lote muito restrito de treinadores portugueses que conseguiram ser campeões nos campeonatos europeus (fora de Portugal). Ainda no Chipre, somou 14 jogos na Liga Europa, permitindo-lhe, neste momento, ter já um estatuto de treinador com experiência em competições europeias.
O último projecto por onde passou, antes de rumar a terras do tio Sam, foi como treinador adjundo na equipa inglesa do Nottingham Forest FC. Clube de renome da história do futebol inglês e europeu que atuava na segunda divisão inglesa (campeão nacional, em 1978 e vencedor da antiga taça dos campeões europeus em 1979 e 1980).
Após a passagem enriquecedora em Inglaterra, Bruno Baltazar teve várias propostas atractivas em campeonatos europeus, mas optou por definir outros objectivos. Primeiramente, voltar a ser treinador principal. Em segundo lugar, poder escolher um projecto desafiante, que lhe permitisse provar as suas capacidades e competência.
O Rochester New York FC é um nome recente, derivado do antigo clube Rochester Rhinos, cuja história é prestigiante. Tornou-se a única equipa não pertencente à Major League Soccer a conseguir vencer uma US Open Cup, em 1999.
No início de 2021, o clube foi restruturado e retomou actividade após um interregno que durava desde 2017, revitalizando a sua imagem, as suas ambições e os seus parceiros.
Em Junho do mesmo ano, o clube anunciou, surpreendentemente, a entrada de Jamie Vardy como Co-Owner. O prestigiado avançado internacional inglês, que actua no Leicester City FC da Premier League inglesa (vencedor da competição , em 2016).
Com a entrada de Jamie Vardy, o Rochester NY FC ganhou um novo folgo e preparou a corrente temporada com a presença do internacional inglês.
A direcção do clube demonstrou interesse na contratação de Bruno Baltazar e ao ser abordado para para se juntar a este novo projecto, o treinador português considerou que seria o desafio ideal para dar continuidade à sua carreira.
O envolvimento de Jamie Vardy e da sua equipa foram muito importantes para tomar esta decisão, pois garantiam muita experiência e conhecimentos da indústria, quer empresariais quer desportivos, dando seguranças de que seria um projecto sério, com boas condições de trabalho e com ambições e capacidade de vencer.
Sentido-se à vontade com a língua inglesa e já conhecendo os EUA, Bruno Baltazar identificou como uma das maiores adversidades, a criação de um plantel a partir do zero. Foram contratados 23 novos jogadores, o que implicou muitas horas de pesquisa e avaliação. Um aspecto onde salienta, que “o carácter e a mentalidade se sobrepõem ao talento e às capacidades técnicas e tácticas do jogador. Algo que em muito ultrapassa as horas de observação em vídeo.” Assim, tornou-se necessário angariar várias informações de outros profissionais que tivessem trabalhado com os jogadores, bem como uma apreciação presencial, feita de forma célere, pois o tempo de pré-época é, por natureza, curto. No lote de jogadores selecionados, estão presentes dois jovens com nacionalidade portuguesa. Paulo Soares e Bubacar Djaló (que passou pela formação do Sporting).
Na primavera, Bruno Baltazar chegou à cidade de Rochester, NY repleto de entusiasmo, juntamente com o seu treinador adjunto Guilherme Ramos, para conhecer as instalações e os intervenientes pessoalmente, e também poder começar a orientar os treinos.
Após um início menos positivo, o Rochester FC conseguiu entrar numa onda de vitórias, tendo Maio sido um mês perfeito para o campeonato, arrecadando quatro vitórias. Tal feito permitiu à equipa e a Bruno Baltazar receberem da liga os prémios “equipa e treinador do mês”, respectivamente. O clube conseguiu chegar às posições de acesso aos ‘play-offs’, onde ainda se encontra.
Com dez jogos por disputar, tem como objectivo apurar-se para os ‘play-offs’ e disputar o primeiro título na história da competição.
Com a excepção do Rochester FC, todas as outras equipas são secundárias, o que Bruno Baltazar reconhece como uma vantagem, por um lado, pois sabe sempre com quantos jogadores conta para jogar, enquanto os outros treinadores estão dependentes das escolhas das equipas principais.
Todavia, essa presença dos jogadores nas equipas principais permite-lhes evoluir mais rapidamente. Outro factor desfavorável, é o facto do clube não ter instalações desportivas próprias.
Quanto à MLS Next Pro, é uma liga de futebol profissional que foi criada no ano corrente e assume o estatuto de segundo escalão nos EUA. Esta nova liga é um passo importante no desenvolvimento da modalidade neste país, cuja missão é desenvolver jovens jogadores, treinadores, árbitros e empresários desportivos, bem como continuar a promover o desporto mais popular a nível mundial.
Bruno Baltazar confidênciou ao jornal Luso-Americano a sua surpresa face à qualidade da liga, elogiando a forma como todas as equipas “contêm ideias de jogo muito bem definidas, tentando fazer um jogo positivo, com muita qualidade técnico-táctica”, aliada à excelente forma física já tradicional nos desportos americanos.
O treinador afirma que “os EUA serão uma potência muito forte no futebol mundial a médio-longo prazo. Neste momento, já há vários jogadores de qualidade que fizeram a transição da MLS para as principais equipas europeias, o que comprova a evolução da modalidade nos EUA”.
A nível individual, o treinador considera-se ambicioso e, como tal, deseja continuar a subir patamares na carreira, nomeadamente, cumprir os objectivos do Rochester FC e, eventualmente no futuro, orientar uma equipa da MLS.
Não escondeu também, o orgulho imenso que sente em representar a comunidade e os treinadores portugueses, que têm muita qualidade, e espera poder abrir portas, para que mais possam vir representar clubes americanos.