Cuba igual

por Luis Pires

Cuba terá pela primeira vez desde a revolução uma cúpula do poder formalmente sem o sobrenome Castro. Raúl deixou a presidência em 2016, mas no comando do Partido Comunista ainda dava as directrizes seguidas pela presidência.

Durante o 8.º Congresso do Partido Comunista, Raúl deu lugar a uma nova geração. “O congresso dita as direc- trizes do partido e, portanto, do governo cubano. O partido é uma instância maior que o governo”.

Raúl anunciou a saída do comando do partido logo na abertura do congresso e pediu um diálogo respeitoso com os EUA, após quatro anos de turbulência com o ex-presidente Donald Trump. “Ractifico a vontade de edificar um novo tipo de relação com os EUA, sem renunciar aos princípios da revolução e do socialismo”, disse.

O impacto prático do fim da era Castro ainda é uma incógnita. O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, de 60 anos, costuma dizer que faz um governo de continuidade e essa foi a propaganda do congresso espalhada em cartazes por Havana.

A diminuição no número de cubanos que participaram da revolução pode começar a mudar as características do governo, que já vê uma rotatividade nas linhas de poder. “A saída tem uma força simbólica, porque Raúl é um dos raros heróis de Sierra Maestra. A revolução tem mais de 60 anos. Acho que nenhum líder no mundo sobreviveu tanto quanto os irmãos Castro. Além de Raúl, outros nomes importantes da geração que fez a revolução de 1959 devem se aposentar, entre eles o número dois do partido, José Ramón Machado Ventura, de 90 anos, e o comandante Ramiro Valdés, de 88 anos. No entanto, é cedo para falar de mudanças de directrizes. Cuba vive a sua pior crise económica em 30 anos, mas nada vai mudar.