China considera Biden irresponsável por voltar a chamar ‘ditador’ a Xi Jinping

No final de uma reunião entre ambos, na Califórnia, Joe Biden disse que os dois líderes concordaram em “manter abertas as linhas de comunicação”.

Admitiu ainda que as negociações com o homólogo chinês foram das “discussões mais construtivas e produtivas” que alguma vez tiveram.

Contudo, apesar da aparente evolução da relação entre ambos, após a reunião de mais de quatro horas, Biden continuou a considerar o homólogo chinês “um ditador”, quando questionado no final da conferência de imprensa.

“Ele é um ditador no sentido de que é um homem que lidera um país que é comunista”, disse Biden, acrescentado que o Governo chinês “é totalmente diferente” do norte-americano.

Numa angariação de fundos para a campanha para as eleições de 2024, em Junho passado, Biden chamou pela primeira vez Xi de “ditador”, o que causou agitação no gigante asiático.

Entretanto a China já classificou como irresponsáveis as declarações feitas. “Esta declaração é extremamente errada e um acto político irresponsável. A China opõe- se firmemente”, disse a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning.
“É preciso notar que há sempre pessoas com segundas intenções que tentam instigar e minar as relações entre a China e os EUA”, acrescentou, completando que as mesmas não terão sucesso.

Na reunião de quarta- feira, à margem do fórum da Cooperação Económica Ásia-Pacífico, os dois líderes concordaram em trabalhar em conjunto para reduzir a produção ilícita de fentanil, retomar as comunicações militares, iniciar um diálogo intergovernamental sobre inteligência artificial e acrescentar voos directos entre os dois países.

Sobre a polémica questão de Taiwan, uma fonte de tensão entre Washington e Pequim, Biden disse que deixou “claro não esperar qualquer interferência” nas próximas eleições presidenciais de Taiwan, agendadas para Janeiro.

“Reiterei o que disse desde que me tornei Presidente, e que todos os Presidentes anteriores disseram recentemente: mantemos um acordo de que existe uma política de ‘Uma China’”, disse Biden, acrescentando que “isso não vai mudar”.

De acordo com a Casa Branca, o Presidente também aproveitou para levantar preocupações sobre os “abusos dos direitos humanos” da China em Xinjiang, Tibete e Hong Kong.

Os dois líderes dividiram o tempo que passaram juntos entre uma reunião, um almoço de trabalho e uma curta caminhada, numa propriedade rural nos arredores de São Francisco.

Na conferência de imprensa. Joe Biden abordou ainda o conflito entra Israel e o Hamas, acusando o grupo islamista de cometer um “crime de guerra” ao operar o que os Estados Unidos e Israel afirmam ser um centro de comando no hospital Al-Shifa, em Gaza. O Presidente norte-americano disse que discutiu a situação perigosa no hospital, o maior de Gaza, durante a reunião com Xi Jinping.

O Presidente chinês apelou para a construção de “mais pontes” com os Estados Unidos evitando “erguer barreiras” no que toca à interação dos dois países.

Xi Jinping considerou que Washington não devia ver a China como principal concorrente e garantiu que o país está pronto para ser um “parceiro e amigo” dos EUA, com base nos princípios fundamentais do “respeito, coexistência pacífica e cooperação para benefício mútuo”.

Todas estas declarações do Presidente chinês foram feitas durante um jantar, em São Francisco, onde estiveram presentes magnatas e presidentes executivos como Elon Musk (Tesla e SpaceX), Tim Cook (Apple), Satya Nadella (Microsoft), entre outros.

O evento contou ainda com a presença da secretária do Comércio dos EUA, Gina Raimundo e o embaixador dos EUA na China, Nicholas Burns.

Alguns políticos Republicanos criticaram a reunião por branquear a imagem da potência asiática que, de acordo com o congressista Mike Gallagher, é responsável por um “genocídio contra milhões de homens, mulheres e crianças inocentes em Xinjiang”, região do noroeste da China onde vive a minoria étnica de origem muçulmana uigur.

A China está a tentar reanimar a economia, que tem recuperado mais lentamente do que o previsto depois de três anos de pandemia.

A visita de Xi Jinping aos EUA surgiu também numa altura em que as empresas norte-americanas e ocidentais estão a tentar reduzir o risco nas cadeias de abastecimento, transferindo algumas das operações para fora do território chinês ou impondo restrições às exportações para a China, como é o caso dos Estados Unidos.